quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Perdi.


Esse ano eu perdi muita coisa.

Tem gente que diz que a gente não perde o que não nos pertencia e que se nos foi tirado, era porque, de fato, não tinha que ser nosso.

Ouvi isso pela manhã, ou seja, agora a pouco.

Essas palavras derrubaram todo o argumento do texto que eu tinha escrito ontem a noite, entre laços de presentes, artesanatos que secavam sobre a mesa, uma pizza e a carinha de curioso do Lucca (e as artes do Lilo, que ontem mesmo comeu uma parte da blusa que eu vestia).

No meu texto eu listei coisas que tinha perdido ao longo de 2009. Tudo absolutamente verdadeiro. Era mais ou menos assim:

- janeiro: perdi clientes na assessoria que trabalhava e a crise econômica mundial batia forte. As empresas passaram a cortar aquilo que era supérfluo e comunicação estava na lista.

- fevereiro: perdi meu emprego deposi de mais de 18 meses de trabalho ininterruptos. Acabaei me desentendendo com a chefia, que via em mim a causa da debandada dos clientes e achava que a crise era, assim, uma marolinha. Ainda em fevereiro perdi a convivência diária dos meus pais, e passe a morar sozinha.

- março: depois de um merecido descanso e do início da adaptação sozinha no apartamento, perdi uma vaga de trabalho em uma grande agência para alguém recém formado. Fui considerada boa demais pra vaga.

- abril: perdi o chão por causa de acontecimentos que precisam de muitos posts para serem explicados. Perdi o sono, perdi o viço, perdi a vontade de continuar, perdi a mão comigo mesma e engordei muitos quilos. Pra ajudar, minha mãe estava fora do país. Também perdi a oportunidade de dar início às atividades da agência que eu e uma amiga querida resolvemos criar. O cliente percebeu que não haveria dinheiro suficiente para o serviço quando já avançávamos nos trabalhos.

- maio: fiquei noiva do Zé e perdi a vontade de levar a vida de solteira que eu sempre levei. Nesse mês minha mãe retornou da sua viagem e eu perdi o medo que tinha dela. Em maio também perdemos a Leda, depois de mais de seis anos lutando contra o câncer.

- junho: perdi o tesão da profissão depois de um trabalho realizado no Rio de Janeiro. O cliente me levou à exaustão em todos os sentidos. Cheguei em São Paulo e perdi o fio da meada com o Zé e daí entramos em crise.

- julho: perdi meu relacionamento de quase 5 anos com o Zé, e a aliança perdeu o sentido na minha mão. Também perdi a sensação de viver dias lindos. No fim do mês perdi a crença em certas pessoas, que são capazes de mentir para se manterem em evidência e passarem por bonzinhos.

- agosto: perdi de vez o interesse peloa minha profissão. Nada dava certo, nada acontecia e fui perdendo, aos poucos, o amor próprio.

- setembro: o mês do meu aniversário me fez perder o orgulho e eu pedi ajuda financeira para meu pai. Outro muro que perdeu seus alicerces foi o da resistência do Zé. Voltamos e as alianças perderam o pó da caixinha que as guardava.

- outubro: eu perdi a paz com um trabalho que, apesar de ter sido ótimo e ter me dado de volta o prazer de trabalhar, me deixou toda atrapalhada. Em duas semanas percorri cinco estados. Perdi a paciência em Brasília, por pouco não perdi o vôo em Belo Horizonte, quase perdi a vida num vôo desastrado para Florianópolis. Também perdi a chance de ser efetivada nessa agência após meus job porque a matriz não tinha "money to pay".

- novembro: perdi a falta de vergonha na cara e parti para a reeducação alimentar e perdi alguns poucos quilos. Mas perdi!!

- dezembro: perdi a saúde e tive crises de amidalite, a tireóide parou de novo, a insônia voltou com tudo. Paralelamente, o Zé foi perdendo a vontade de viver e perdeu a mão de novo em nossa relação. Perdemos novamente a velocidade das emoções - enquanto eu acelerava, ele perdia o torque.


Ainda falta uma semana para o ano terminar, e eu acho que outras coisas serão perdidas também. Porém, a única coisa que eu não perdi foi a fé. Nunca perdi a esperança em realizar meus ideiais.

Acreditando que o amanhã podia ser melhor, e bastava para isso que eu me empenhasse, cheguei na reta final de 2009 mais leve, depois de perder tantas coisas.

Mas no meio disso tudo, ganhei algo que será fundamental para transformar 2010 num ano mágico: a maturidade.

Por isso, hoje eu desejo a todos que percam seus medos, que percam a vergonha e que percam a inércia que os mantem parados. E que vocês não percam nunca o verdadeiro sentido que essa data tem: o renascimento.

Que a paz que eu trago hoje em meu coração alcance todos vocês.

Um beijão e FELIZ NATAL!!


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"Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria o acesso ao sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora... Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável: além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída." (Gandhi)


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

E dá-lhe Fabrício!


Não, não estou me referindo a algum paquera novo, nem ídolo de tevê ou da música.

Estou falando de um dos autores que eu mais gosto: Fabrício Carpinejar.

Pra variar, o cara, que sequer sabe que eu existo, contou mais uma passagem da minha vida. E com riqueza de detalhes, o que é pior.

Me vi esmiuçada em seu texto, desnuda e desamparada.

Entendi hoje o sentido da expressão "mal-amada".

Segue o texto:


AUMENTE SUA DELICADEZA ATÉ 28cm


O que leva o homem à impotência é o cuidado.

O que leva a mulher à frigidez é o cuidado.

O excesso de cuidado.

Cuidado demais ataca.

Nunca vi uma mulher ou um homem gostar sem criticar.

O embaraço do sexo não decorre da ausência de intimidade, mas da intimidade. E da cobrança que vem com ela.

Mais fácil gozar com estranhos.

Depois de partilhar meses e cadernos de jornal com nosso par, abandonamos o elogio. Passamos a cobrar e expor os defeitos para que sejam corrigidos. É o cigarro, é a alimentação, é a distração, é o pouco caso com o dinheiro, é a indeterminação do trabalho, é a preguiça.

A convivência traz a preocupação com o namorado ou a namorada e uma esquisita vontade de interferir. Entre conhecer e mandar, é um passo. Ou um tropeço.

As mais duras agressões não provocam hematomas, ocorrem em nome da sinceridade. O amor é confundido com pancadaria. Um teste de resistência. Uma prova de esgotamento nervoso. Se o outro não quer, que vá embora, que desista do prêmio maior que é a confiança.

Há uma visão sádica que não ajuda nem o masoquista. Falta medida. Falta parar e recomeçar o namoro. Falta esquecer e perceber que o próprio passado não é imutável, não existe certo ou errado, que nem tudo por isso é duvidoso.

A eficácia mata o erotismo. O aproveitamento total do tempo do relacionamento não colabora com a vaidade. Custa um agrado antes de transar? Uma meia-luz de palavras? Não estou pedindo para mentir, muito menos fingir, mas falar um pouco bem para acordar os ouvidos e despertar o interesse.

No início, os joelhos são venerados, os ombros recebem moldura de madeira, os cabelos são alisados com a decência de um espelho. As expressões afetuosas vão e voltam, repetidas com diferentes timbres. Todo homem no começo é, ao mesmo tempo, um tenor, um barítono e um baixo. Toda mulher no começo é, ao mesmo tempo, uma soprano, uma mezzo e uma contralto.

Dependendo da região que toca, a voz muda. Com a relação firmada, a excitação torna-se automática. O corpo tem que pegar no tranco.

A devassidão é trocada pela devassa terapêutica. Desculpa e por favor saem de moda. Como existe o trabalho, a casa, o dia seguinte e terminou a paixão (e somente os apaixonados são sobrenaturais e não sentem cansaço), o sexo pode ser mais prático, mais direto, pode até não ser.

Na cama, estaremos falando dos problemas, das contas, do que deve ser mudado na personalidade.

Não encontraremos paciência diante do relógio.

Não vamos procurar cheirar a pele para atrair o beijo.

Eu compreendo perfeitamente quando um homem broxa se a cada instante é lembrado que é barrigudo. Eu compreendo perfeitamente quando uma mulher decide dormir quando sua lingerie nova não foi reparada.

Nunca acusamos quem a gente não conhece.

Julgamos infelizmente quem vive nos absolvendo.


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Não preciso dizer mais nada...

E essa parte da minha vida eu chamo de felicidade.


Acabei de assistir o filme A Procura da Felicidade.

Não tinha assistido antes, embora muita gente havia dito que era bonito, emocionante. Não sei, mas na época o título não me chamou a atenção.

Porém, hoje eu precisava mesmo ter visto cada cena, ter ouvido cada palavra. Guardadas as devidas proporções, é claro, aquilo é quase a história da minha vida.

Pra começar, nasci numa família formada às pressas porque minha mãe estava grávida e meu pai, motorista de táxi naquela época, e cheio de brios, resolveu que casar seria, aquela altura, o mais sensato. Nasci seis meses depois do casamento deles.

Três anos e alguns meses mais tarde, em fevereiro de 1978, meu único irmão nascia também, formando de vez a nossa família.

Historinha comum, eu sei, até porque muita gente tem uma igual ou parecida. Mas o que tinha ali que me transporta à história do filme é um pai obstinado em prover, salvar, dar felicidade à sua família. Mais que isso: dar dignidade à sua esposa e educação aos seus filhos por mais difícil que isso pudesse ser.

E assim foi.

Mas não sem antes passarmos por inúmeros percalsos.

Morávamos de aluguel e meu pai nem sempre tinha o valor inteiro para pagar. Lembro bem das vezes que o sr. Peres, o senhorio, ia até lá em casa e conversava com meu pai e aceitava esperar mais uma semana, dez dias, para o pagamento integral. Eu, meu irmão e minha mãe ficávamos no quarto, aguardando a negociação.

A cara de "está tudo bem agora" do meu pai é algo que eu nunca vou esquecer. Simplesmente porque não estava tudo bem, afinal, ele tinha uma semana para conseguir o que não tinha conseguido em um mês.

E assim seguimos até 1983, ano em que sofri aquele grave acidente (relatado num dos primeiros textos desse blog). Nesse tempo meu pai tinha uma lanchonete, muitas dívidas e uma filha acidentada que precisava de um tratamento adequado. Adequado e caro, diga-se de passagem.

Aliás, lembro bem do Natal daquele ano. A festa foi na casa do meu tio Rubinho, irmão mais novo do meu pai.

Todas as pessoas da rua em que ele morava faziam uma grande festa com comidas, bebidas, brinquedos e um Papai Noel que chegava numa Brasília marrom. Nesse ano em específico, eu e meu irmão tivemos um presente apenas para cada um: eu ganhei uma boneca e o Fábio um carrinho (vou scanear a foto e postar aqui. Aliás, essa foi a minha primeira foto depois do acidente). Era o que meu pai podia dar.

Na virada de ano, ao contrário da festança natalina, tínhamos apenas um frango, salada de alface e arroz branco. E nossas vizinhas do andar de baixo abriram uma espumante e nos ofereceram em copos plásticos coloridos.

E isso tudo ficou gravado na minha memória com cores tão vivas que às vezes me assusto e me pego chorando, emocionada, por lembrar de tantos detalhes (ou porque a tal boneca foi a única coisa material que sobrou daquela época).

No ano seguinte meu pai vendeu a lanchonete e partiu para uma área que ele nunca havia trabalhado, mas alguém, em algum momento, resolveu dar uma chance. E ele soubre aproveitar e acho que nunca mais vi meu pai chorar por causa de necessidades materiais (bem, na verdade ele nunca chorou na nossa frente, mas mesmo sendo criança sabia que certas coisas não iam bem e os olhos vermelhos acabam denunciando aquilo que eu supunha).

E assim foi o primeiro passo para conseguirmos escalar a escadaria da felicidade.

Meu pai foi se dedicando, aprendendo, aprimorando, até que apareceu uma nova oportunidade, na mesma área e em outra empresa. Nesse período ele recebeu um certificado de uma importante empresa de auditoria atestando de que ele era o melhor profissional em seu segmento. Bem, pra quem não fez faculdade e nem segundo grau, aquilo era (e acho que ainda é) um verdadeiro diploma.

Dessa empresa para a que ele está hoje foi um pulo e um grande desafio: montar uma equipe e fazer uma indústria gráfica que só tinha máquinas dar lucro. E lá se vão dez anos.

Ele venceu muitos obstáculos ao longo desses 35 anos.

E apesar de tantos nãos, realizou cada sonho. E na próxima quinta-feira ele vai dar uma bela festa de Natal em sua casa. Ele merece.

Daí que eu me pego olhando todo o meu passado e esse exemplo chamado Roberto e me vejo na mesma situação.

As únicas diferenças é que ele não tinha ninguém pra ajudá-lo e eu tenho meu pai. Mas mesmo assim sinto uma insegurança tremenda a cada passo.

E esse ano está sendo a prova cabal de tudo isso: depois de tantas mudanças, tantas reviravoltas, consigo enxergar que 2009 foi um ano estupidamente difícil, mas maravilhosamente bom porque eu superei muitos obstáculos que apareceram (e apesar de achar que vieram todos de uma vez só, tenho certeza de que outros virão em breve).

Também paguei o preço de cada escolha que fiz.

Ainda estou desempregada, vivendo de minguados freelas. Ainda tenho dívidas, ainda tenho muitas dúvidas. Ainda tenho um orgulho besta que me impede de pedir mais ajuda. Ainda tenho a dignidade de saber que não posso viver sozinha. Jamais!

Ainda tenho muitas batalhas para travar e a maioria é comigo mesma. Ainda tenho que crescer, ou como diz meu pai, comer muito arroz com feijão pra ser gente grande.

Em 2009 perdi gente querida pra sempre, perdi gente que amava, perdi chances, oportunidades de trabalho, oportunidades de ficar quieta, oportunidades de me declarar ou de aceitar uma mão estendida ou ainda um acalanto para um coração que batia em descompasso.

Nesse ano que eu resolvi morar sozinha eu descobri a necessidade que eu tenho de estar perto das pessoas que amo, sejam parentes, sejam amigos, assim como também descobri de que definitivamente não gosto do silêncio, da casa vazia, das coisas arrumadas, como se não tivesse mais vida aqui dentro. E pensar que eu tenho filho e bicho...

Também não gosto de dormir sozinha e acordar sozinha naquela cama de casal - descobri que mais do que ser companhia, eu quero ter uma companhia.

E nesses últimos dias eu também passei a ter a certeza de que se eu não trilhar as mesmas estradas virtuosas do meu pai, ainda assim serei vencedora porque, pelo menos, eu tentei com todo o meu coração e esforço. Tanto é que se eu olhar naquele espelho que a Carla (uma amiga mega-querida) vivia me oferecendo pra eu ver a verdadeira Andréa, vou encontrar alguém que sabe o valor de cada tombo, e a delícia de conseguir levantar, com a certeza de que outras situações ainda virão. E eu vou encarar cada uma delas, sempre com aquele meu sorrisão na cara (minha marca registrada).

E se, como no filme eu tivesse que nomear cada fase que passei, sem dúvidas, essa parte toda da minha vida eu chamaria de felicidade.




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

L.E.R.


Estou sofrendo de L.E.R. - lesão por esforço repetitivo.


Há anos venho fazendo o mesmo movimento, da mesma forma, várias vezes por dia. Como percebi que a coisa começou a ficar insuportável de uns tempos pra cá (cerca de seis meses), passei a mudar uma coisinha aqui, outra acolá. Mas os paliativos não estão me levando a lugar algum.


Portanto, só me restam duas alternativas que, diga-se de passagem, se complementam. A primeira é parar com o maldito movimento e a segunda é tratar o que ainda dá pra ser tradado. Porque, diferente das lesões físicas, musculares, que muitas vezes não se recuperam, a minha é emocional e pode ser tratada.


Sofro de L.E.R. emocional. Tenho fibromialgia na alma.


Já me dói só de imaginar que eu terei que fazer algum movimento no mesmo sentido que ontem, anteontem, semana passada, mês passado. Estender a mão para quem não quer ajuda faz doer não só o meu braço, como pesa em minha alma. Fazer pelo outro e não ser percebida tem me machucado constantemente. E olha que a pessoa precisa de ajuda...


De certa forma, eu acabei de acostumando com a dor porque sabia que era passageira. Mas daí a passar um semestre nisso já é demais! Saiu do meu controle. Porém, o mais engraçado é que quanto mais se atinge o ponto inflamado, mais distante parece a dor. Chega a ser paradoxal, eu sei.


Já não consigo mais distinguir aonde dói. Tem horas que parece uma pancada qualquer, dessas que a gente dá na quina da mesa ou na porta só por ser estabanado. Tem horas que é lancinante e me paralisa. Mas em ambos os casos a culpa ainda é minha - seja por ser afoita e querer fazer tudo correndo, atropelando momentos, passando por cima do relógio emocional da(s) pessoa(s), seja por ainda ouvir um coração que bate em descompasso com a realidade.


É fato. Esses movimentos que tanto me machucam já são automáticos. Desconfio que os repito há mais tempo do que imagino, por isso a coisa já ficou crônica. E cada vez que uma necessidade de alongamento de sentimentos se faz necessária, julgo que sentirei dor e me retraio. Sem ao menos saber se será danoso ou não.


Como disse antes, preciso tratar essa lesão com urgência. Daqui a pouco terei virado uma estátua fria, sem emoções, sem capacidade de movimentos sutis (em busca de sentimentos igualmente sutis).


Cheguei mesmo ao meu limite.


E só descobri isso porque me restou apenas o movimento do pescoço para olhar para trás e ver que fiz tudo errado. De novo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

É o Bicho!!


Há dois meses adotei uma calopsita.
Na verdade, o Lilo - esse é o seu nome - era da minha sogra e, desde que ela faleceu, o bicho estava meio esquecido, porém, tendo casa e comida ainda.
Mas como essa espécie precisa de muuuuuita atenção e carinho, e o Zé já não podia mais atendê-lo, passei a cuidar dele. Daí, pra ajudar, quando o Zé mudou-se do apartamento que morava com a Leda e foi para outro menor, o Lilo veio de vez pra minha casa.

O Lilo foi acostumado solto, só ia para a gaiola para dormir (a contragosto, é claro). E aqui em casa a coisa não podia ser diferente. Se bem que a adaptação não foi muito difícil porque ele já me conhecia e aceitava minha companhia.

Aqui em casa eu arrumei um cantinho pra ele na área de serviço, próximo à janela da cozinha, e tratei de oferecer potinhos de comida, que espalhei em cantos estratégicos, e algumas tranqueiras pra ele brincar. E já que agora o bicho é meu, passei a deixar as janelas da lavanderia quase fechadas para que ele não fuja. Cuidados básicos para uma posse responsável. Mesmo porque uma calopsita vive em torno de 16 anos, e ele só tem dois aninhos!

Bem, nesses dois meses que ele está comigo posso dizer que muita coisa mudou. Além de ter alguns alpistes pela casa, que inevitavelmente são transportados com os sapatos, posso dizer que sou mais feliz com ele.

Porque um bicho, e isso já é sabido, faz um bem danado a qualquer pessoa.

Por viver solto, ele quer atenção o tempo todo, quer ficar no meu ombro, quer carinho, beijo (sim, ele é muito beijoqueiro), faz arte, como tentar arrancar meus brincos, canta, pia, grita, imita meus assobios. E como a gaiola dele fica muito próxima da janela da cozinha, quando estou pilotando o fogão ele bate o bico no vidro, pedindo pra entrar.

A noite, quando finamente sento pra assistir minha novela, ele é o meu companheirão: fica lá no sofá - ora andando no encosto, ora pegando meus cabelos. Ah! e como ele adora meu cabelo molhado!
Costumo dizer que o Lilo é um cachorro com penas e asas. Ele tem umas expressões absurdamente comunicativas. Ele tem uma personalidade forte e quando ele levanta o penacho no alto da cabeça então...
Não imaginava que um passarinho pudesse corresponder tanto ao dono!

Outro dia eu estava numa deprê danada (a tal crise tepeêmica) e estava chorando. Pois ele vinha bem próximo do meu rosto e encostava seu bico nas minhas lágrimas. Acabei rindo com ele, porque entendi aquilo como um carinho, um afago.
O Lilo também gosta do Lucca, tanto que o café da manhã é compartilhado: as casquinhas do pão do Lucca são dele.

Ah! Ao lado do prédio que eu moro tem o que restou de uma chácara e lá mora um galo que canta às 6h. O Lilo, que ouve o cantar do galo, responde cantando alto, como se estivesse avisando que já está acordado.

Ou seja, o início dos meus dias tem sido uma farra com ele.

Nesse momento ele está prestando atenção no que estou fazendo e está doido para vir até o teclado do notebook. Teclado que ele conseguiu quase destruir, já que arrandou uma tecla num piscar de olhos.

Como disse antes, não imaginava que uma calopsita fosse tão esperta pra me arrebatar, assim, de cara.

E eu que sempre quis ter um cachorro agora me derreto com o olhar maroto do Lilo e com suas travessuras pela minha casa.

E pra quem reclama que faz sujeira, eu digo que faz sim, muita sujeira. Mas é só varrer que a sujeira acaba.
E se os problemas na vida fossem assim, eu já teria varrido todos eles, junto do alpiste do Lilo, que me proporciona tantos momentos de alegria.
Minhas risadas aagora tem dono e nome: Lilo!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

25o Dia – Alguém tem um chocolate aí?


Como qualquer mulher normal, em idade fértil, eu também menstruo. Desde os 11 anos de idade eu alimento a indústria dos absorventes higiênicos. Considerando que estou com 35, foram, até o momento, pelo menos, 280 menstruações. Aliás, hoje estou no 25o dia do meu ciclo, o que significa que em dois dias eu deixarei de ser um monstro.

Sim, porque menstruação pra mim é sinônimo de TPM das bravas. Uma semana inteira (e, às vezes, um pouco mais) de muita ira, gula, inveja, luxúria, preguiça, etc. Experimento quase todos os pecados capitais em sete dias – praticamente um por dia! Sem falar da depressão e do choro incontido. Mês passado a infeliz me pegou em Florianópolis - depois de um vôo horroroso e de um hotel que não tinha nada para comer, tive uma crise daquelas, daí fiquei alugando por telefone o pai, a mãe, o namorado...

Bem, começo a perceber que as coisas estão saindo do controle pela forma de dirigir. A ira vem com uma buzinada por um semáforo que acabou de abrir ou por tentativas de ultrapassagens em locais impossíveis. Nesses dias tenho a sensação de que o mundo resolveu andar em marcha lenta. Não serei hipócrita aqui: se sou eu quem toma a buzinada ou levo um farol alto bem no retrovisor, xingo, olho feio, acelero e não dou passagem. Tudo sempre com os hormônios fervilhando, é claro.

Daí vem a gula. E essa, caro leitor, deve ser parceira da ira, porque vem de uma forma tão avassaladora que nem dá tempo de conter. Nessas horas pareço uma refugiada somali, que não vê comida (principalmente chocolate) há meses. E eu como de tudo. Aliás, atire o primeiro modess quem nunca se consolou numa caixa de bombons ou se acabou em barras de chocolate ao leite.

Depois de comer feito uma vaca no pasto de engorda, eu choro, sinto culpa, ofendo as calças jeans, que agora têm modelagem menor, praguejo contra o sutiã, que não cobre meus peitos (que estão com o tamanho quase que dobrado) e sinto a angustiante vontade de me trancar dentro do guarda-roupa, com um saco de doces e um pacote de lenços, é claro. Porque nessas horas dá uma preguiça imensa de ser feliz e muito menos de querer se arrumar, de ir namorar.

Também sinto inveja daquelas modelos magérrimas, que não engordam uma grama sequer porque não devem menstruar nunca! Assim como sinto uma cobiça danada por aqueles sistemas de interrupção da menstruação. Ah! Ainda vou colocar um daqueles...

Quando consigo me vestir (com uma roupa horrorosa, porque nesses dias nada fica bom), vou encontrar meu namorado, que é todo amor e atenção comigo, e ainda diz que eu estou linda. Pronto! Bastou a primeira palavra mal-entendida para que eu entre em erupção tal qual um vulcão ativo: voa lava pra todos os lados.

Me responde: como posso estar linda se a roupa é ridícula, estou inchada, tenho espinhas no rosto, estou parecendo um monstro!?

Só sei que falo impropérios, grito, esmurro o volante (por quê as crises têm que ser dentro do carro, hein?) e, cada vez que ele tenta balbuciar alguma coisa, mando o coitado calar a boca, porque, afinal, ele não me entende, certamente não me ama tanto quanto amava a ex... E o showzinho começa, sem hora para terminar e com direito a muitos “bis”.

Quando finalmente acaba, adivinhem o que eu faço?? Eu choro!!

Depois de explodir feito uma mulher-bomba iraquiana, eu me acabo em lágrimas, soluços e pedidos de perdão. Ele sempre perdoa, dizendo que sou louca, que preciso ir ao médico e me tratar.

Aí fazemos as pazes e então... os hormônios entram em ebulição novamente e a luxúria vem com tudo. Junto com ela vem as encanações do tipo “apaga a luz agora (senão você vai ver minha barriga inchada)”, “de quatro hoje nem pensar (senão você vai ver minhas celulites)”, e outras tantas que eu vou achando noite afora.

Depois de toda essa saga, ele sabiamente me pergunta:

- Em que dia do ciclo você está?

- 25o dia. Por que, hein??

- É que falta apenas dois dias pro monstro voltar a virar médico.

Depois dessa, certamente a ira retoma o círculo vicioso que é meu ciclo menstrual e tudo recomeça. Até a infeliz da menstruação aparecer, é claro!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E Saturno andou.


É isso mesmo: Saturno andou.

Segundo a astrologia, o planeta finalmente saiu do signo de Virgem (o meu, no caso) e foi aborrecer quem nasceu sob o signo de Libra. Lá se vão anos de freio de mão puxado, situações travadas, caminhos truncados. Dizem que esse plantena cobra de nós - de anos em anos (acho que são a cada sete anos) - tudo aquilo que não fizemos e não cumprimos. E eu , como não fui aluna aplicada, não podia ficar de fora, claro.

Ok, concordo... foram uns passinhos apenas, já que não aconteceram mudanças tão drásticas.

Mas o que vale é que algumas coisas andaram. E no meio disso tudo redescobri a força que tenho dentro de mim e, ficou evidente a minha melhor qualidade (sem a menor modéstia mesmo), a resiliência.

Por mais que a vida me puxe para um lado, os problemas para o outro, pessoas me puxando para baixo, e eu me esticando toda e perdendo a forma por várias ocasiões, ainda consigo voltar ao meu estado normal porque a minha essência me rege. E aí que está toda a graça da coisa.

Ok (parte 2), concordo que passar por apuros e perrengues não é legal, não é bacana. Dói, machuca, faz com que nos mutilemos muitas vezes. Mas é daí que a alma renasce. E quando olhamos para trás, já passou.

Aliás, queria agradecer "em público" um comentário da Elis Zampieri em que ela me dizia que tudo ia passar. E passou, Elis, passou... E parece agora que tudo ficou tão longe e eu tão forte, que já posso me preparar para o próximo desafio.

Porque a minha vida tem sido isso mesmo: um programa de desafios no grau plus-advanced, em que os obstáculos surgem do nada. E são aquelas lombadas altas, que a gente tem que por a primeira marcha, passar de lado, senão rala a frente do carro e o protetor de cárter. Não são intransponíveis. São chatas e nos obrigam a desacelerar em momentos em que a velocidade parecia tão boa... Mas se estão lá é para nos proteger de quebrar a cara num muro qualquer, na próxima curva ou numa simples reta.

Porém, como eu dizia ao abrir esse texto, Saturno andou.

Bem, não sei ao certo se foi ele quem andou ou se fui eu mesma que andei, que me mexi.

Confesso que andava meio prostrada, meio depressiva. Mas, poxa, tanta coisa aconteceu nesses últimos meses que eu estava muito dolorida para perceber que era inevitável dar o primeiro passo. Mesmo que doesse.

E doeu, vocês sabem. Escrevi aqui o quanto estava insatisfeita com tudo, contei da dor de ter que viajar para muitas cidades em curto período de tempo e deixar o Lucca.

Mas preciso contar uma coisa aqui, eu acordei desse torpor no meio de uma das viagens. Na verdade, foi na volta da última viagem, vindo de Brasília para São Paulo, num vôo tranquilo.

Decolamos às 18h e, com o horário de verão, o Sol do Planalto ainda estava alto (e quente, muito quente). Uma chuva se anunciava com nuvens escuras, quem vinham em direção ao aeroporto. No momento do embarque, e ainda no finger, vimos um arco-íris de cores muito fortes. Recebi aquilo como um sinal. E foi.

O avião subiu acima das nuvens e a chuva ficou lá embaixo, abençoando o cerrado. Lá em cima havia ainda o Sol. E foi essa imagem que me marcou: os raios entre as nuvens, aquela imensidão branca, laranja, lilás, azul. Nunca tinha visto o mundo daquela perspectiva (e olha que já voei em todos os horários possíveis). E a paz tomou conta de mim.

Por um momento me senti abençoada e percebi o quanto as lombadas foram importantes. Afinal, cresci e venho caminhando com segurança. Hoje olho para mim e me orgulho de coisas que queria esconder. Em meio a tudo o que já aconteceu comigo, descobri ainda que sou forte. Mas a minha força não está nos braços, nem nas pernas - está no meu coração.

É... Saturno andou, e eu dei mais um passo. Um dia eu chego lá, eu sei. Porque não cabe o que tem de bom dentro de mim.
PS: era pra ter escrito isso tudo ontem, data do aniversário de 26 anos de um acidente que quase tirou a minha vida. Era pra ser um agradecimento por aionda estar aqui e poder aprender tanto, todos os dias um pouquinho.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meritocracia e o reflexo.


A escola do meu filho (Colégio Delta) propos uma gincana para arrecadar prendas para sua festa junina: a classe que levasse mais ítens ganharia um passeio.
Pelo terceiro ano consecutivo, a classe dele levou o prêmio.

Isso é um exemplo clássico de meritocracia - um conceito que se baseia no mérito, ou seja, na competência de cada um, na capacidade de cada um. Aliás, existe até aquela frase lugar comum "cada um tem aquilo que merece", que ilustra tão bem essa teoria.

Porém, a escola do meu filho, que quis usar esse método tão moderno, escorregou na aplicação do mesmo. É que somente as crianças que levassem prendas poderiam ir no tal passeio. De trinta e uma crianças, seis ou sete foram privadas, segregadas, proibidas de ir. Lembrando aqui que os alunos da classe do Lucca tem nove anos de idade apenas.

Quando soube da história, fiquei muito incomodada em saber que escolhi uma instutuição de ensino que pratica o famoso "faça o que eu digo, e não o que eu faço". Porque, em se tratando de crianças, a inclusão é fundamental para a aprendizagem plena. Passei a considerar a hipótese de que o Colégio Delta está se transformando numa instituição financeira, cujo ensino, que era pra ser a cerne da questão, ficou em segundo plano.

Devo admitir que o Lucca não levou prenda e eu, que assinei o bilhete na agenda dele que continha o tal item absurdo (da privação do prêmio a quem não levasse prendas), não me atentei ao fato.

E sabem por quê? Porque naquelas semanas eu estava vivendo um inferno na Terra - minha mãe estava fora do País, eu estava procurando emprego, passando por uma fase financeira péssima, e a Leda foi internada no dia que veio o maldito bilhete.

Pra quem segue meu blog sabe da saga que foi a doença da Leda e o desfecho triste que a história teve. Pra quem não sabe, ou não lembra, foi mais ou menos assim: depois de lutar incessantemente, por seis anos ininterruptos, contra o câncer (que começou no seio, passou pelo útero e ovários, subiu para o estômago, chegou no pâncreas e, depois atingiu uma área entre o rim e o intestino), ela teve complicações glicêmicas e foi internada no dia 13 de maio deste ano.

No dia 31 de maio ela faleceu.

Nesse meio tempo, enquanto a escola recolhia prendas, eu revezava com o Zé a vigília no hospital e ainda procurava emprego, tanto que consegui um freela, e iniciei meu trabalho no dia 25 de maio.

Ou seja, eu nem lembrei das prendas mesmo, e admito que errei nesse ponto. Falta de atenção total da minha parte. Detalhe: a escola sabia do que estava acontecendo porque eu conversei com a professora do Lucca e ele avisou a mesma do falecimento da sua "Vó Leda".

Só para concluir a história, a festa junina foi no dia da missa de sétimo dia da Leda e eu e minha mãe comparecemos no evento apenas para prestigiar a dança do Lucca (que foi horas antes da celebração), sendo que ele não brincou com nada e não levou sequer uma prenda para casa. Mas pagamos as rifas - o talão completo - que funcionavam como entrada.

Por isso, essa semana, quando soube do fato, me perguntei se era preciso punir o Lucca e seus amigos com a privação do passeio (que acontecerá amanhã, dia 28). Indignada com os critérios da meritocracia aplicados, escrevi um bilhete, perguntando se a escola sabia dos motivos pelos quais as seis crianças não levaram prendas. E emendei uma pergunta sobre os valores que a escola quer transmitir aos seus alunos.

Bem, o bilhete foi lido e assinado pela coordenadora pedagógica no mesmo dia (quinta-feira passada) e uma promessa de resposta foi garantida por ela. Hoje já é terça-feira e nenhuma resposta veio para aplacar a minha necessidade de explicações.

Porque, afinal, estamos falando de educação em uma instituição de ensino. Que diabos de exemplos são esses que estão sendo passados para essas crianças? Que valores serão assimilados por elas? Não teria sido mais fácil chamar os pais "desatentos", ou "ocupados" para perguntar se eles aceitariam pagar o ingresso do tal passeio? Eu pagaria numa boa porque sei que não cumpri com o estipulado, mas ficaria feliz porque a escola encontrou uma forma de incluir aqueles que foram "prejudicados" pelos seus pais.

Já disse aqui que quero que meu filho se torne um cara legal, com valores, moral, respeito por tudo e por todos. Quero que ele entenda a necessidade da justiça e sua aplicação como tal. Aqui em casa não existe a tal meritocracia porque acredito que o entendimento das coisas por parte do Lucca seja o melhor meio para alcançar um resultado satisfatório. Afinal, ele não é o cãozinho desobediente que aprende a buscar a coleira só porque vai ser recompensado com um petisco.

Aqui em casa se ensina que a vida é muito mais que isso. O Lucca assistiu o exemplo da Leda, que lutou com todas as suas forças até o fim contra uma doença maldita que a venceu. Aqui se ensina que às vezes, por mais corretos que sejamos, nem sempre vencemos, mas que é fundamental jogar limpo porque temos consciência dos nossos atos. E se fizermos algo de errado, ela certamente pesará.

Há muito tempo venho percebendo que as escolas se preocupam cada vez mais em fornecer o ensino pedagógico porque, claro, educação se dá em casa. Mas as instituições se esquecem que exemplos são dados diariamente por meio das atitudes de seus funcionários - professores, faxineiras, coordenadores, diretores, administrativo, etc.

Ou vai dizer que o troca-troca de professores (de inglês, no caso da escola do Lucca) não é um sinal de que algo está estranho? Ou ainda, como quando a lancheira do Lucca sumiu dentro da escola e ninguém fez nada por isso? Detalhe: a lancheira era novinha, e tinha todos os contatos do Lucca marcados com caneta nanquim. A reposta que obtive foi de que seria impossível a escola arcar com a resposição da mesma porque não dava para pagar por cada coisa que sumisse.

A lancheira me custou quase R$50,00. Depois desse episódio, convencer o Lucca a levar o lanche foi uma tarefa nada fácil.
Ainda acredito que virá alguma resposta do Colégio Delta. Mas tenho pra mim que estará calcada no princípio da transparência, e todo esse discurso que só serve pra encher apresentação de power point e impressionar cliente. Uma pena. Porque o que é transparente não se vê, não se toca, não se assimila (até mesmo o ar, que é trsnparente, é sentido quando respiramos). E isso com crianças não funciona.

Eu prefiro o conceito do reflexo, porque sei que meus exemplos reais serão aproveitados por inteiro. Porque eu não escondo do meu filho o jogo da vida - o tenta, cai, levanta, vence ou perde. Tomara que outros pais pensem assim também. Tomara que educadores, um dia, pensem assim também.

Tomara que, por fim, consigamos mudar o rumo dessa estrada para vermos, assim, uma geração consciente de suas escolhas para si mesmo e para com o próximo. Sem esquecermos que um dia o "próximo" pode ser ele mesmo. E daí, como será?

"É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca." (Dom Hélder Câmara)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mea culpa.


O dia começou cedo para mim hoje. Às 5h40 eu já estava debaixo do chuveiro, passando mentalmente a agenda, os compromissos, as viagens.

Saí do banho, aprontei o café do Lucca, que levantou como um zumbi e comeu sozinho na cozinha. Fui terminar de me arrumar correndo, secar cabelo, separar uniforme, levar a calopsita para a área de serviço, abrir a gaiola, colocar o pãozinho pra ela, dar um minuto de atenção pro bicho e depois pro filho. Como não dá tempo de fazer tudo, porque o horário é contado, quem fica sem a atenção é o Lucca.

Quando já estávamos no carro, o Lucca resmunga que o cabelo dele estava espetado, feio. Retruco que não está tão ruim, que é pra colocar o boné pra disfarçar. Sigo em frente, no trânsito matinal, em que todo mundo quer chegar ao mesmo tempo, e no mesmo lugar. Ele permanece em silêncio, finge que está dormindo e eu tento simular um bom humor incrível pra ver se contagio meu pequeno.

Claro que não dá certo.

Chegamos em frente a escola, descemos correndo, o sinal está tocando, ele segue em frente sem olhar pra trás. Chamo pelo seu nome e quando ele olha digo que o amo, e amo muito. Ele volta e me pegunta:

- Mamãe, quando vou te ver de novo?

Meu coração se parte em um milhão de estilhaços porque ele tem razão. Hoje estou indo a trabalho para Florianópolis. Anteontem estava em Belo Horizonte. Domingo vou para Recife e na terça, para Brasília. Entrei no carro e desabei a chorar. Na minha ansiedade de fazer tudo dar certo, atropelei a mim mesma e meu filho está perdido nessa confusão toda.

Desde que comecei esse job, há quase um mês, não sei mais o que é ter vida, arrumar casa, curtir filho, cozinhar, dormir bem, namorar, passear. O Lucca tem ficado muito tempo na casa dos meus pais e por mais que ele curta os avós, sente falta do seu canto, dos seus brinquedos.

Ele sai às 6h45 de casa todos os dias e só retorna depois das 22h.

E diante da pergunta dele hoje, voltei a me questionar quanto à minha profissão: será que preciso mesmo disso tudo para ter um salário legal, dar coisas legais a ele, bancar escola, roupa, casa, diversão, se eu mesma não consigo (por absoluta falta de tempo!) me dedicar às tarefas de mãe? Me sinto culpada por não cumprir com minhas obrigações: dar atenção, carinho, educação a ele.

Como assumi um compromisso, preciso ir até o fim do job (que acaba dia 30), mas com a certeza de que eu realmente não quero mais isso pra mim. Uma vida mais tranquila é o meu ideal. E eu vou chegar lá, mesmo que para isso tenhamos que modificar nossos padrões, cortar gastos, modificar hábitos. Tudo para nunca mais ouvir a pergunta que ouvi hoje.


PS: consegui um vôo que chega a SP às 21h de amanhã. Ou seja, vou fazer uma surpresa pro Lucca e passar todo o fim de semana com ele, porque domingo vou para Recife.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qual é a sua causa?


Recentemente aceitei um trabalho temporário de assessoria de imprensa numa agência de grande porte.


Mais do que uma possibilidade de voltar ao mercado, o que me chamou atenção foi o tema do trabalho - uma ação para um grande laboratório farmacêutico em torno do câncer de mama, intitulada Outubro Rosa.


A ação nada mais é do que um conjunto de eventos em diversas partes do País que levam informações às mulheres acerca desse tema, e iluminam de rosa monumentos e prédios públicos e privados (no Rio de Janeiro será o Cristo, em São Paulo, o Monumento às Bandeiras, etc...). E esse ano, o Outubro Rosa conta com o gancho da lei que obriga o SUS a realizar exames de mamografia para todas as mulheres acima dos 40 anos. Uma vitória para as quase 50 mil mulheres que serão diagnosticadas com câncer somente esse ano no Brasil.


Bem, o tema já me é familiar. Como vocês sabem, convivi com isso nos últimos cinco anos da minha vida com a Leda. Vivenciei cada dia, cada sofrimento, cada exame, diagnóstico. Vale dizer aqui que todo o calvário dela começou com um câncer de mama, diagnosticado há quase 20 anos, quando os exames para diagnósticos eram ainda imprecisos (assim como o tratamento, que não era muito eficaz).


Depois disso, passei a prestar mais atenção ao meu redor e vi quantas pessoas tem essa doença. O caso mais recente que eu tive acesso foi uma moça - pra não dizer uma menina linda - que, no alto dos seus 26 anos, teve um câncer diagnosticado atrás do pulmão. Ela é mãe de um menino igualmente lindo, que tem apenas 8 anos de idade. O marido dela é um fofo, companheirão, paizão. E ela tem um bom humor incrível, uma força avassaladora, uma garra que eu já vi antes, numa outra pessoa tão forte quanto ela.


Sem contar que está sempre arrumada, maquiada. Nem a quimioterapia, que arrasou com seus cabelos, conseguiu derrubá-la: para isso, lançou mão de uma peruca de fios naturais tão bonita, que eu não acreditei que era peruca!! Não consigo parar de pensar nela um minuto sequer e, assim, rebaixei meus problemas do "nível extremo" para o "nível solucionável".


E daí que parei pra pensar em tudo isso e cheguei à conclusão de que as pessoas que são diganosticadas com essa doença se dividem em dois tipos: as que não aceitam que a doença possa vencê-las, e as que não aceitam que estão com a doença. O primeiro tipo vive muito mais do que o segundo e, em muitos casos, consegue se curar. Principalmente se o câncer for diagnosticado logo no início.


Ah! Mas como saber se vou ter câncer, ou se tenho algum tumor?


A resposta é meio óbvia, mas muito real: preste atenção no seu corpo. Ele dá sinais sutis de que algo não vai bem.


No caso do câncer de mama, o autoexame é indicado para mulheres jovens, porém, quando um tumor é notado pelo toque, é que ele já tem "corpo" suficiente para causar estragos. A mamografia só funciona em mulheres mais velhas, mas pode ser feita em nós também - trintonas e vintonas - a partir de um pedido médico. Na verdade, se cuidar é o grande segredo. Mas sem "nóias", sem ficar alucinada com comida, modo de vida, etc e tal.


Aliás, eu mesma passei por um susto há sete anos: depois que o Lucca nasceu, meus seios aumentaram de tamanho por conta da amamentação. E eu não me dei conta que, mesmo depois que meu filho deixou de mamar, o número do sutiã havia aumentado também. O resultado foi um edema no seio esquerdo, causado pelo "ferrinho" que sustenta o bojo. Mas até descobrir que não era nada, passei dias tensos, com muito medo.


Por tudo isso resolvi que vou abraçar uma causa que envolva mulheres com câncer. Ainda não encontrei uma ONG ou Instituição, mas estou procurando algo que seja próximo da minha casa (por questões logísticas). Fará bem para mim, para minha alma e, principalmente, para o próximo.


E você? Qual é a sua causa?


Para saber mais, acesse: http://www.mulherconsciente.com.br/


OBS: já abracei a causa do Outubro Rosa, tanto que vou pedir para meu médico uma indicação para a primeira mamografia.

sábado, 3 de outubro de 2009

A crise e a oportunidade.


Estou vivendo uma fase completamente adversa àquela que tinha sonhado pra mim.

Desde que passei a morar sozinha com o Lucca, em fevereiro deste ano, imaginei que os obstáculos viriam, sim, ao meu encontro, e numa cadência digna de corrida, com um espaçamento entre eles.

Ledo engano.

Hoje percebo que pouco avancei desde o primeiro dia.

Talvez mais madura, mais consciente. Porém, sem ter feito de cada crise uma oportunidade real de crescimento. Ou seja, mesmo tendo ciência das coisas (e olha que na teoria funcionou muito bem), eu simplesmente não agi. Fiquei, ora prostrada, ora correndo atrás do próprio rabo, procurando uma saída.

Não percebi que a saída estava em mim mesma. Agir, superar, atravessar a tormenta no sentido contrário a corrente, cuidando de mim sempre, eram as minhas alternativas. E eu fiquei nadando na margem desse mar de insatisfações em que me encontro. O resultado é que me sinto cansada, como se tivesse corrido uma maratona louca dentro de um labirinto e sem chegar a lugar algum.

Até que essa semana finalmente apareceu o tal desafio que eu citei no outro texto (A esmo).

Aceitei um job numa agência bacana, para uma causa mais bacana ainda - conscientização acerca do câncer de mama - numa ação intitulada Movimento Outubro Rosa. Me identifico com o tema.

Acontece que eu também já havia começado um outro trabalho freelancer, para uma agência de um amigo lá de Santos, que está apostando em mim como a saída para os obstáculos dele. E eu, na ansiedade de querer resolver tudo ao mesmo tempo, não percebi que toda a responsabilidade estava só nas minhas costas, e fui acumulando funções, tarefas, posturas que não eram minhas. Daí que encavalou tudo.

E a vida passou a por à prova minha capacidade de gerir tudo isso: computador pifou, filho ficou gripado, minha coluna travou, a enxaqueca voltou com tudo, o job pro Outubro Rosa me consumindo alucinadamente, minha casa para administrar, minha saúde, a atenção para o Lucca, cuidados com o periquito (adotei uma calopsita)... E eu, aqui, tentando ficar firme diante de tanta adversidade. Pra ajudar, não recebi por um trabalho que fiz e a grana, que já estava muito curta, minguou de vez.

Daí que de ontem pra hoje eu tive uma explosão de ira. Tolerância zero mesmo. Daquelas que a gente fala tudo o que está entalado na garganta para aqueles que acham que a vida (no caso, a minha) está fácil: "Os obstáculos são meus, as dificuldades são minhas, portanto, não criem mais problemas além daqueles que eu já tenho". Esse foi o meu discurso.

E sobrou pra todo mundo. Inclusive para aqueles que acham que a solução das crises está no outro, e se recusam a olhar pro próprio umbigo. Pessoas desse naipe não vão sair nunca do mesmo lugar porque sempre culpam o outro, a situação, os obstáculos, enfim, pela lama em que vivem.

Eu, definitivamente, não quer isso pra mim.

Segundo dizem, na milenar sabedoria chinesa, crise e oportunidade se complementam na mesma palavra, formada pelos dois ideogramas que ilustram esse texto. Portanto, essa é a hora de inverter o jogo.

Hoje acordei com a certeza de que fiz tudo errado até agora, e consertar o rumo dessa história só depende das minhas (re)ações. Talvez eu perca tudo, talvez eu passe a ganhar ao longo do caminho. A vida é imprevisível.

Só sei que a única coisa que não posso mais perder, nem deixar de lado, é a fé um mim mesma. Assim conseguirei ver com mais clareza uma brecha das oportunidades que se escondem atrás desse muro de obstáculos.

E lá vou eu mais uma vez.



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A esmo.


São 10h44 da manhã e eu tenho três releases para escrever e mais um planejamento trimestral de um cliente. Tudo pra hoje. E desde segunda-feira a noite estou tentando, mas devo confessar que não sai uma linha sequer.

Parei, bloqueei, esvaziei, enchi, me perdi. Sei lá.

Escrever sempre foi meu prazer e não importava se era redação na escola, release para cliente, texto pros blogs. O fato agora é que eu simplesmente não consigo.

Aliás, esse texto também é um parto para mim, porém me obriguei a vir até aqui para exercitar meu dom. A verdade é que a coisa já virou obrigação faz tempo. E quando chega a esse ponto, tudo fica comprometido - qualidade, inspiração, critérios, prazos...

Há mais de um ano detectei que estava em crise com minha profissão (que tanto amava). Cansei disso tudo, perdi motivação, tesão e já não me reconheço mais atuando. Prova disso é que em plena reunião de briefing anteontem eu quase não abri a boca e me limitei a seguir o roteiro de perguntas.

É óbvio que isso não está correto e que não vou chegar a lugar nenhum agindo assim.

Mas eu sei que esgotei minhas possibilidades nessa profissão, ou talvez apenas no segmento de assessoria de imprensa. Talvez se eu começasse a fazer algo diferente na área de jornalismo eu me sentisse melhor. Não encaro um bom desafio faz tempo.

Perigoso escrever isso aqui, eu sei. Mas já não dá mais pra esconder que ando bem broxada, seja pela mesmice das coisas, seja pela parte financeira (que na minha opinião é bem mais devastadora do que os outros fatores). Mas também fico me perguntando o que fazer, ir para qual área, pedir ajuda para quem, onde, como. Não consigo encontrar uma saída.

Eu tinha idéia fixa de voltar a dar aulas e para isso estava até disposta (diante da necessidade) a cursar uma faculdade de Letras. Mas enquanto eu estiver estudando, vou precisar me sustentar e daí caio na mesma ladainha das perguntas: o que fazer, ir para qual área, pedir ajuda para quem, onde, como...

Sei fazer artesanatos e amo mexer com isso. Podia ser uma alternativa se eu não fosse tão bombardeada pelos familiares que apostam que isso é uma furada, ou "coisa pra quem tem marido que a sustente". O que não é o meu caso, obviamente.

Também pensei em montar uma empresa de organização domiciliar, daquelas que arrumam armários, gavetas, despensas, etc. para pessoas que são desorganizadas ou simplesmente não têm tempo para isso.

Gosto muito de paisagismo e decoração: pensei em uma loja que pudesse unir as duas coisas, mas novamente caio na necessidade do investimento que viria dos meus familiares que, claro, acham bobagem tudo isso. Para eles é impossível que eu queria sair da área que escolhi ainda antes dos meus 20 anos. E olha que há uma semana completei 35...

E diante de tanta falta de incentivo, sigo caminhando pela estrada que construí ao longo de 12 anos de profissão, procurando um atalho, uma saída, uma trilha qualquer. E comparo isso tudo ao fim de um relacionamento: quando a coisa acaba por completo, não há nada que faça mudar o destino dos envolvidos, senão seguir em frente e começar tudo de novo, passo a passo.

Porque eu não me importo em ser mais uma num mercado de trabalho, em qualquer área. O que vale pra mim é a satisfação de entregar alguma coisa com amor, repleta de energias positivas e ser reconhecida por isso.

Reconhecimento é a energia que move qualquer um.

E como nem eu mesma já não me reconheço, continuo assim, andando a esmo por aí, como num labirinto, ou num latifúndio dentro de mim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Enfim, 35.


Mais um aniversário.

Mais uma velinha no bolo (daqui a pouco vou ter que chamar os Bombeiros para apagar o "incêndio"), e mais um monte de histórias para escrever, para contar.

Hoje, 16 de setembro, completo 35 anos.

Acho essa uma idade simbólica, cheia de significados. A começar pela projeção de que já estou quase no meio da minha vida. Ou seja, estou perto da metade da minha vida (claro, numa projeção meio IBGE, baseada na expectativa de vida do brasileiro).

Com isso, também penso na questão da maturidade. Já sou uma balzaquiana há cinco anos e, coincidência ou não, percebi uma mudança de atitudes, de pensamentos, de postura diante de certas coisas, pessoas, desafios. Embora a ansiedade seja a minha marca registrada, me sinto mais tranquila para resolver ou decidir acerca de muitas situações.

Tem também o fato de que, somando os números da minha idade - 3+5 - temos o 8. E, segundo a numerologia, ele significa a continuidade eterna (por ter o formato do infinito), representa a conquista daquilo que é meu por direito, por meio de planos fundamentados pelo senso ético e de justiça.

Enfim, acho que estou perto daquele momento em que finalmente passamos a gozar a vida. Talvez eu ainda esteja com as vistas embaçadas por lágrimas das tantas mudanças bruscas de direção, que me fizeram recuar passos e passos para trás. Graças a tudo isso percebi que tinha pego o caminho errado. E agora volto por uma estrada nova, diferente, com obstáculos a superar tão inesperados quanto os de antes. Porém, hoje eu tenho calma e paciência para estudar como superá-los para não sair igual a uma "vaca louca" correndo e derrubando tudo pelo caminho.

Hoje pela manhã, enquanto preparava o meu café (estava bem cedinho ainda), disse em voz alta: OBRIGADA POR MAIS UM ANO, POR MAIS UMA CHANCE. Não preciso pedir mais nada, afinal, eu sempre tive tudo em minhas mãos. É assim que eu me sinto - agradecida, plena e pronta encarar mais essa missão, mais esse ano.

Pena que demorei tanto para saber como usar cada coisa. A minha fé depende de mim, meus resultados também, assim como o respeito dos outros, o reconhecimento, o amor, a amizade. A partir das minhas atitudes virão todas essas coisas.

Hoje vou almoçar com meus avós e com meu filho, ou seja, com as pessoas que eu mais amo nessa vida (me desculpem os amigos queridos, mas o Lucca é o número 1 na minha vida, a Vó Nora é o número 1b e o Vô Mello o 1c). Ainda não sei o que vou fazer a noite, mas posso estudar os convites...

Só sei mesmo que não vou fazer grandes comemorações - primeiro porque a grana está beeeem curta esse ano, e segundo porque eu nem estou com o espítiro de bagunça, como os outros aniversários.

Porém, o mais importante é que meu peito está em festa, Mil mãos me aplaudem por dentro por eu ter chegado até aqui - e olha que teve acidente grave, gravidez de risco, parto antecipado, muitos tombos, foras, demissões, decepções, solidão, recomeços, recomeços e mais recomeços. E eu saí de tudo isso - ilesa ou não - bem mais forte.

Mas eu também tive tanta coisa boa que em um texto de blog não caberia todas as risadas, alegrias, vitórias, momentos de pura felicidade, êxtase mesmo.

E eu entendi que a palavra mágica é OBRIGADA!

Portanto, a todos e tudo, responsáveis direta ou indiretamente por eu ter chegado até aqui, o meu muito obrigada. De verdade mesmo.

Hoje a paz invadiu meu coração.

E foi o melhor presente que eu já recebi em toda a minha vida.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ódios Cotidianos.


Detesto lavar louças. "Prontofalei"!
É verdade.
Talvez não exista coisa mais insuportável para mim do que lavar louças: só de olhar a pia cheia de pratos, copos, talheres e panelas me esperando, sinto arrepios. Mas infelizmente tenho que fazer essa atividade, já que não conto com secretárias do lar.
Para isso, uso luvas de borracha e muito detergente - do tipo biodegradável pra consciência não ficar tão pesada. Aliás, hoje em dia o meu sonho de consumo é uma torneira com água quente, só pra não ter que ficar aquecendo água na chaleira ou no microondas para lavar mais rápido a louça. Até tenho máquina de lavar louças, mas acho um desperdício de água e luz por apenas um par de copos, pratos e talheres. Sem contar que não dá pra enfiar as panelas lá.
Também vou confessar: lavar banheiro e cozinha não são tarefas que faço com prazer. Principalmente a minha cozinha, cujos cantos são caídos e o ralo, que fica lá na lavanderia, é mais alto que o Everest, e está localizado logo abaixo do tanque e ao lado da parede. Ou seja, cada vez que invento de lavar a cozinha e área de serviço, perco umas duas horas e cerca de 800 calorias (tinha que ter alguma vantagem nisso tudo, né?).
Talvez eu não tenha sido treinada para isso, muito embora eu saiba fazer de tudo mesmo. Muita coisa foi minha mãe quem ensinou porque ela é uma dona de casa nata, daquelas que abrem mão de empregadas por considerar que essas profissionais não fazem o serviço tão bem quanto ela.
Acontece que, como disse antes, não fui treinada para isso. Ou seja, traçando um paralelo com minha mãe, enquanto a geração dela sabia que era isso que tinham que fazer e ponto final, a minha turma estava na faculdade, pensando em como ingressar no mercado de trabalho ou, como no meu caso, viajando para atender clientes de fora de São Paulo, tomando o primeiro vôo para Curitiba, Florianópolis ou Porto Alegre e voltando no último avião para pousar em Congonhas. Com isso, as tarefas domésticas ficaram esses anos todos a cargo da minha mãe.
Tenho muitas amigas que não sabem sequer fritar um ovo, nem separar roupas por cores na hora de colocar na lavadora. Aliás, outro dia ouvi uma história hilária: a mocinha (amiga da minha prima Danuza) havia acabado de se casar e, para agradar o marido, comprou umas torradinhas, uns queijinhos e colocou água para fazer gelo, para oferecer um uísque quando ele chegasse em casa. Pois bem, estava tudo ok, até que o gelo não saía das forminhas que, por sua vez, tinha um formato estranho. Resumo: ela colocou a água no suporte de apoio para os ovos, pensando ser a forma de gelo.
Definitivamente a minha gereção não veio para isso. E eu acho um absurdo sermos julgadas por não sabermos fazer essas coisas! O pior é que ainda existem homens que acham que deveríamos ser iguais às suas mães nas tarefas domésticas, além de, claro, trabalharmos fora e a noite estarmos lindas, cheirosas, depiladas e dispostas a dar.
Mas, voltando aos desafios cotidianos, existem coisas que eu amo fazer, e faço tranquilamente, com prazer mesmo.Uma delas é cozinhar.
Acho uma delícia preparar a comida, mesmo que cotidiana - arroz, feijão, carne, salada. A única coisa que eu ainda estou me acostumando é a questão da quantidade, que diminuiu bastante, já que agora sou só eu e o Lucca (porque meu irmão fica mais tempo fora de casa devido ao novo trabalho). Mas mesmo assim cozinhar é uma coisa que me dá prazer. Tanto que adoro quando as meninas (do blog De Salto Alto e Batom) vem comer aqui em casa. Aliás, curto muito receber meus amigos com coisinhas gostosas e um bom vinho.
Outra coisa que não ligo em fazer é passar roupas. Faço do jeito que sei fazer, mas não morro porque a camisa não está impecável. Tomo cuidado com colarinhos, vincos em calças, procuro usar um peçado de pano de algodão sobre algum tecido que tenho dúvidas ou que considero delicado, assim como com estampas e relevos (já que as camisetas do Lucca são mega-estampadas). Só não sei engomar.
Também não me importo em esfregar meias ou camisetas do uniforme do meu filho, que chegam em casa como se ele tivesse rolado por todo o chão da escola. Mas, no caso das meias, tomei uma providência: comprei meias nas cores preta, marinho, e mescla principalmente. As brancas já são minoria na gaveta.
Só sei que com a minha escolha em morar sozinha tive que deixar certos "ódios cotidianos" de lado e por - definitivamente - as mãos na massa.
E se, por acaso, alguém não me quiser só porque odeio lavar louças, saibam que tenho outras tantas qualidades, como por exemplo, saber dividir tarefas. Ou seja, eu cozinho e você lava, ok????
PS: só não compro artigos descartáveis porque minha consciência ecológica ainda é maior que meu ódio em lavar louças).

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Da falta que me faz.


Sou otimista por natureza.
Sempre acredito que o melhor vai acontecer - uma hora ou outra - e que os obstáculos são os temperos que deixam as vitórias mais saborosas.
Sempre acordo pensando que o hoje vai ser melhor que ontem e, assim, sucessivamente.
Mas tem uns dias que não dá pra carregar o sorriso na cara o tempo todo, como também não dá pra apagar eventuais problemas ou aparentes faltas de soluções que venham ao meu encontro.
Nesses dias e nessas horas sinto falta de algo.
Algo que teoricamente tenho, mas que não funciona (se é que funcionou algum dia).
O que preciso não está - infelizmente - na minha maravilhosa amizade com as meninas do bloge (De Salto Alto e Batom), nem no colo dos outros amigos, não está no olhar do Lucca, nem no amor do Zé, que um dia eu tive. Não encontro o que preciso no melhor vinho, na melhor viagem, no prato que mais aprecio. Coisas materiais, nessas horas, não têm peso, valor, nem importância.
Nesses momentos me falta algo intangível, mas totalmente real.
A maioria das pessoas tem e sabe como é bom.
Pra ser sincera, acho que nunca tive...
Por isso, tem dias que vivo como que em suspensão: me faltou aquele ar no momento crucial e, a partir dali (que eu não faço idéia quando foi exatamente), nada andou. Se é que houve um antes, se é que houve história antes.
Me faltou um olhar de compaixão, um suspiro pela vitória ou pela derrota, me faltou foi uma boa conversa, ou um papo sincero. Me faltou igualdade, amor, liberdade para que eu tivesse confiança de seguir em frente e voltar. Me faltou um abraço a cada volta.
Me faltou aquele sorriso de satisfação, daqueles que a gente solta quando a "obra-prima" supera seu criador.
Sobrou foi a falta de proximidade, de identidade, de amizade. Sobrou foi a competição, o prazer em subjugar. Sobrou frieza, pouco caso, desconsideração. Sobraram apontamentos para meus erros - elementares ou não - e sobram penas duras até hoje pelas minhas escolhas. E olha que eu só quero ser feliz.
Me doeu cada não displicente, e me dói ainda hoje. Principalmente quando o não vem no plural e atinge não só a mim, mas meu filho também.
Me dói ter que chamar alguém por um rótulo que não me diz nada, e o qual me tornei sem ter experiências ou exemplos bons. É como se faltassem tábuas para completar uma ponte, e fazer, assim, o caminho se tornar mais seguro e certo.
Hoje eu sou a mãe do Lucca. E sou, sim, de boca cheia, repleta de orgulho por ser mãe e não uma geladeira ou uma Esfinge. E sou tudo aquilo que não foram para mim.
Já, dos outros, eu não posso dizer o mesmo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

No Limite.


Estava desde quinta-feira sem ver tevê.
Fiquei ocupada com uma série de coisas e deixei os programas para depois. Nem Fantástico, nem Domingo Espetacular, nem MTV. Nada.
Pois hoje parei para ver os jornalísticos da hora do almoço e daí resolvi mudar completamente o tema do meu texto. Eu ia falar sobre o progresso da minha dieta, mas depois de ver tantos absurdos, precisei escrever algumas coisas.
Diante de notícias tão assustadoras, cheguei à conclusão que isso sim é viver no limite. E eu não estou me referindo ao programinha global, com obstáculos de mentira. Estou falando de vida real.
Por isso, resolvi listar algumas coisas que me deixaram passada - seja pela falta de educação, pela ausência de gentileza ou de noção mesmo. Aliás, não me calquei só nas notícias de hoje, mas também nas experiências diárias no trânsito e com gente de todo o tipo e em todos os lugares.
Vamos aos fatos:
- briga na saída de um hipermercado paulistano porque a catraca do estacionamento não abriu, um motorista não quis esperar e acabou batendo no primeiro carro, que aguardava a abertura da cancela. O motorista prejudicado foi anotar a placa do outro carro e daí, sem a menor cerimônia, o causador da batida passou - literalmente - por cima do rapaz, que ainda foi arrastado por cerca de 100 metros, enquanto o outro fugia alucinadamente.
- madrugada carioca e em plena avenida Brasil dois cavalos andavam pela pista da esquerda. Um motorista não consegue para a tempo e atropela um dos animais que, depois de ser lançado longe, morre na hora. O motorista sofreu ferimentos leves, e não corre risco de morrer. De quem era o cavalo, ninguém sabe.
- no Nordeste a mesma situação: um animal no meio na pista e duas pessoas numa moto morrem porque não puderam desviar do bicho. O dono desse cavalo também sumiu.
- nos Estados Unidos um homem (uma dessas celebridades de reality show) mata a esposa, pica o corpo em pedacinhos, vai para um hotel no Canadá com uma garota de programa e, aparentemente, se mata. A identidade da esposa só foi descoberta graças ao número de série da prótese de silicone que ela tinha.
- a prefeitura de São Paulo ordena a desocupação de uma favela na zona sul da cidade. A polícia chega com dos oficiais de justiça e confusão inicia com um incêndio, tumulto, corre-corre. O resultado é gente ferida na pele e no orgulho. A prefeitura oferece vagas em albergues para quem não tiver para onde ir. Como ninguém aceita (é claro!), o órgão resolve emitir passagens de volta para aqueles que quiserem voltar para suas origens. A saída mais fácil para uma limpeza ética: mandar de volta quem constrói a cidade.
- hoje não falaram de política ou, mais precisamente, do Senado. Acho que devem estar submetendo os publicitários do governo à criação de uma campanha pela mudança de nome do Conselho de Ética. Para mim, devia se chamar "Conselho de Estética": só com muito óleo de peroba na cara mesmo para enfrentar uma situação dessas.
- ainda em São Paulo, o governo do Estado deu início às obras de alargamento das marginais Tietê e Pinheiros. O que provavelmente será um benefício para a população (muito questionado por ambientalistas e urbanistas - e também por mim), tornou-se um inferno hoje em dia para quem precisa se deslocar. No sábado a noite, por volta das 20h30, levei cerca de 40 minutos para percorrer entre a ponte Atílio Fontana e o Cebolão. É que as tais obras ocupavam três, das quatros pistas, e só passava um carro por vez.
- também nas marginais há uma pista de recuo para quem muda da faixa expressa para a local. Mais precisamente, depois da Ponte do Limão, há um exemplo clássico: os mais apressadinhos ocupam a pista de recuo e, quando esta acaba, tentam invadir a pista da esquerda. E o trânsito pára.
- lá em Osasco um segurança do Carrefour agrediu um homem negro no estacionamento apenas por considerar que ele poderia roubar algum carro - por ser negro, é óbvio. O homem, que foi duramente agredido, estava em seu carro, com sua filha de dois anos de idade dormindo no banco traseiro, enquanto aguardava a esposa e o outro filho que faziam comprar no supermercado. O segurança foi afastado e a gerência daquela loja, demitida. Ah! O homem terá que passar por algumas cirurgias porque seu maxilar foi quebrado.
- por fim, sábado eu fui almoçar num restaurante em que se vendem grelhados. Por ser de sistema self-service, e depois de me servir de saladas e legumes (olha a dieta aí gente!), me dirigi até a balança e pedi um pedaço de peito de frango. O atendente foi ríspido: "aqui a gente só vende o peito inteiro. Vai querer ou não?" Respondi que queria apenas um pedaço e ele retrucou: "olha, se você quer comer pouco, pega uma coxa." Fiquei sem saber o que dizer, apenas disse um "não gosto de coxa", virei as costas, fui para a mesa e relatei o fato para a pessoa que me acompanhava. Indignados, ambos chegamos à conclusão que deveríamos chamar o gerente. E qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que o gerente era, na verdade, o tal atendente da balança. Pedimos a conta e fomos embora.
E eu que achava que TPM era coisa de mulher e que durava uma semana, resolvi mudar de opinião diante de tantos absurdos. Penso ainda que as pessoas estão perdendo a mão a cada atitude, e que o outro... bem, o outro nada mais é do que o outro. E dane-se!
Mas eu ainda creio que gentileza gera gentileza.
E, mesmo desconfiando que a atitude seja cafona, também me preocupo com o próximo, desejo bom dia ao porteiro, dou a passagem no trânsito. E dou às costas para gente boçal, como o gerente do restaurante.
E como diz o Beto Castro, um grande amigo meu (e blogueiro como nós), não posso mudar o mundo, mas sei que posso (e devo) cuidar do meu quintal.

Ah! a minha dieta vai muito bem, obrigada!! Depois escrevo contando as minhas desventuras em série...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A inveja mata (ou quase isso).


Ontem riscaram meu carro. Toda a lateral do motorista (lado esquerdo), com um único risco, no sentido da traseira ao capô, foi danificado.
O risco é fundo, tirou tinta, portanto, só mandando pintar toda a extensão do dano. O custo vai ser alto, certamente.
E, para eu não me sentir tão mal, percebi que os carros que estavam estacionados antes e depois do meu também foram riscados. Bem, pelo menos não devo ser sido a única ter um chilique no meio da rua.
Primeiro vem a sensação de ódio, ira. Dá vontade de matar o primeiro infeliz que passar. A máxima "a inveja mata" seria empregada diretamente naquele que nutriu a inveja...
Depois vem a sensação de impotência, já que a marmota do porteiro não viu nada de importante, ou denunciador. A culpa, certamente, é minha, já que estacionei o carro na rua, ficando sujeita à toda sorte (ou, no meu caso, azar).
A verdade é que essa não é a primeira vez que me sinto assim, lesada. Meses após pegar esse carro, que saiu lindão e zerinho da concessionária, um moleque bateu no paralamas traseiro. E fugiu.
Acontece que eu descobri quem era o responsável e fui atrás. O infeliz em questão é filho de um cidadão que promove jogo do bicho e máquinas de bingo, e me passou alguns números de telefones que, claro, nunca funcionavam. Tentei por uns três meses e depois desisti.
Parece que a impunidade é premissa para a "liberdade" de atos irresponsáveis.
No caso do risco de ontem, credito também a inveja.
Por que, afinal, alguém risca quatro carros novos, estacionados numa rua tranquila, em plena tarde de domingo? Maldade, sensação de impunidade ou inveja?
Para mim é tudo isso junto, porém, com a inveja motivando a ação (já que eu não tenho capacidade de me matar para trabalhar e comprar um carro novo, vou estragar o carro dos outros e achar que sou o máximo por ter feito isso - "toma aí, seus playboys").
Mas tem também outras modalidades de inveja.
Eu mesma trabalhei numa agência cuja proprietária queria ter tudo os que suas funcionárias tinham, desde bijouterias, roupas, sapatos, acessórios, uma flor na mesa ou até mesmo um passeio, ou uma experiência qualquer (como um jantar ou uma viagem).
Como ela nunca conseguia que as pessoas dessem à ela os "mimos", procurava saber aonde ficava a loja, restaurante, passeio, e copiava - sem o menor pudor - a idéia anterior e alheia.
Certa vez ela encanou num anel que eu comprei (e, claro, ela comprou igual, já que estava comigo no momento da aquisição). Ela perdeu o dela e queria a todo custo comprar o meu.
Mas o cúmulo mesmo foi um casaco, do tipo trench coat acinturado, de tecido acetinado, que uma das meninas do atendimento ganhou de presente do pai. Era realmente lindo, e custava uma fortuna. No corpo da moça (vale dizer aqui um corpão "lipado e siliconado") ficava perfeito. E a chefona foi lá, às escondidas, e comprou um igualzinho, e foi com ele num evento que, claro, estava a outra moça também com o casaco.
Foi um susto. A menina ficou completamente desconcertada, mas depois caiu na risada porque o caimento da peça na tal diretora ficou, digamos, estranho, já que a mesma pesava cerca de 90 quilos, tendo a minha altura (1,58m). Todo mundo no evento percebeu que alguém copiou alguém e sendo, no mínimo, pouco inteligente, sacou quem foi a invejosa.
Lembro também de uma outra "amiga" (da onça) que tinha fixação por namorado alheio. A moça precisava que todos os homens, de todos os ambientes que frequentava, olhassem para ela. E, a partir do momento que era o centro das atenções, fazia um jogo de sedução explícito, não importando se os homens eram casados ou comprometidos. Para se ter uma idéia, ela cumprimentava o sexo oposto apertando seus (fartos) seios contra o peito do outro, como num abraço beeem apertado. Nem o Zé escapou das investidas.
Mas de todas as modalidades de inveja, a que considero pior é aquela entre família.
Acho mesmo que a vibração negativa emanada por um parente seja mais forte do que qualquer uma outra. Ou vão dizer aqui que nunca tiveram um "atraso" ou reversão em seus negócios depois de mencionar o fato para alguma tia, primo, etc?
É batata!
Bastou abrir a boca e pronto: tudo desanda.
E como diria José Simão, só com muito colírio diet pra aliviar tanto olho gordo!! Porque eu sinceramente não acredito na tal inveja branca, e por isso, parei de contar sobre minha vida para muita gente por aí.

domingo, 16 de agosto de 2009

Mal assombrado.


Dia lindo lá fora, em pleno domingo. E eu aqui em casa, olhando o horizonte de longe.

Faz sol lá fora e eu morro de frio aqui dentro. Não há cobertor que chegue ou malha de lã que me aqueça.

O inverno se instalou dentro de mim. São montanhas de neve eterna, grossas camadas de gelo. Só assim para esconder o que ainda vive em mim.

Apesar do movimento da rua, do dia feliz lá fora, dos pequenos prazeres, não me sobrou vontade de estar no meio disso tudo.

Vivo dias de zumbi:á não durmo o que preciso, nem como o que gosto, nem sonho mais meus sonhos. O tal seguir em frente já não existe mais - acabou como uma bolha de sabão. E eu fiquei em suspensão nesse universo paralelo de dor.

Vivo dias automáticos, dando tilt a cada nova bofetada da vida.

Minhas músicas não são mais pra mim, assim como meus autores também já não o são. Minhas plantas na varanda estão lá, os vasos da minha sala estão vazios. Há uma fina camada de poeira nos móveis. Só há eco, solidão, pó.

Aqui já não vive mais ninguém.

E, pelo que posso prever, esse espaço nunca mais será habitado.

sábado, 15 de agosto de 2009

Sem palavras ainda.


É engraçado, mas pensei que com o passar dos dias você fosse sumindo de dentro de mim, assim como eu também pensei que saberia lidar com o vazio, com o novo.

Não está dando certo.

Eu passo o dia todo ocupada, trabalhando, cuidando das minhas coisas, do meu filho, da minha vida. Mas quando a noite cai, a verdade vem junto: já não tenho mais você.

Também não tenho tido sono. E isso está refletindo no meu rendimento diário.

Não consigo explicar para mim mesma ainda. Não tenho palavras.

Daí hoje, percebendo que todas essas coisas têm me feito muito mal, resolvi mandar a última mensagem, desejando que suas escolhas te façam feliz, e dizendo que lhe sou muito grata por tudo o que você fez por mim.

É. Eu reconheço que você foi fundamental para meu crescimento, ao contrário do que você imagina.

Você esteve ao meu lado quando toda a minha família te dizia para não ficar porque "eu não valia grande coisa", apenas por ser mãe solteira.

Você abriu os braços para meu filho, que te tratou como pai, durante todos esses anos.

Você me defendeu de um louco, psicopata, que me perseguia. Você me salvou dele.

Daí, com o passar dos anos, você me mostrou, por meio da Leda, que a vida real é cruel, mas que também pode ter momentos inspiradores, tais quais aqueles em que ríamos juntos, andávamos de mãos dadas tagarelando sempre, ou simplesmente antes de dormir, quando você cheirava meus cabelos dizendo que não esquecia meu cheiro.

Nosso silêncio lá na varanda também dizia muito, e eu achava que iríamos ficar velhinhos, juntos, sentados e de mãos dadas. Você ria de mim e consentia com sua cabeça.

Esses últimos anos foram, sem dúvidas, os melhores anos. Tive a melhor companhia, os melhores exemplos, o melhor sexo, os melhores dias, as tardes mais longas, as conversas mais densas. Compartilhamos medos, sonhos, vontades e descobertas.

Tive um porto-seguro, um amigo incrível.

Conheci o que era amor de verdade, e descobri que dar amor é algo intrínseco em mim (principalmente porque esse amor é direcionado a você).

Nesse tempo todo aprendi a ser uma pessoa melhor, fiquei mais madura, consegui dicernir o que era bom pra mim e o que os outros acham que poderia ser. Também fiquei mais forte, e passei a assumir minhas escolhas com segurança. E você é responsável direto por isso.

E por mais que as nossas diferenças e divergências tenham se sobressaído tantas vezes, ainda assim, valeu a pena.

E eu queria que você soubesse disso.

Porque as coisas difíceis, as discussões, as guerras, as ofensas, as mágoas também tiveram seu peso, e talvez tenham contribuído para que o fim se aproximasse, assim, tão rápido. E era tudo besteira, como você dizia.

Mas o que eu queria mesmo era que você soubesse que eu ainda te amo e que sinto muito por isso. Ninguém - nem mesmo eu - consegue apagar tantas coisas em tão pouco tempo. Acho mesmo que só você teve esse dom.

E como eu te disse antes, numa outra e recente oportunidade, talvez um dia esse amor morra. Sei lá.

O que sei mesmo é que quero que você se encontre em meio às suas escolhas e seja feliz. Porque eu tentei. Eu juro que eu tentei te fazer feliz.


PS: ainda acredito que eu esteja perdida no meio de suas tantas escolhas, e que um dia você ainda vai me redescobrir.



segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pra me calar.


Acabei de ler isso:


O silêncio, aprendo, pode construir. É modo
denso/tenso
— de coexistir
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.
(Affonso Romano de Sant'Anna)


Foi um tapa.

Um tapa de mão aberta, bem no meio da minha cara.

Como não tinha pensado nisso antes, meu Deus?

Me calei diante de tamanha verdade, e me arrependi de tantas bobagens ditas ainda há pouco.

Sou passional, sou extremista, sou fleumática, sou intensa, sou mulher.

E passei por idiota. E fui prolixa e ridícula.

Mas o fato é que por mais que eu me esforce, as coisas não saem de dentro de mim!

Meu peito é um estufado de sentimentos - ora bons, ora tristes, ora perversos. Minha cabeça é uma babilônia de pensamentos, de memórias, de cobranças, que saltam a minha boca e me fazem proferir o impossível, o impensável.

Sujo, assim, com minhas palavras, seu nome, nossa história.

Digo coisas que não são minhas, e te ofereço um sentimento que não é meu. E nunca foi, nem nunca será.

Atiro em meu pé e saio correndo.

Fujo para a estrada sem saída do arrependimento.

E olho, através do espelho retrovisor da vida, que te ainda te trago comigo, sentado no banco de trás das minhas lembranças.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia das Pães.


Bem, para quem ainda não sabe, sou mãe-solteira do Lucca, um moleque lindo, que tem nove anos e meio.
Durante muito tempo esse título me incomodou bastante, afinal, era o atestado de que alguém não quis nem a mim, nem ao meu filho. Também, durante muito tempo, eu carreguei essa missão como um ranso, como uma forma negativa comigo mesma, porém nunca com o Lucca!.
Mas com o passar dos anos, fui percebendo que ser "pãe" (pai e mãe ao mesmo tempo) era muito mais o que um fardo: era a maior responsabilidade que alguém pode ter. Daí comecei a encarar essa tarefa com mais amor ainda.
Que a mãe tem muito mais influência na vida dos filhos, isso ninguém contesta. Que a presença masculina do pai é fundamental, idem. Mas de que adianta tudo isso se os valores que passamos não condizem com aquilo que somos?
Hoje em dia tenho percebido pais que preferem que seus filhos sejam maquiavélicos e competitivos para se sobressairem entre os outros. E os valores como o bom caráter e a honestidade desceram ladeira abaixo.
Essas pessoas usam suas crianças para satisfazerem seus próprios egos, para suportar frustrações, limitações, para realizar sonhos. E daí que a criança acaba se tornando a sombra da escuridão de seus pais. Depois, mais tarde, um adulto ambicioso e talvez um ser humano desprovido de emoções verdadeiras.
Tanto que não existe frase mais verdadeira do que a "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". É a Raposa falando sobre a verdade, no livro o Pequeno Príncipe.
Por isso nunca escondi nada do Lucca. Sempre procuro explicar de uma maneira que ele, no alto de seus nove anos, entenda. Por pior que seja a situação, ele está sempre por dentro.
Não quero um filho alienado.
Quero alguém que entenda que ser pai-e-mãe nem sempre (ou quase nunca) é fácil. É não ter respostas na ponta da língua sobre a anatomia masculina diante de perguntas como "por que meu pipi cresce toda manhã?". Ou então, ser surpreendida com um "mãe, você tá com aquelas dorzinhas de barriga de mulher?", se referindo à TPM, diante de um choro meu ou de um momento de ira.
Sim. O Lucca já aprendeu a ler os sinais.
Talvez porque eu converse muito com ele, às vezes me deparo com uma criança que argumenta diante de nãos ou diante de alguma solicitação que não lhe agrade. Ele esgota as possibilidades com fatos, argumentos, motivos. Não faz manha, nem malcriação. Expõe aquilo que pensa. Ele reforça sua vontade com discursos seguros e coerentes.
E eu me assusto porque vejo que ele se distancia quilômetros de seus coleguinhas com essas atitudes. Mas não deixa de ser uma criança que adora brincar, adora os desenhos da tevê, que empina pipa, anda bicicleta, de skate, cai e se rala todo, volta chorando e que, como num passe de mágica, depois de um beijo e de um afago, esquece tudo e volta para a brincadeira.
Mas o Lucca é especial. Talvez porque tenha sido criado no meio de adultos ou porque tem uma "pãe" maluca, que quer vê-lo crescer como um cara legal, honesto, ele procura sempre saber de tudo, mesmo que a conversa seja de "gente grande".
Lembro bem do dia que eu tatuei seu nome no meu pulso esquerdo e cheguei para buscá-lo no futebol e ele teve uma explosão de alegria, largando o jogo e correndo para me abraçar. Afinal, ele achava que seria o único aluno da escola que teria uma mãe tatuada com o nome do filho. E todo mundo na escola ficou sabendo da tatuagem.
Meu filho sabe o que foi (ou ainda é) a tal crise financeira mundial porque ao ouvir uma notícia no rádio, às 6h40, no caminho pra escola me perguntou sobre o assunto. E eu tive que rebolar pra ser o mais clara possível. Ao fim da explicação, veio a observação: "então foi por isso que você perdeu o emprego?". Respondi que foi indiretamente por conta disso, mas que tinha a ver.
Na hora do almoço, ao chegar em casa, ele pegou seu cofrinho, lotado de moedas, colocou sobre a mesa e veio com mais uma pérola: "pra te ajudar a manter a casa e comprar comida".
E eu desabei, orgulhosa por saber que estou cativando eternamente alguém que vê em mim um exemplo de luta, de dedicação.
Outro exemplo: quando voltei derrotada do Fórum, com uma pensão alimentícia ridícula decretada por um juiz que sequer leu o processo, o Lucca me perguntou o que havia acontecido. E eu contei a verdade, que o pai dele tinha ludibriado o juiz para pagar uma pensão bem pequena. Ele, aos prantos, respondeu que não era pra eu ficar triste porque sabia que eu fazia todos os dias o meu melhor, que dava tudo pra ele, que deixava de comprar pra mim pra dar pra ele, e que ele tinha orgulho de ter uma mãe como eu.
Neste dia ouvi a coisa mais linda do mundo, que fez com que eu passasse a me orgulhar muito de ser mãe-solteira, de ser, assim, guerreira, leoa - sem falsa modéstia.
Porque educar um filho é mais do que uma obrigação: é um ato de amor para uma criança que vai ser a concretização do futuro. E se eu quero um mundo melhor, que seja através dos valores que estou passando ao Lucca - seja nas nossas intermináveis conversas debaixo do edredon, antes de dormir, seja quando estamos brincando, seja diante de um gesto, em silêncio.
Por isso, hoje deixo aqui os parabéns pelo Dia dos Pais à todas as mães que, assim como eu, têm essa missão maravilhosa de formar pessoas sem o apoio de um pai.
Meninas, nós somos "PÃES" M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A-S!!!!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Life must go on.


Passada a primeira semana, o seguir em frente está parecendo menos penoso.

Já consigo respirar, viver, sorrir normalmente, assim como ter alguns pequenos prazeres, que foram resgatados.

Nesses dias revi amigos, conheci gente legal, gente interessante, alguns trabalhos apareceram, algumas festas também.

Os meus momentos de solidão foram comigo mesma - ora no trânsito, ora em casa, já que o Lucca está de férias na casa da minha mãe - mas já não tinham aquele peso do abandono.

Agora sou eu e pronto!

As lembranças ainda povoam os pensamentos, mas também já estão saindo do coração. Talvez um dia esse amor acabe. Ou não.

Mas creio que a melhor coisa que eu tenha feito foi guardar tudo e tirar do meu alcance pertences que poderiam desviar meu foco.

E o foco, a partir de então, sou eu e pronto!

Com tantas "novidades" e diante de possibilidades infinitas já consegui até emagrecer - sem esforço, sem fome, sem ficar doente.

Credito isso a minha melhor qualidade, a resiliência.

Nesses últimos dias ouvi, sozinha, a minha mais sonora gargalhada ao constatar que sou muito atrapalhada (bati a cabeça no móvel do microondas ao tentar "salvar" um copo que caiu do escorredor de louça), ouvi minha respiração mais calma; da minha varanda vi um luar lindo, iluminando uma noite fria, e ouvi o grilo cantando (?) no terreno ao lado do prédio.

Ouvi muitos conselhos, impressões, pitacos. E resolvi seguir meu coração.

Também chorei algumas poucas vezes, afinal, sou humana! Mas o choro foi muito mais de saudades de um tempo que já passou do que de dor.

Vi, pelas janelas da minha alma, que apesar de tudo parecer destruído, a vida dá sempre um jeito para que o "seguir em frente" aconteça sem que percebamos.

E olha: já se passaram onze dias!


domingo, 26 de julho de 2009

O seguir em frente.


Cabeça erguida, sem lágrimas, coração aberto, não olhe para atrás, afinal, novas possibilidades te esperam em qualquer esquina. Bastou virar alí, à direita, e pronto!

É... parece fácil executar o tal "seguir em frente".

Mas como apagar memórias tão ricas, tão vivas, tão latentes de tão longos anos?

Pior: como explicar para si mesmo que os tais planos que tanto sonhavam juntos não valem mais a partir de já? Aonde é que se colocam, depois de um fim mal decretado, os sentimentos nobres como a lealdade, o companheirismo, o amor?

Qual é o rumo que devemos tomar?

Dos outros eu não sei. Mas eu voltei pra casa, assim, sozinha, rasa de explicações e lotada de sentimentos, de dor, de dúvidas: como se mata um amor de um dia pro outro? E, se não havia mais amor, por que arrastar uma mentira por tanto tempo? Por que tantas desculpas, tão desencontradas, tão contraditórias?

E tem mais: quem faz isso geralmente se esquece de que as pessoas se falam, conversam entre si. Daí mentiras vêm à tona. E machucam mais e mais, e muito mais quem é, simplesmente, o alvo.

Chega a ser cruel.

Juro, me senti um touro derrubado numa arena de tourada depois de tudo o que vivenciei nesses últimos dias. Sangro alí, a céu aberto, exposta aso olhares de reprovação e de euforia de um público que se divide em torcer pelo touro e pelo toureiro.

Só que diferente do animal, eu não vou morrer fisicamente. A alma foi-se embora na penúltima madrugada, e meu corpo ficou aqui, com as dores e os danos morais que me proporcionaram.

E o seguir em frente tornou-se tarefa obrigatória.

Tentei me distrair o dia todo, fazendo de um sábado chuvoso o primeiro dia da minha nova história: fui ao supermercado, levei o Lucca ao pai dele, fui praticar meu credo, recebi um amigo querido e ainda saí com outra turma que é, sim, o meu porto seguro. E o melhor de tudo é que ninguém perguntou nada, ninguém fez menção ao ocorrido. Fui abraçada por todos e, como num pacto silencioso entre eles, todos se revezaram para me fazer sorrir.

Hoje acordei tarde, porém, um pouco mais leve do que ontem. Havia parado de chover e o Sol arriscava sair. Tive a certeza de que seguir em frente é meio instintivo.

Por isso, ontem guardei numa gaveta que quase nunca uso as fotos, os cartões, os mimos, bilhetinhos com juras de amor, guardei as jóias, a aliança - escolhida com tanto carinho por quem me queria tanto, há tão pouco tempo. Aliás, tirar a aliança da mão talvez tenha doido mais do que se eu perdesse um dedo.

Não consegui ainda apagar os emails com palavras sinceras, carinhosas, que me proporcionavam tanta segurança. Ao contrário: reli todos - absolutamente todos - para me certificar de que não estou louca, e que havia acontecido, de fato, até bem poucos dias atrás, uma história de amor.

Mas como tudo nessa vida um dia acaba (ou morre, como as flores de uma paineira, por exemplo, que cedem lugar ao real propósito da árvore), provavelmente seja esse o último grão a cair para germinar em mim o recomeço.

E que o seguir em frente seja, assim, abençoado.