Já passava das 17h30 quando ela percebeu que nada, absolutamente nada do que ela esperava havia acontecido. O outro não ligara.
De repente começou a sentir uma dor imensa dentro dela, como se um buraco negro estivesse se formando a partir de onde ficava seu coração.
Começou a chorar baixinho, enquanto procurava alguma coisa pra fazer. Um chorinho incontido, sem soluços, só lágrimas.
Olhou em volta e não encontrou nada que pudesse de distrair. Também nem viu as peças de artesanato que precisava terminar, muito menos as outras que nem sequer haviam sido iniciadas. Nada fazia sentido naquele momento. Mesmo porque para fazer arte é fundamental que sua alma esteja em paz, que o artista esteja bem. Afinal, cada peça que ela concluia estava carregada de boas energias.
Para ela, fazer artesanato era mais do que um passa-tempo: era uma forma de expressar tudo de bom que guardava dentro do seu peito.
Mas naquele momento ela estava estranha. Não era um vazio propriamente dito, mas um misto de emoções correndo desencontradas e que a cada choque, provocava um maremoto de sensações.
Sabia que estava fazendo o correto, o racional. Sabia, inclusive, que já estava atrasada com suas decisões.
Mas como gerenciar o coração se ele está tomado pelo outro?
Ela havia chegado a um ponto tão crítico que era capaz de afirmar que amava mais o outro do que a si mesma. E conseguir parar, num ponto desse, já não era tão fácil.
Olhou pra trás e não se viu nos últimos cinco anos. Por onde será que teria andado?
Pois se a vasculhar o computador e, em buscas de pistas, encontrou um registro fotográfico imenso da vida que ela decidira viver. E daí, ao olhar foto por foto, percebeu-se coadjuvante num papel de segunda categoria. O pior de tudo é que ela havia aceitado sem contestar.
Acontece que com o passar dos anos foi percebendo que aquele não era bem o personagem que ela queria e passou a contestar.
Sem êxito contentou-se em seguir ao lado do protagonista da série. Afinal ela era a maior fã do ator principal.
É, a vida dela podia ser comparada a um filme B. Sem grandes emoções, cheia de clichês, nem locações paradisíacas. Não havia figurinista, não havia continuação entre as cenas. Nem como num sitcom, nem como uma novela mexicana, o roteiro era escrito alí, na hora, de acordo com os gostos e humor da estrela principal.
E como não dá pra viver de improvisações, ela cansou.
Roubou a cena num dos momentos mais tensos, e quase ganhou o papel principal.
Quase.
A estrela, temerosa por perder terreno ou admiradores, colocou a parceira de série pra escanteio. E a partir daquele momento ela saia de cena mesmo contra sua vontade.
Nos primeiros dias acreditou que ele viria procurá-la. Ele não era bom no palco sozinho.
Uma semana depois o enredo havia mudado: não tinha mais espaço pra ela nem como assistente de palco.
E ela se viu sozinha. E percebeu que nunca mais teria seu papel de volta. Um papel que nunca quis pra si mesma, e que aceitou por acreditar que um dia brilharia ao lado dele, como num dueto.
Juntou os cacos que encontrou em seu peito eDecidiu procurar outros espaços, mas não sabia nem por onde começar.
Por isso foi olhar as fotos.
E viu, alí, registrado em cliques, diversos trailers de uma linda história de amor. Pena que ela tenha vivido sozinha.
Agora só lhe restava carimbar o FIM e se despir da personagem.
Depois disso, quem sabe, a próxima história seja uma comédia romântica e não um drama.