Eu sempre tive medo do tempo. Tinha medo de que ele voasse e eu não pudesse acompanhar; tinha medo de que ele não passasse para eu conseguir tudo aquilo que queria.
Desde criança ouvia "amanhã a gente faz isso", "amanhã será melhor", "sempre há o amanhã".
Eu nunca soube lidar com o tempo porque meu tempo interno era urgente, imediato, fugaz. Até a gestação do meu filho foi mais curta...
E daí veio um ano de Saturno e tudo o que eu sabia sobre o tempo simplesmente parou de funcionar como um relógio quebrado.
Saturno devia se chamar Chronus, já que representa os princípios do limite e restrição: é a atitude prática e realista diante da vida. É a disciplina e o dever, o planejamento e a lógica. É o planeta da experiência, da cautela e da ambição.
Tempus fugit (e que só voa mesmo no tempo dele).
Levei anos para entender coisas e pessoas, para aprender sobre outras coisas, para alcançar alguns sonhos e anos para entender que só desistindo de certas ideias chegamos a algum lugar.
Tempus fugit e Saturno é Chronos. E sendo assim, fez do meu ano solar o tempo das lições.
Um mês sabático fora do país. Um tempo conhecendo o melhor e o pior das pessoas, sozinha, longe de casa. Mas se a casa é onde moram nossos sonhos, amores e medos, eu levei minha casa comigo, e durante todo esse tempo me abriguei naquilo que conhecia em mim. E o tempo lá fora me fez conhecer então uma outra Andréa.
Depois, foi mais um mês pra descobrir o tumorzinho do peito (num tempo que simplesmente não passava), e então o mês entre hospitais, leitos quartos de janelas fechadas e toda a sorte do tempo que não passa em lugares assim. Foram 45 dias pra conseguir fazer alguma coisa sozinha. Eu precisei do tempo dos outros, e esse, meus amigos, não se conta. Cada um dá aquele tempo que pode. Tive pessoas preciosas doando seu tempo para que o meu aqui nesse plano fosse além daqueles dias.
Quando eu achei que já estava tudo Ok, veio a batida do carro e desde então já são dois meses e meio a pé, gastando meu tempo entre caminhadas apressadas com a mochila nas costas, num tempo único de reflexão e muitas eles encantamento e descobrimentos.
Andar a pé nos dá novas perspetivas de tudo que já vimos antes, de dentro de um carro, acelerando antes que o sinal fechasse.
Até mesmo aqueles cinco longos anos entre a bendita coletiva de imprensa no Renaissance e tudo o que eu estava vivendo tomaram outro rumo, num novo tempo, de descobertas e de entendimento que para os outros - de novo - o tempo talvez passe em outra contagem.
Tempus fugit e eu já não corro mais. Porque eu entendi que a maior lição de Saturno, durante todo este seu longo ano, foi me por em compasso com o tempo do Universo e me devolver para meu fuso, aquele da minha morada lá dentro do meu peito.
O tempo de Saturno está acabado nos próximos dias. Vem Júpiter, que já chega em retrogradação e em total alinhamento com Saturno para terminar de curar tudo o que ainda estava exposto.
Tempus fugit e agora eu, no carpe diem, lambo minhas feridas que já estão virando cicatrizes - os meus troféus de um maravilhoso tempo de Saturno.
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