terça-feira, 29 de julho de 2008

Decifra-me ou te devoro


escrito em 27.7


Sempre gostei de mistério e suspense.


Lembro que, no final da minha infância, lançaram um jogo chamado Scotland Yard: a gente brincava de Sherlock Holmes e desvendava casos fantásticos. Aquele simples jogo de tabuleiro era minha paixão.


Às vezes jogava sozinha e ficava lá, horas a fio, descobrindo pistas que me levavam a assassinos, ladrões, soluções de mistérios...


Aliás, acho que passei a vida inteira tentando desvendar mistérios. Muitos consegui solucionar. No entant, alguns ainda são indecifráveis e daí acabo me sentindo como se estive diante da Esfinge, num decifra-me ou te devoro eterno. Por muitas vezes fui devorada. Na verdade, penso que sempre me deixei devorar por ter medo do monstro de pedra.


Nunca consegui entendê-la e também acredito que ela nunca tenha me compreendido. Mas o erro foi meu. O tempo todo agi como se fosse a menor parte de toda aquela existência - como se fosse um grão de areia de todo aquele deserto. Passei meus anos voando com as tempestades de vento, mudando de lado e sem sair do lugar.


Me comportando como um grão de areia via o todo de baixo para cima e isso me parecia assustador. Assim como a Esfinge, que esteve lá o tempo todo me vendo e nunca disse nada.

As pedras, afinal, não falam. Sentem a areia e o vento, ora batendo, ora acariaciando sua superfície e não mudam. Aguardam toda a sorte de intempéries, de estações, da noite, do dia, ano após ano e ficam lá, inertes.


Enquanto isso o grão de areia se debate, voa, volta, se esconde, se assenta e continua indignado por ser tão imperceptível diante da Esfinge.


Acontece que, assim como para as pedras, a sabedoria e a maturidade também chegam ao pequenino grão de areia e um dia ele entende que nunca irá decifrar aquele mistério sem mudar a atitude e a direção.


O grão de areia vai se afastando até tomar uma boa distância e quando vê, a Esfinge cabe na palma da sua mão.


Quando percebe isso, o grão de areia se dá conta de que foram necessários outros grãos - iguais a ele - para que se formasse uma montanha e ele figurasse no topo. E agora ele já não era mais sozinho.


O gigante de pedra ficou lá - absorto em seu silêncio e mistério - e não representava mais um perigo imediato.


Talvez ainda leve um milhão de anos para entender a Esfinge. Talvez a Esfinger não queira - ou não possa - ser compreendida. Cada um sabe sua dor...


Porém, o grão de areia se sente mais forte hoje, longe do seu maior medo, mas sabe que um dia terá que enfrentá-lo. E quando esse enfrentamento passar, provavelmente esse grão saberá que poderá vir a ser um diamante. Já estará forjado no tempo e nos sentimentos para brilhar eternamente.

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