sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A pausa e a aceleração



Faz uma semana que não posto nada aqui.


Desde o feriado não tive descanso - primeiro a cirurgia da Leda, marcada em cima da hora, de um dia pro outro e toda a angústia e preocupação que vem junto em uma situação como essa.


Depois o Zé, que precisava de mais assistência que ela - o esgotamento físico e emocional dele também me consumiram, tanto que na segunda-feira eu não tinha forças para levantar da cama.


No entanto, mesmo com tantas coisas acontecendo, o saldo foi positivo.


A Leda teve uma cirurgia tão espetacular que foi direto pro quarto e na terça-feira já estava em casa.


Ela certamente faz parte daquele capítulo intitulado "coisas que ninguém explica"...


Porque tirar o baço e parte do pâncreas dessa vez, mais os 45% do estômago há dois anos, além de útero, ovário, glândulas mamárias e estar de pé, forte e feliz não é pra qualquer um!


Vida longa à Leda!!!


Outro fato que comprova o superávit da balança é que ter cuidado tanto do Zé valeu a pena.


Pelo menos pra mim.


Pude ficar bem perto dele num momento tão complicado e pude também ajudar.


E quanto a energia que ele me tomou, voltará de outra forma.


Foi um presente, um carinho, uma necessidade dos dois.


Isso me valeu a semana.


Assim como o recado que ele me deixou no orkut - tão cheio de protocolo, mas com uma sinceridade que chega a emocionar.


Bem... pelo menos a mim...


E diante dessas pausas da vida, tratei de acelerar minha etapa de mudanças.


Além de estar comparecendo religiosamente às aulas de pilates, fui ao dentista.


Ok, concordo. Isso pode ser uma banalidade.


Mas não pra mim.


Esta semana, mais precisamente na terça-feira, dia 6, comemorei 24 anos do acidente que quase me matou.


Ninguém imaginava que uma brincadeira de criança pudesse tranformar tanto a vida de uma pessoa.


E foi tudo tão rápido... era para ser apenas uma volta no bairro, com meu avô, meu irmão e minha bicicleta.


Um descuido de segundos.


Uma molecagem.


O cenário era devastador.


Eu estava completamente machucada e totalmente consciente, porém não conseguia entender o que havia acontecido.


Subi na bicicleta enquanto meu avô mostrava algo para o Fábio.


Olhei ladeira abaixo e achei que seria divertido descer aquilo tudo.


E fui.


Sim, eu montei na bicicleta e desci uma rampa digna de ladeira Porto Geral, só que mais comprida.


Acelerei.


Acontece que eu me assustei com a velocidade, apertei os freios e só ouvi um estalo.


O de trás estourou e eu voei longe.


Não houve pausa.


Acordei lá embaixo, sem saber se estava sonhando ou não.


O resultado da brincadeira foi um afundamento no maxilar, a perda de três dentes permanentes, mais dois quebrados no meio, uma cicatriz funda no joelho direito e várias outras espalhadas pelo corpo todo, além de um trauma que nunca mais saiu das minhas lembranças.


Assim como a imagem da enfermeira que desmaiou quando me viu.


Tinha tanto sangue em meu rosto que foi preciso uma junta médica para me limpar.


Passei o resto da minha infância e toda a minha adolescência brigando com o espelho, evitando sorrir e engolingo todas as maldades, típicas de adolescentes, pelo fato de ser "banguela". Visitava o dentista duas vezes por semana.


Minha auto-estima vivia lá embaixo e outro trauma foi crescendo.


Passei a ter pavor de dentista, bucomaxilo, ortodontista e qualquer coisa que o valha.


Era tanta gente cutucando, mechendo, pondo aparelho em minha boca que eu tinha cólicas só de saber que ia visitar mais um especialista.


Até que um santo dr. Oswaldo achou uma solução.


Passei por uma mega-cirurgia de enxerto ósseo no maxilar e tive dois pinos de titânio implantados na região.


Um ano e meio depois e mais seis cirurgias, minha boca ficou novinha em folha!


Pronto.


Meu calvário havia acabado.


Só que eu fugi durante sete anos dos dentistas e precisava voltar.


Rotina mesmo.


E agora entrego minha sorte nas mãos do dr. Marcelo.


Sem traumas, sem fantasmas.


Passei a expulsá-los um a um da minha vida.


Principalmente nesses últimos três meses, que me trouxeram tantas descobertas, tantas certezas e seguranças, tornando minhas atitudes mais tranquilas, serenas. Embora eu ainda conserve o jeito acelerado de raciocinar e exiba, com mais frequência, o sorriso conquistado a duras penas.

Um comentário:

donadani disse...

Déa, essa sua história eu não conhecia! Que coisa, hein?
Bom, adorei saber mais de vc!
Bjs,