segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um Quintana pra semana

Amar:

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...


O amor é quando a gente mora um no outro.

domingo, 28 de setembro de 2008

Don´t wait too long


Depois de anos de espera, ela decidiu que precisava tomar uma decisão.

Levou uns dias digerindo a idéia, mas, por fim, cedeu aos impulsos e ligou. O número do celular já não era mais aquele.

Fez um esforço enorme para lembrar o telefone da residência e, como não conseguiu, voou para casa a fim de procurar o tal número. Ligou, pediu por ele e ouviu que estava trabalhando e só chegava por volta das 20 horas. Ainda era 18h30...

Esperou o tempo passar e, às 20h10 ligou. Ele atendeu. O mundo parou. Ela ficou muda.

Tom de surpresa de um lado, felicidade indisfarçavel do outro. Ela parecia uma menina diante de uma loja de bonecas. Ele foi extremamente gentil.

Combinaram de se ver naquela semana para por a vida em dia.

O encontro foi um pouco protocolado, a princípio. Mas depois, os anos de amizade e de cumplicidade vieram à tona e, na hora de se despedirem, ele arriscou um beijo. Um beijo, meu Deus - ela pensou!!!

Foi para casa aos pulos, o coração aos solavancos. Ele reacendera tudo o que ela havia lutado para apagar.

Mas por quê mesmo ela quis apagar uma história tão bonita??

Na época em que se conheceram - há mais de dez anos - ele ainda era um menino. Nem tinha barba direito, muito menos trabalho, profissão. Curtia a vida treinando seu esporte favorito.

Era um menino adorável. E lindo. E muito querido. Mas era um menino, sem compromissos com ninguém.

Vivia esquecendo dos encontros, dava canos homéricos nela, depois pedia desculpas e ela, cheia de carinho por ele, cedia e perdoava.

Até que um dia ela se cansou disso tudo e sumiu. Sem dar satisfação, sem um telefonema, um aviso. Simplesmente sumiu - tal como a fumaça de um insenso.

Anos se passaram e um dia ela o procura novamente. Ele estava namorando sério, havia bem uns dois ou três anos. Conversaram, se viram rapidamente, e ela, conformada com o destino, tentou esquecer o moço.

Até que, passados mais uns três anos, sonhou com ele. Teve um sonho tão real que jurou que havia escutado sua voz a chamando. Acordou assustada, pensou mil bobagens, se preocupou: será que havia acontencido alguma coisa? Afinal eles sempre tiveram uma ligação forte em pensamento.

Não conseguiu dormir.

Passou uma semana ensaiando para ligar. Havia esquecido as coisas ruins que ele a fizera sentir. Precisava vê-lo, abraçá-lo, tê-lo junto de si. Não conseguia distinguir se o amava ou se tinha apenas uma grande amizade, um carinho enorme por aquele menino.

Quando se encontraram, depois do telefonema dela, teve a certeza de que eles ainda tinha aquela ligação. Suas mãos suavam e o sorriso dele não cabia em seu rosto.

Ficou olhando cada detalhe daquele menino que tinha se transformado em um homem lindo.

Ele cresceu, ela pensou.

Passaram a se falar quase todos os dias: ele ligava sempre dizendo que queria vê-la e ela, cheia de esperanças, bem que tentava disfarçar, mas acabava cedendo.

Só que raramente se viam. O trabalho dele tomava muito de seu tempo. Em sua agenda não havia sábados, domingos, feriados. Em seu dicionário não havia o verbete "folga".

E se passaram mais alguns meses até que combinaram de sair uma sexta-feira. Finalmente iria dormir com ele, abraçada, grudada. Dessa vez cederia a todos os impulsos, afinal, como ele mesmo vivia dizendo, dessa vez era pra valer.

Combinaram tudo direitinho. Ela se arrumou, pôs um lingerie sensusal (ele merecia esse presente) e foi fazer hora na casa de um amigo para conter a ansiedade.

De repente o telefone toca e ele avisa que vai rapidinho até a casa da irmã dele buscar sua mãe e que já estava voltando.

Fez mil gracinhas no telefone, foi gentil.

Por um momento seu coração ficou paralisado e ela sentiu medo.

Ele ligou novamente, já um pouco atrasado, dizendo que estava saindo de lá.

Ela acreditou.

Voltou a falar com ele na terça-feira, indignada com o cano.

Ele, como sempre pediu desculpas e pôs a culpa na mãe, na irmã, no horário. Acabou se atrasando, chegou muito tarde e não quis incomodá-la.

Ela, por sua vez, deu uma desculpa para o amigo, disse que precisava ir para o tal encontro e foi pra casa.

E, como se nada tivesse acontecido, continuaram a se falar diariamente.

Ela estava certa de que precisava admitir que o amava. Mas como fazer isso mesmo depois de tantos anos? Ele iria acreditar?

Ponderou que não, que ia continuar naquela lengalenga até ele tomar uma atitude.

Mas seus ímpetos de mulher decidida haviam voltado e, num súbito desejo, ligou para ele em plena terça-feira à tarde, a caminho de uma importante reunião com o presidente da companhia que travabalhava.

Ele a atendeu prontamente de se encontraram em frente ao escritório dele.

Ela, morrendo de vergonha do que tinha acabado de fazer, cedeu tudo o que pode. Quebrou protocolos, passou por cima de preconceitos e aproveitou. Admitiu para si mesma, ali, que ainda o amava sim!! E que ele era o que ela, de fato, sempre quis.

Chegou atrasada à reunião, mas tinha um sorriso tão largo no rosto que nem deram conta da meia hora perdida.

Para coroar, ele ainda ligou à noite e combinaram um cineminha para aquela semana ainda.

Na quarta-feira se viram novamente. Ficaram juntos, abraçados dentro do carro ouvindo algumas músicas que ela havia gravado pensado nele: as bandas que gostavam, as músicas que foram trilhas sonoras de histórias dos dois juntos.

Na hora de ir embora ela ficou calada, olhando ele se arrumar. Ele estava de moto e o ritual de colocar luvas, protetor para o rosto, capacete foi lento, como se ele também não quisesse ir ou como se precisasse dizer mais alguma coisa. Silêncio entre os dois - olhos nos olhos apenas.

Ela congelou aquela imagem dele, olhando firmente para ela.

Foi a ultima vez que o viu.

Aquela semana se arrastou. Não teve cinema porque o trabalho dele não deixou, mas, ainda assim, se falaram até antes de dormir.

Na sexta-feira ela não trabalhou a tarde toda. Não conseguia se concentrar, Inventou uma desculpa e pediu para sair mais cedo e foi se arrumar. Tinha certeza de que o tão esperado encontro seria incrível.

Cuidou de cada detalhe: a roupa, o sapato de salto alto e fino, o lingerie, creme esfoliante durante o banho, perfume novo, maquiagem nova, cabelo arrumado. Nada perua - isso não fazia seu estilo.

Se arrumou agradando a si mesma e não ao outro. Ela era inteira naquele momento. Completa. Feliz. Era a mulher mais linda, mais segura, mais forte. Era também menina, adolescente, a espera do príncipe... que não veio novamente.

Olhou o relógio e se viu sozinha dentro de casa.

Perdeu a paciência e ligou. Caixa postal. Passaram alguns minutos e ligou novamente. Ligou umas quatro vezes e ninguém atendia.

O que teria acontecido?, pensou. Imaginou um chamado do trabalho, imaginou coisas ruins. Será que ele sofrera alguma acidente?? Tentou mais uma vez e, diante da voz do atendimento eletrônico da caixa postal do celular, deixou um recado seco, brava.

Meia hora depois recebeu um torpedo avisando que ele ouvira sua mensagem. "Agora ele vai ligar", pensou.

Nada.

Silêncio.

Passou a noite acordada.

Viu tevê até alta madrugada.

Dormiu cansada e agarrada à esperança como se fosse criança grudada nos braços da mãe.

No dia seguinte tinha um compromisso em outra cidade.

Enrolou até não poder mais e foi. Morta de sono, de raiva. Mas mortificada mesmo de tristeza.

Tentou falar com ele no fim da tarde, certa de que tinha acontecido alguma coisa grave.

Ele simplesmente não atendia o telefone. Deixou mais um recado, com voz embargada, pedido um retorno, uma satisfação.

Recebeu outro torpedo confirmando o recebimento de sua mensagem.

Aguardou meia hora com o celular nas mãos, cheia de esperanças, lembrando de tudo o que ele falara na terça e na quarta-feira. Aquilo não podia ser mentira. Não tinha mentira em seus olhos.

Havia tanta certeza, tanta verdade, tanto carinho. Ela não podia estar louca... e não estava.

Quando se deu conta de que meia hora havia passado, teve vontade de atirar o celular longe, esmurrar o carro, chutar o poste.

Saiu dirigindo como uma louca, desafiou carros, motoristas e pedestres.

Se perguntava a todo momento o que teria acontecido, de novo, com ele, o que ela tinha feito de errado dessa vez. E, como não conseguia encontrar respostas, chorou.

Chorou forte, soluçou. Nada aplacou sua tristeza, sua raiva.

Desceu do carro e se deu conta de que a música que eles mais gostavam estava tocando. Doin´time.

Entrou novamente no carro, trocou a rádio e, dessa vez tocava Don´t wait too long.

Decidiu esquecê-lo para sempre. De vez.

Se apegou ao refrão da música, se encheu de forças e seguiu adiante.

Mesmo ainda com aquela imagem dele pondo o capacete e o gosto na boca do seu último beijo.


Maybe I got a lot to learn

Time can slip away

Sometimes you got to lose it all

Before you find your way


Take a chance, play your part

Make romance, it might brake your heart

But if you think that time will change your ways

Don't wait too long






sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Primavera

"Aprendi com a primavera a me deixar cortar.
E a voltar sempre inteira."
Cecilia Meirelles



OBS: Obrigada por estar por perto...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Malvados

Sei lá o que eu estava procurando na web, mas o fato é que (re) encontrei o site dos Malvados.
Adoro a acidez das tirinhas.



Memória

Dia desses, passando por um dos blogs que leio assiduamente (Eu Comigo Mesmo, do Rafael Cury), me deparei com a poesia abaixo, de autoria de Carlos Drummond de Andrade:

Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

No final de seu post, Rafael amarrou com a seguinte frase: "E que eu volte a ver beleza nas histórias que já se foram".

Depois disso, não consegui parar de pensar nessa poesia e na frase de meu colega blogueiro.
Talvez haja tanta verdade em ambas que eu somente agora eu tenha me dado conta da beleza das histórias que vivi.
Coisas que hoje me parecem tão distantes, como se eu tivesse sonhado com elas.
Lembro de dias claros, sorrisos largos, promessas cheias de verdade.
Havia muita alegria.
Havia desejo.
Havia lealdade, cumplicidade.
Havia também uma ou outra divergência (necessária para fazer as pazes).
Havia verdade nisso tudo.
Mas as verdades ficam obsoletas, ultrapassadas.
Principalmente no que tange ao sentimento: se hoje és príncipe, amanhã será sapo!
E isso é fato!!
Porém, nada mais triste do que ter lembranças coloridas e a percepção de aquilo tudo foi um sonho e que você já acordou, sozinha, em um novo dia.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Post-its


Talvez depois de tanto tempo você já tenha esquecido coisas básicas a meu respeito.

Talvez, também, não saiba de outras tantas.

Por isso resolvi listar tudo aquilo que gosto, que me define, que eu gostaria de ter e fazer, coisas que me fazem, etc., para você lembrar sempre.
Funciona não como um manual, mas como uma série de post-its colados ao longo do caminho que ainda está por vir.
Vamos lá:

Gosto de dias claros.

Tem que ter Sol, não importa que haja vento ou que esteja frio. Minha preferência ainda é o Sol.

Mas também pode ter Lua. Gosto das fases crescente e cheia.

Gosto de noites quentes.

Gosto de praia: o cheiro do mar, o barulho das ondas, a energia da areia me recobrem de boas vibrações.

Também gosto do interior: o clima pacato, a cordialidade do povo, a vida simples.

Gosto de Ilheus e de Recife mais do que Santa Catarina. Olinda é linda.

Mas Cerquilho e Tietê têm lá seu charme.

Não gosto de academia.

Gosto de pilates e caminhada e acho que ainda vou fazer ioga e correr meia maratona.

Adoro skate, embora não tenha equilíbrio nenhum em cima dele.

Adoraria ser melhor na bicicleta. rs...

Adoro tatuagem. Tenho três, mas gosto de ver nos outros.

Gosto de usar tênis.

Adoro sapatos e sandálias de salto alto.

Acho meus pés lindos.

Acho minhas mãos pequenas.

Adoro usar anéis grandes e o solitário que meus avós me deram e que foi o anel de noivado deles (há mais de 60 aos).

Adoro minha cara lavada. Mas também me encanto com estojos de maquiagem.

Gosto muito de me produzir, ficar arrumada para alguém que espere por isso (ou não!!).

Adoro receber elogios.

Gosto de flores: rosas amarelas e laranjas, astromélias brancas, orquídeas coloridas. Na verdade, gosto de plantas em vasinhos que se possa cultivar em casa. Também gosto de ervas aromáticas pra eventuais temperos e chás.

Sou maluca pelo meu filho, o Lucca.

Amo meus amigos!!!

Tenho mil carências.

Tenho TPM.

Tenho alma leve, essência pura.

Amo minha vida.

Tenho sonhos.

Queria construir uma família de verdade.

Queria ter mais um filho (ou dois, por quê não...).

Queria morar numa casa com quintal.

Queria ter cachorro, de preferência uma vira-latas.

Gosto de gato, de passarinho e de peixinhos.

Tenho medo de baratas e mariposas.

Queria ter uma Harley Davidson e viajar pelo País.

Gosto das revistas que assino: Vida Simples, Bons Fluídos, Viagem & Turismo e a Recreio (que leio junto com o Lucca).

Adoro ler.

Também adoro ouvir música.

Minha vida tem trilha sonora e, dependendo da ocasião, toca um Blues ou um Jazz, até mesmo um Groove. Mas também pode ser MPB, Bossa Nova. No geral é Rock´n´roll.

Adoro dirigir.

Ainda estou na fase apaixonada pelo meu carro novo. Mas confesso que às vezes gostaria de ser a carona, a passageira que aprecia a paisagem e curte o motorista e o passeio.

Gosto de cozinhar. Sinto prazer em pegar as panelas e fazer algo especial ou trivial. Não importa. O que vale, na minha opinião, é por minhas energias em tudo o que eu faço. Principalmente se eu estiver oferecendo para alguém. Gosto de ver o prazer que nasce na boca brotar nos olhos de quem prova minha comida.

Também gosto de comer. Nunca fui muito afeita às dietas. Essa história de passar o dia com duas folhas de alface - uma pela manhã e outra pelo jantar - não é comigo.

Gosto de pizza. De abobrinha é a minha preferida. E se for acompanhada de uma boa taça de vinho, vou ao céu!!!

Também gosto de doces: pavês, tiramissu, sorvete.

Adoro café, mas tive que diminuir bastante as doses ao longo do dia por conta do clareamento dos meus dentes. Porém, mantive uma xícara pela manhã e outra depois do almoço (pra avisar ao organismo que é hora de voltar ao batente).

Também acho que você já sabe, mas preciso admitir: eu sou workaholic. E o pior vem agora: adoro a profissão que escolhi e abracei há tanto tempo.

Porém, preciso te confessar outra coisa: tenho sido muito seduzida pelo meu hobby. Aqueles pincéis, tintas, papéis para decoupage, as garrafas que eu decoro... Talvez esse seja o futuro que eu queria para mim.

Sou dorminhoca, sou friorenta, durmo de meias e com dois travesseiros.

Adoro dormir de conchinha ou agarrada, com a cabeça apoiada no peito, pra ouvir o coração bater por mim.

Adoro sexo - longas namoradas sem pressa e sem frescura. Mas também curto rapidinhas, "de coelho", na escada do prédio, dentro do carro. Tudo sempre com muita entrega e cumplicidade, com olhos nos olhos.

Adoro carinho, cafuné, massagem no pé.

Mas também adoro fazer carinho, cafuné e massagem nas costas de quem está comigo.

Pra falar a verdade, sou muito carinhosa. Não consigo estar perto e não por a mão, contornar seu rosto, olhar nos seus olhos como se estivesse te abraçando.

Gosto de mimar quem eu amo.

Gosto de saber o que você fez da vida ou vai fazer.

Me preocupo até demais com quem eu amo - não importa quem seja.

Gosto de ouvir se você está bem, se você me quer bem - bem perto de você.

Gosto de ouvir sua voz pela manhã, de receber um email, um recado.

Adoraria acordar com um "bom dia! Eu te amo".

Adoraria ser mais amada. Aliás, penso que merecia ser mais amada, ser mais valorizada.

Adoraria ser incluída em planos. Adoraria ser conjugada no presente e no futuro, tendo como base o passado.


Muito prazer.

Eu sou a Andréa.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mentes Brilhantes


Tenho a sensação de que algumas pessoas conseguem fazer o tempo parar.

É meio como um play-pause: bastam abrir a boca e pronto - pause!

E a pausa é no tempo, no espaço, em tudo.
Eu tive a oportunidade de estar com várias pessoas assim, porém, conheço dois personagens que me deixam "pausada e ambos vieram por meio do meu trabalho. Um é jornalista e o outro um cliente atual.

O interessante é que não há conotação sexual.

Não tenho pensamentos lascívos com nenhum deles.

Ambos têm vasta cultura, falam de qualquer assunto.

Ambos são jovens e promissores em suas carreiras.

São mentes brilhantes, almas brilhantes. São cerejeiras em flor. Nasceram com um certo dom, um certo quê de diferente ou complementar.
O primeiro tem uma sensibilidade rara. O outro tem uma presença iluminada.

Babo diante dos dois. Literalmente.

Se bem que o primeiro está pelas bandas do cerrado brasileiro e faz tempo que eu não o vejo.

Aliás ele não precisa estar presente: um simples recado no orkut ou um email gentil me fazem dar pause no tempo.

Conheci o primeiro em 2006, como diretor de externa da TV Cultura.

Estávamos gravando para o programa Balanço Social e ele dirigia as gravações.

Não sei se foi empatia ou hipnose mesmo. Bastou ele abrir a boca e dar as primeiras cordenadas e o tempo pausou.

A forma como ele conduzia as entrevistas era encantadora, deliciosamente encantadora.

A paciência, o carinho e o respeito pelas pessoas são sua marca registrada. Ele faz tudo isso sendo firme, porém, doce.

Essa é a minha impressão. Essa foi a marca que ele deixou em mim. Nutrimos respeito e admiração um pelo outro.

Não somos amigos, nunca saimos para beber, nunca batemos papo sobre a vida pessoal.

Ele é um amante da profissão, assim como eu. Uma pessoa admirável.

Já, o outro entrou na minha vida quase na mesma época.

Por esses acasos da vida, ele era cliente de uma amiga, na mesma agência que eu trabalhava, e eu atendi algumas ligações para ela, algumas vezes.

Era ele, o cliente, cujo nome forte ficou marcado na minha cabeça e cujas ações eram amplamente comentadas.

Mudei de agência e, no início desse ano, ganhamos uma conta importante.

Eis que, na primeira reunião, para a minha surpresa, ele estava lá - personificado, em carne, ossos, olhos profundamente azuis e um sorriso avassalador. Aquele que era um mito tinha acabado de se tornar um ídolo.

Pronto, pensei. Mais um especialista em hipnose!!!

E como ele faz meu tempo parar.

Nota para explicar a sensação: não é desejo sexual, não é paixão, paquera, nem nada parecido.

Olho pra ele e desejo, do fundo do meu coração, que meu filho seja como ele: apaixonado por tudo o que faz. Comprometido com tudo o que leva seu nome.
Virei sua fã. Me sinto como a irmã mais velha do irmão temporão.

Ontem fui a uma reunião que ele conduzia e tive mais uma dessas paralisias.

Bebi cada palavra e vibrei com sua vitória ao término da apresentação. Ele havia vencido uma importante batalha diante dos outros diretores ali presentes.

E eu testemunhei como é bom colher os frutos que a gente planta com tanto carinho e esforço.

Nada como o reconhecimento.

No fim das contas, ainda ganhei dele um sorrisinho de satisfação por estar ali, presente naquele momento, aplaudindo com mil mãos dentro de mim a atuação desse moço. Juro que li em seus olhos um "obrigado, Andréa". Sinto que a minha presença lhe causa algum conforto, alguma segurança. Feeling de irmã...

Também acho que ele viu dentro de mim a felicidade por compartilhar com ele a paixão pela profissão.

Saí de lá meio tonta e muito feliz - pelo seu trabalho e pelas mil perspectivas do meu, que está começando com essa nova ação.

Confesso que sai apenas hoje da hipnose de ontem...



terça-feira, 16 de setembro de 2008

Uma fatia de torta


Hoje, 16 de setembro é meu aniversário.


Completo 34 primaveras.


Adoro fazer e comemorar aniversário.


Dizem até que pareço criança: os dias que antecedem ao meu aniversário vivo uma expectativa quase infantil, uma ansiedade adolescente. Adoro receber abraços, parabéns, carinhos.


Nesse tempo todo vivi histórias lindas, tristes, comuns. Nesses 34 aniversários ganhei presentes caros, baratos, importados, lembrancinhas, beijos, abraços, namorados, amigos, um filho lindo, comemorações inesquecíveis. Também ganhei silêncio, olhares de obrigação e parabéns atravessado.


Entre as boas lembraças está outra coisa que eu adorava ganhar: os doces que a minha madrinha fazia para comemorarmos a data. Quindins, beijnhos, docinhos de nozes e o meu preferido, o Tiramissu.


Sim, em letra maiúscula. O doce merece ser tratado com respeito, afinal é uma sobremesa clássica italiana, gelada, à base de café e de mascarpone, e servida geralmente no Ano Novo. O que me faz crer que essa é a iguaria ideal para um aniversário, afinal, comemoramos um "Ano Novo pessoal", um início de ciclo.


Mas tive também, algumas vezes, aniversários que não havia um bolo sequer para comemorar. Época que não faltava dinheiro, porque, mesmo quando era criança e as dificuldades finaceiras batiam à porta, nunca faltava um bolo com glacê decorado com "pitangas" coloridas com anilina e balas de coco embrulhadas em papel de seda. E, se não faltava dinheiro, sobrava silêncio...


O que sinto falta hoje é da proximidade. Da cumplicidade dos pais em torno da comemoração de mais um aniversário do filho, da inveja branca do irmão menor, espiando tudo e roubando brigadeiros.


Não estou me referindo à comemoração social, a festinha. Mas do prazer em ver nos olhos dos meus pais a referência de vitória, de dever cumprido pelo filho criado que, apesar da idade, nunca deixará de ser filho.


Por isso amo o Tiramissu da Cecília (minha madrinha). Porque para ela, não importa se tenho 34 ou 7 anos. O que vale é ela ver o prazer em meus olhos ao receber um carinho, um afago tão doce (literalmente) e sentir o prazer de ter feito um bem.


Enfim...


Parabéns para mim!!!


Abaixo está um texto do Fabrício Carpinejar (pra variar... rs) falando sobre aniversário.


Um beijo e obrigada, de coração, a todos que mandaram recados, falaram comigo ou simplesmente pensaram em mim neste dia,


Andréa


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UMA FATIA DE TORTA




Não sofri fome em minha vida.


FOME. Como a descrita por Nelson Rodrigues, de comer água.


Nem sei o que é carência.


Apesar da verdade que me falta, entendo o que é falso.


Meu filho voltou desapontado do aniversário de um amigo. Disse que havia sido o pior de sua vida, bem exagerado como seu pai. Eu fui buscá-lo e meio que visualizei o drama no salão. Era uma festa-fantasia. Não havia um só menino ou menina que acatou a sugestão de dublar um super-herói. Mas, em compensação, a maioria dos pais circulava com capuz, capa, lantejoulas, suspensórios, pinturas e brilhos.


A festa serviu mais para os adultos do que para os pequenos. Talvez meu filho quisesse se sentir inteiro, fiel a si. Ele não precisava se fantasiar, ainda está na infância. Os adultos é que usaram o pretexto infantil para liberar seu armário e destrancar os brinquedos da nostalgia.


Em São Sepé, eu me prontifiquei a atender numa padaria. Implorei ao dono, para susto das funcionárias. Elas me forneceram touca e avental. Aprendi a fazer expresso, preparei torradas e limpava a mesa com um paninho de álcool.


Vivia o suspense do outro lado da cortina, a expectativa de quem iria chegar.


Uma senhora entrou com um menino e sentaram no balcão azul. Ela apontou para a torta de chocolate.


- Duas fatias?, perguntei.


- Uma só, ela respondeu.


Levei um generoso prato para o guri, que deixou as mãos para trás e se aproximou do pedaço com o rosto. Assim como quem não acredita. Cintilavam suas pupilas negras. Tinham uma lupa escondida nelas, que granulavam o reflexo. Comeu esperançoso, recolhendo o fundo do leite condensado do prato.


Comeu não, bebeu a torta. Quanto mais avançava, hesitava com receio de terminar sozinho.


- Vó, vó, prova?


- Não, é seu aniversário... É toda sua.


E me dei conta que ele estava comemorando oito anos e recebia de presente a torta. Seria seu único presente. Nem por isso, menos valioso.


Quantas vezes, na cidade pequena, os dois passaram pela frente da padaria e reavivaram a promessa? Chegou finalmente o dia. O banquete. A roupa limpa de missa, o guardanapo, o banco alto, o pedido. A avó respeitava sua alegria. Debruçada de lado para os movimentos do pequeno. Podia estar com fome, mas censurava o avanço.


Não solicitaram nenhum refrigerante ou suco. O brigadeiro descia a seco pela garganta, completando os dentes de leite. Não ousaria pagar a fatia ou oferecer o doce. Seria arrancar da mulher o direito da dádiva. Banalizar sua oferta. Restava permanecer como espectador, sem me incluir entre eles, apesar do desejo de nascer naquele instante.


Não perguntei se ele gostaria de repetir.


Tampouco demonstrou contrariedade com o fim, apenas girou o corpo para a rua à espera do próximo ano. Segurou o pulso da avó como quem ajusta a manga da camisa. E me partiram por dentro.


Os melhores aniversários são os mais singelos, desesperadamente necessários.


O que ninguém nota que está acontecendo, além de nós. E que não será esquecido pelo sacrifício que um fez pelo outro.






terça-feira, 2 de setembro de 2008

Por hora... por Cora


"Não sei se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar."


Cora Coralina