segunda-feira, 29 de março de 2010
Programa de mulherzinha (pra depois do susto).
Há uns dias tive um grande susto com relação a minha saúde. Graças a Deus não foi nada grave, porém, só o sobressalto de ficar dois dias num hospital, sem que algum médico conseguisse chegar a um diagnóstico decente, foi realmente aterrador.
No dia 12 de março, em plena sexta-feira, comecei a ter uma dor de cabeça que não passava com nenhum dos remédios que estou acostumada a tomar. No sábado acordei sem dor, porém, bem indisposta. Pra ajudar a empregada deu o cano e eu tive que "abraçar" a causa e partir pra faxina geral. No domingo acordei péssima, pesada, com uma dor de cabeça insuportável. Tive dois princípios de desmaio e quando percebi que não tinha forças nem pra escovar os dentes, fiquei quietinha, deitada na minha cama. Só que o mal estar não passou e daí apelei pra minha mãe. Fomos ao hospital e daí vocês imaginam como é atendimento de emergência em pleno domingo...
A médica neurologista, em menos de dez minutos de consulta virou-se para minha mãe de atestou: "sua filha está com síndrome do pânico".
Opa! Peraí!!!! Eu??? Com síndrome do pânico??? Como assim???
Eu estava com a pressão alta (17x7), uma dor insuportável, assustada, e com muito enjôo. Isso era enxaqueca, na minha opinão. Fiquei internada na enfermaria até às 23h, tomando remédios fortíssimos para tirar a dor e baixar minha pressão. Fui liberada, voltei pra casa e fui direto pra cama.
Eis que acordo na segunda-feira, às 6h, pra chamar o Lucca para a escola e percebo que meu rosto está paralisado no lado esquerdo. Não consigo falar, e aquilo vai me assustando cada vez mais. Pensei "estou tendo um AVC"!!
Liguei para minha mãe imediatamente, que foi me buscar, e rumamos para o hospital. Dei entrada direto na emergência, e dessa vez fui atendida por um médico muito atencioso, humano e acima de tudo, preocupado. Fiz tomografia, ressonância, mil exames de sangue, exame de urina, fiquei em observação, com o médico analisando a possibilidade de ser stress, enxaqueca, microtromboses no cérebro ou, até mesmo, princípio de esclerose múltipla. No fim, o resultado foi meio óbvio: crise aguda de stress.
Mas como, se agora está tudo bem na minha vida?, perguntei para o médico. E ele me respondeu que é só depois que o "furação" vai embora é que podemos ver, realmente, o tamanho do estrago. Ou seja, como o ano de 2009 foi muito pesado para mim, e logo de cara de em 2010 eu perco minha avó e uma amiga querida (além do excesso de trabalho), meu corpo quase pediu "falência". E como dizia uma terapeuta que eu me consultava há uns anos, "quando a gente não para na vida, a vida dá um jeito de parar a gente". E foi isso mesmo que aconteceu comigo.
Conclusão: vou ter que fazer um baita check up com diversos especialistas para controlar (ou até mesmo brecar) outras possíveis futuras crises. Sem contar que eu tô batendo na casa dos 36 anos logo mais...
Bem, mas o que isso tudo tem a ver com o título??
Explico: ganhei um day spa e fui desfrutar o meu presente no último sábado. E foi muito bom!!!
Programa de mulherzinha mesmo, com direito a banhos de hidromassagem, duchas ativadoras, massagens, relaxamentos, chazinhos, frutinhas, florzinhas, e todos os outros diminutivos que nós, mulheres, simplesmente amamos. Afinal, não existe nada mais gostoso do que receber cuidados especiais!
Logo depois passei pelos serviços de manicure, pedicure, design de sobrancelhas e saí de lá, horas mais tarde, leve como uma pluma. Tanto que dormi feito um anjo o resto da tarde.
No sábado a noite fiquei pensando em tudo o que aconteceu, na obrigação de desacelerar, no dia delicioso no spa e cheguei à conclusão que é mais do que necessário que eu dedique um tempo só para mim. Quando nos permitimos pequenos prazeres, criamos uma "barreira natural" que impede crises como aquelas que tive.
No meio desse furação todo, ficou na minha lembrança uma brincadeira do médico quando, depois de analisar todos os meus exames, me pediu para abrir bem os braços e imaginar se, naquele espaço, dava para eu abraçar o mundo. Diante da minha negativa, ele sorriu e disse: "ótimo! Então ocupe esse espaço com coisas realmente importantes e de valor, como um abraço, por exemplo". Dito isso, recebi um abração e minha alta. E fui embora aliviada por saber que, dessa vez, tudo teve um final feliz.
terça-feira, 2 de março de 2010
O dom.
“Relacionar-se é vocação, difícil e rara. A concentração é contínua, o trabalho é de artesão. Um desafio delicioso”
Cinthya Verri
Cinthya Verri
Com essa frase, um dos meus autores favoritos (Fabrício Carpinejar) abriu um de seus últimos textos: http://carpinejar.blogspot.com/2010/02/separacao-criativa.html. A pessoa que diz a frase nada mais é do que sua namorada e, dessa forma, conseguiu traduzir perfeitamente o "pulo do gato" de uma relação.
Só se relaciona quem tem o dom, quem tem vocação. Quem não tem paciência com o outro dificilmente saberá superar os obstáculos que uma relação tem. E também dificilmente conseguirá ter uma relação com alguém porque sua capacidade é limitada às palavras proferidas e aos "muros" que criou em torno de si próprio. Também é preciso ter tempo, já que ter alguém demanda um tempo enorme para se descobrir, para se encontrar ou reencontrar.
Relacionamento às vezes parece uma corrida de obstáculos: a cada 100m tem alguma coisa pra impedir o avanço, pra fazer voltar atrás ou simplesmente empacar, desistir. Porém, se há uma vontade em comum, a cada cancela saltada vem a sensação de paz, de recomeço.
Ter alguém é ter que engolir sapos às vezes. Ou brejos. Ou um ranário completo. Para se ter paz num relacionamento é preciso, além da paixão, um bom sistema digestivo pra digerir pedras e algodão doce ao mesmo tempo. Porque o amor é o algodão doce - aquela coisa real, mas tão delicada que se dissolve num toque. Mas se saboreada entre os dois traz a sensação doce de proximidade.
Posso até ser crucificada, apontada, criticada, mas hoje prefiro me manter num relacionamento seguro, estável, com uma série de obstáculos superáveis, do que partir para a aventura do começar de novo, e aprender quais são as "sensibilidades" do parceiro e ficar driblando, tal qual um zagueiro da segunda divisão, os medos e o desconhecido. É como tentar dançar uma valsa num quarto escuro e apertado, e sem saber onde o parceiro está. Eu gosto mesmo é do desafio diário de continuar conquistando (e ser conquistada por) alguém que está há cinco anos do meu lado.
Como disse no começo, se relacionar é dom. Mas a arte mesmo está em manter por tanto tempo a chama acesa, mesmo que ela pisque em algum momento.
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