Eu não sei nadar. Mas ainda vou aprender. |
Das verdades que carrego comigo essa é uma das mais sinceras: eu não sei nadar. Não por falta de habilidade, mas por medo mesmo.
Sou filha de Iemanjá e tenho de medo de água. Em meus piores pesadelos eu morro afogada.
Entro em piscina (sem mergulhar, obviamente), entro no mar, já entrei em rio mas nunca passei do ponto de onde meus pés não pudessem mais alcançar o fundo. Gosto da sensação de estar na água (com meus pezinhos tocando o chão), do relaxamento que isso proporciona, gosto do barulho da água, do cheiro de piscina e de mar.
Gosto e mas não me solto.
Sou assim na vida também: até gosto mas não me solto. Pulo, brinco, me esbaldo, me molho, aproveito, até me entrego, mas quando vejo que o chão está longe do meu alcance eu travo.
Dizem que a culpa é do signo, que tem o elemento terra, dizem que isso é precaução, dizem também que isso é insegurança. Eu chamo isso de autoproteção.
Já mergulhei de cabeça em tantas piscinas rasas que até perdi a conta, e só recentemente aquele sábio conselho de mãe de "entra devagar pra ver se dá pé" fez sentido pra mim. E ainda assim, às vezes, me deixo ser levada por uma correnteza mais forte do que eu posso suportar.
Todos nós temos medos. Uns têm medo de cachorro, outros de dirigir, outros de barata, uns de fogo, outros de água. Tem medo pra tudo nesse mundo, medo até de sentir medo. Tirando aquilo que é fobia, e que precisa de acompanhamento profissional, todo o resto é trabalhável. Eu não matava barata até o dia em que precisei matar uma.
Assim é a vida. Uma hora ou outra a gente precisar mergulhar naquela piscina fria que os outros já mergulharam, mas com cautela, com sabedoria, com segurança e até mesmo com um pouco de atrevimento. Os desafios servem para que superemos esses obstáculos mentais impostos por nós mesmos.
Me propus a encarar certos medos esse ano. Não por resolução de réveillon, mas por necessidade mesmo. Morro de vontade de ir além, de mergulhar, de ver peixinhos, coisas lindas e coloridas. Morro de vontade de me sentir livre e ao mesmo tempo envolvida pela água.
Para isso, preciso sair da parte rasa da piscina e ir mais pra frente, preciso ultrapassar as sete ondinhas e ir ver o que tem lá no mar aberto. Preciso aprender a por meu rosto debaixo d´água e a soltar minha respiração sem ter medo de me afogar (em águas e sentimentos).
Acho que finalmente eu quero saber como é sentir tudo isso. A vida em segurança com os pés no chão em tempo integral é chata e plana e rasa.
Eu não sei nadar. Mas esse ano eu vou aprender.