sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Flores e sementes

Já faz nove meses desde o último post aqui - praticamente uma gestação completa. Talvez seja a que eu não tive, já que o Lucca nasceu antes do tempo.
Ah! O tempo... Tenho brigado com esse senhor implacável desde sempre, mas só há pouco percebi que o que vivo tentando buscar num tempo passado voltará num tempo futuro. Com outra cara, eu sei, mas voltará. Como a primavera, que todo ano floresce, com suas flores de sementes diferentes.
Depois de esquecer meus fantasmas junto com a poeira debaixo do tapete decidi encará-los. Ando lutando com meus fantasmas.  Ando buscando minha identidade. Ando procurando meu espaço.
Uns dias tenho arranhões, em outros crio cicatrizes.
Sigo meus dias em passos pequenos, como se minhas pernas não pudessem chegar ao outro lado da sala. Olho por sobre a mureta da varanda para ter a certeza de que há, sim, vida lá fora. Vejo as árvores tão grandes que ainda me sinto semente.
Vou brotar, embora ainda me falte algumas primaveras.
Mas a certeza do crescimento habita em mim, assim como as flores que carrego em meu peito, tal qual um Ipê, que fica desprovido de folhas para dar lugar às flores.
Hoje estou desprovida de tudo o que carregava na última estação. Uma tempestade levou tudo o que eu jugava saber equilibrar. Sobraram galhos secos. Um dia, das pontas, ainda vão brotar flores (eu sei).
Além disso, minha madeira é de lei, e suporto muito mais do que minha frágil aparência possa parecer.
Ainda sou semente, mas sei que vou atingir altura suficiente para ver as coisas por outro ângulo
Nesses últimos nove meses puder morrer e nascer de novo - como num ciclo de estações. E estou vendo e aprendendo tudo de novo. Para que os dias sejam mais floridos, e o espaço seja, definitivamente, meu.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Como os nossos pais.


Dei um tempo de quase um ano aqui. Foram oito meses de "reclusão" voluntária para por a minha vida em ordem, a minha carreira nos eixos, e para encontrar um caminho que fosse.
Bem, a carreira deslanchou, tanto é que, quando havia inspiração, o tempo era escasso. Tinha ideia de um ou dois textos, mas não conseguia contretiza-los.
Pensei em desistir daqui.
Acontece que uns quize dias atrás, indo a trabalho para Belo Horizonte, e com um livro de Clarice Lispector nas mãos, olhei as nuvens (já que estava sobre elas) e algo soprou em meus ouvidos dizendo que era preciso continuar. Afinal, não posso guardar o que tenho de tão forte dentro mim só pra mim.
No retorno, ainda no mesmo dia, não pudemos decolar porque Congonhas estava fechado por causa das chuvas em São Paulo. Esperamos por 45 minutos e daí saquei meu caderno e escrevi dois textos. Foi como um parto prematuro (de oito meses, no caso) em que tudo é inesperado.
Tive a certeza de que não adiantava nada lutar contra algo que é intrínseco, que faz parte da minha essência: as minhas histórias, de certa forma, se repetiram ao longo dos anos e eu perpetuei atitudes idênticas e não cheguei a lugar nenhum. Sofri até resolver seguir o curso natural das coisas.
Enfim...
Dias depois, indo à escola do Lucca para fazer sua matrícula, e debaixo de uma chuva absurda, tocou no rádio a música "Como nossos pais", de Elis Regina.
Petrifiquei - a primeira vez que ouvi cada verso dessa música foi no dia em que descobri que estava grávida. Meu mundo desabara naquele instante e eu precisei escolher um caminho, uma direção, quase que imediatamente.
Enquanto dirigia ouvindo a música conclusão que o caminho que venho percorrendo é igual aos dos "nossos pais".
E tudo o que eu pensei em fazer diferente dos meus pais, venho repetindo de forma sistemática nos últimos anos. Talvez seja um ciclo, talvez seja até normal isso tudo, talvez seja necessário para que eu trilhe a estrada que esolhi com segurança. Talvez...
Hoje tenho 36 anos, meu filho vai fazer 11  mês que vem, sou assessora de imprensa de uma das maiores companhias aéreas do País e tenho ao meu lado o homem que amo.
Hoje olho com carinho e respeito tudo o que passei porque, afinal, consegui superar todos os obstáculos.
Estou bem e sou feliz assim, e sigo vivendo. Embora consiga perceber que apesar de ter feito tudo o que fiz, ainda sou a mesma e vivo como os meus pais...

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Como Nossos Pais
(Elis Regina)

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê

É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...