segunda-feira, 17 de maio de 2010

Do tempo. Ou, sobre o envelhecer.


um mês tive que dar boas-vindas aos primeiros fios de cabelos brancos. Nunca havia me preocupado com isso antes, até porque, durante um bom tempo, coloria meus cabelos. Daí que quando resolvi deixar as madeixas da cor natural, me deparo com a surpresa.

Ok, concordo que cabelos brancos não são sinal de velhice. Meu irmão tem cabelos brancos desde os vinte e poucos anos – herança genética do meu avô, um senhor de 89 anos completamente grisalho desde a tenra idade também. Porém, como eu disse antes, me deparei com essa surpresa “desagradável” numa fase em que já vinha mastigando a idéia do envelhecer.

Envelhecer não é opção: é condição de vida. Ou você aceita e vai se adequando e aproveitando o que a maturidade lhe traz, ou vai viver como uma Susana Vieira, que jura por Deus que ainda tem 29 anos. Aliás, aceitar o RG é necessário para conseguir entender as mensagens contidas nas rugas.

Eu, por exemplo, não tive a tal crise dos 30 porque não me sentia com 30. Sempre tive um espírito muito jovem, tanto que certa vez um ex-chefe até me classificou como Peter Pan, o garoto que não queria crescer.

A crise só bateu quando percebi que meu filho estava com 10 anos.

Olhei pra trás e vi que uma década havia escorrido entre meus dedos.

Meu Deus! É muito tempo!, pensei.

Talvez porque tudo tenha acontecido de uma forma tão amedrontadoramente rápida eu não tenha sentido o tempo passar: a gravidez, a interrupção da adolescência tardia, o ganho da imensa responsabilidade de ser mãe solteira, a questão financeira, a questão emocional... Não tive tempo de ter crises...

No dia que percebi meus cabelos brancos também notei as linhas de expressão no meu rosto, as olheiras. Envelheci mesmo. E envelheci muito mais no último ano do que durante toda a última década.

A minha imagem no espelho é hoje o reflexo das minhas escolhas. Não sou mais menina. Aos quase 36 anos sou mulher.

Guardei para mim esse segredo, certa de que poucos iriam notar as sutis diferenças. Mas eis que o Zé me surpreende e confessa, como num sussurro, que também envelheceu. Olhei para seu rosto e de imediato não consegui ver nada de diferente, afinal, para mim ele ainda é um molecão!

Daí que diante da minha negativa, ele quis me provar mostrando fotos nossas tiradas ao longo de quase seis anos de convivência. E qual não foi a surpresa ao nos depararmos com tantas mudanças!

O tempo passou para os dois e deixou marcas. Talvez se a vida não tivesse judiado tanto dele, e não tivesse inventado tantos obstáculos para mim, talvez tivéssemos ainda o vigor dos vinte e poucos anos.

Talvez...

Mas se talvez o tempo não tivesse passado, jamais teríamos a oportunidade de amadurecer, nem de admirar a atual beleza de nosso olhar, que carrega tantas histórias pra contar.

Bem, pelo menos estamos no caminho de realizar uma vontade em comum: ficarmos velhinhos, sentados lá na varanda e mãos dadas. Pra sempre!


PS: tenho mesmo muita história para contar, porém, eu ainda não aceitei totalmente a idéia de estar já na meia-idade...

6 comentários:

Graci disse...

Que bonito.
Cheguei até aqui zapeando e decidi comentar quando vi o selinho para fazer o blogueiro feliz, mas agora o faço pelo texto, singelo e real.

Esse tempo pega a gente sem que tenhamos essa percepção, não é mesmo? E eu acho que só pelo crescimento dos filhos que percebemos isso, assim, na real. Espero chegar aos 36 com uma cabeça boa, pelo que percebi, como a sua.

=)

Andréa disse...

Oi Graci!!
Obrigada pela visita e pelo comentário carinhoso.
O tempo traz pra gente tudo aquilo que plantamos, e nessa minha ansiedade de acertar, apredendi muita coisa ao longo dos anos (e acabei chegando assim aos 36).
Beijo grande,
Andréa

Unknown disse...

Foi nesse que eu chorei. Qud era pequena eu queria ser igual a você. O tempo esta passando, e quero continuar tendo você como espelho, com sua força de vontade, sua garra, sua alegria, e aos poucos conquistando nossos espaços! Te amo

Hanny Meire disse...

Olá, nem sei como cheguei no seu blog mas quero dizer que amei seu cantinho. Tu escreve com uma sensibilidade muito grande e estou apaixonada pelos seus posts ! Um beijo !

" Beto Castro " disse...

Oi Dea...
Curto seu blog, esse jeito de falar de nós falando de você mesma.
Indubitavelmente "um dom"...

Gustavo Jaime disse...

Ô Déa, e então? Simplesmente abandonaste este espaço assim? Volta para as letras, mulher... e conte-nos este bando de histórias de uma mulher de um/quarto de idade. ;)

Beijos!