quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mea culpa.


O dia começou cedo para mim hoje. Às 5h40 eu já estava debaixo do chuveiro, passando mentalmente a agenda, os compromissos, as viagens.

Saí do banho, aprontei o café do Lucca, que levantou como um zumbi e comeu sozinho na cozinha. Fui terminar de me arrumar correndo, secar cabelo, separar uniforme, levar a calopsita para a área de serviço, abrir a gaiola, colocar o pãozinho pra ela, dar um minuto de atenção pro bicho e depois pro filho. Como não dá tempo de fazer tudo, porque o horário é contado, quem fica sem a atenção é o Lucca.

Quando já estávamos no carro, o Lucca resmunga que o cabelo dele estava espetado, feio. Retruco que não está tão ruim, que é pra colocar o boné pra disfarçar. Sigo em frente, no trânsito matinal, em que todo mundo quer chegar ao mesmo tempo, e no mesmo lugar. Ele permanece em silêncio, finge que está dormindo e eu tento simular um bom humor incrível pra ver se contagio meu pequeno.

Claro que não dá certo.

Chegamos em frente a escola, descemos correndo, o sinal está tocando, ele segue em frente sem olhar pra trás. Chamo pelo seu nome e quando ele olha digo que o amo, e amo muito. Ele volta e me pegunta:

- Mamãe, quando vou te ver de novo?

Meu coração se parte em um milhão de estilhaços porque ele tem razão. Hoje estou indo a trabalho para Florianópolis. Anteontem estava em Belo Horizonte. Domingo vou para Recife e na terça, para Brasília. Entrei no carro e desabei a chorar. Na minha ansiedade de fazer tudo dar certo, atropelei a mim mesma e meu filho está perdido nessa confusão toda.

Desde que comecei esse job, há quase um mês, não sei mais o que é ter vida, arrumar casa, curtir filho, cozinhar, dormir bem, namorar, passear. O Lucca tem ficado muito tempo na casa dos meus pais e por mais que ele curta os avós, sente falta do seu canto, dos seus brinquedos.

Ele sai às 6h45 de casa todos os dias e só retorna depois das 22h.

E diante da pergunta dele hoje, voltei a me questionar quanto à minha profissão: será que preciso mesmo disso tudo para ter um salário legal, dar coisas legais a ele, bancar escola, roupa, casa, diversão, se eu mesma não consigo (por absoluta falta de tempo!) me dedicar às tarefas de mãe? Me sinto culpada por não cumprir com minhas obrigações: dar atenção, carinho, educação a ele.

Como assumi um compromisso, preciso ir até o fim do job (que acaba dia 30), mas com a certeza de que eu realmente não quero mais isso pra mim. Uma vida mais tranquila é o meu ideal. E eu vou chegar lá, mesmo que para isso tenhamos que modificar nossos padrões, cortar gastos, modificar hábitos. Tudo para nunca mais ouvir a pergunta que ouvi hoje.


PS: consegui um vôo que chega a SP às 21h de amanhã. Ou seja, vou fazer uma surpresa pro Lucca e passar todo o fim de semana com ele, porque domingo vou para Recife.


Um comentário:

Francisco disse...

Olá minha amiga!
Sei bem como vc se sente. Por vc e pelo Lucca.
Vc é muito jovem ainda, e essas dúvidas com o trabalho e filho pequeno, fazem parte, e não existe forma de contornar.
Daqui há alguns anos, tenho certeza que vc vai olhar para um Lucca todo orgulhoso da mãe que sempre teve, e perguntará à ele: "E aí filhão! Quando eu vou ver vc de novo?" rsrs Pode acreditar! É assim mesmo...!
Sucesso no seu job. To torcendo muito por vc!
Beijãozão!