terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sementinha



(...) “ – Transformar-se em árvore? Mas eu sou só uma sementinha, muito pequena. As árvores-mães têm de ser grandes... 
– Se você partir com o vento e tiver coragem para dizer adeus, um dia você será uma árvore. Dentro de cada sementinha está uma árvore adormecida. Da mesma forma como dentro de cada menininha está uma mãe.”

Rubem Alves in O medo da sementinha


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Li esse trecho ainda há pouco no facebook e me deu uma vontade imensa de escrever aqui. Ultimamente tenho me dedicado ao projeto do Agora Vai e deixei as emoções guardadinhas em meu peito. E como todos sabem se não escrevo, implodo.

Depois de toda essa metamorfose que me propus percebo que já é chegada a hora de abrir os portões que guardam meus mais belos jardins. Não que estivessem escondidos: apenas criei uma distância segura para que outros não pisassem naquilo que construí com tanto cuidado. Ali dentro estão guardadas sementes de flores, de frutas, de plantas, mas que ainda são só sementes. E eu percebi que anda fazendo falta ter algumas raízes nascidas em meu coração.

Porque, tal qual aquele trecho do Quintana, que diz que é para cuidar do jardim, eu cuidei e eu virei a borboleta de minhas próprias flores. Mas ainda falta-me algo.

Se sobram sementes, faltam as árvores.

Se os passarinhos já cantam por perto, falta agora ter o ninho.

Falta, não! Sobra!

Sobra espaço para o aconchego do ninho, do calor de ideias e ideais compartilhados. Sobra vontade de aprender a voar e voltar. E ter lá, sempre meu, o ninho construído aos poucos, feito de gentilezas e respeito, de poesia e realidade e da sempre urgente vontade de voltar.

Sobra também experiência do ninho anterior, apoiado em frágeis galhos e que uma tempestade sombria levou. Sobra a lembrança do vazio, mas com ela a certeza de ter aprendido a lição de recomeçar a cada estação. Eu transmutei a dor do vazio e fiz de mim a mais exclusiva estufa. Existem aqui dentro, agora, toda a sorte de cores e sensações e vontades e alegrias - minhas sementes de vida.

Pra quem já quis ser ipê, agora proclamo-me um singelo dente de leão que dança ao vento.

Criei coragem, soprei-me e fui.

Que minhas sementes caiam em terras férteis e acolhedoras, e que sejam cuidadas para florescerem sempre a cada primavera.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Mas vou. Por que não?

Muitos meses depois de passar aqui pela última vez hoje eu senti aquela sensação boa de inspiração a me cutucar por dentro. Aliás, e pra ser sincera, há um tempo esse comichão vem me inquietando o coração. Mas a rotina engole a gente e quando vejo aquele "click" foi embora. 
Tanta coisa aconteceu  nesses últimos tempos... Tantos foram os desfechos e recomeços - desencontrados sempre - que me colocaram num caminho que jamais imaginei seguir e agora me vejo sozinha comigo mesma fazendo valer cada minuto do meu seguir em frente.
Não adianta: por mais que tentemos forçar passagens ou abrir caminhos que não são nossos, mais distantes ficamos dos nossos sonhos. E é justamente aí que a vida se encarrega de mostrar seus caprichos. É uma porta que se fecha (ou que sequer esteva aberta), é um ente querido que se vai, um amigo que mostra sua face oculta, é um amor que morre... Sei que fui acumulando pequenas tristezas ao longo do meu recente caminho, como também sei que tudo isso tem um peso físico e emocional que fizeram com que minha saúde ficasse um pouco fragilizada. 
Coisas simples como ler ou escrever tinham ficado num universo tão distante que às vezes, agora, pareço uma principiante diante de páginas novinhas que eu jamais li ou mesmo com a velha dupla caderno-caneta. Meus artesanatos também estava esquecidos, empoeirados, a casa ficou vazia de amigos, e o forno e o fogão deixaram de assar bolos, tortas, carnes como quando eu fazia para receber quem eu amava.
Acontece que o despertar se dá sem querer. Pode ser num dia de sol que amanhece na minha janela do quarto ou durante um por do sol na minha varanda - tanto faz. E eu finalmente despertei. Tal qual alguém que ficou muito tempo em sono profundo vou cambaleando, ainda, em busca do meu sol.
Mas vou. Por que não?
Tenho feito sessões diárias de faxina mental a fim de jogar fora o que já não serve mais, bem como os velhos padrões cíclicos e autodestrutivos (que todos nós temos). Essa semana, em especial, resolvi guardar certas memórias na pasta de arquivo morto e, assim, enterrar de vez meus mortos - sejam eles vivos ou não. Tenho tirado coisas de armários para doar o que está bom e jogar no lixo aquilo que não vale mais. Tenho deixado as janelas abertas, tenho cozinhado com mais afeto para meu filho e tenho amado, mais do que nunca, meus bichos, minhas plantas e meus amigos.
O fato é que aos poucos vou me sentindo mais leve e me reconectando com a minha essência. A ideia não é voltar a ser o que eu era mas, sim, descobrir aquilo que eu ainda posso ser. E eu vou! Por que não?