Essa semana fiquei noiva. Mais precisamente, quarta-feira.
O Zé há muito já havia manifestado essa vontade, porém, diante de tantos obstáculos em nosso caminho, isso ficou em último plano.
Aliás, planos eram coisas que não faziam mais parte de nossas vidas. Mas acontece que conversamos e chegamos à conclusão de que não dá pra evitar o inevitável. E na última quarta-feira ele apareceu aqui com o par de alianças (a minha tem até um brilhante!).
Por isso mesmo, na sexta-feira fui dar um "trato" no visual. Cortei cabelo, fiz as unhas, sobrancelhas, depilação, etc e tal. Obs: como um salão de beleza faz a diferença na vida da gente... O astral vai de zero a dez em segundos!!
No sábado eu tinha, pela manhã, a festina de comemoração de dia das mães na escola do Lucca. Fui toda bonitona, arrumada, afinal, meu filho merece mais do que ninguém!!
Voltamos pra casa, providenciei um almoço para nós dois e quando já estava retirando a mesa e pondo pratos e talheres para lavar, eis que meu irmão surge. E eis que começa a minha saga...
Pra encurtar a história, meu irmão tinha no freezer uma costela de carneiro congelada, e ele e seu melhor amigo resolveram que iam assar a carne na churrasqueira. Sendo uma irmã muito bacaninha, um dia antes tirei o "bicho" para descongelar (assim facilitava o processo).
Pois bem... O Fábio chegou e foi temperar a carne com ervinhas do nosso canteiro (alecrim, cebolinha, salsinha, tomilho, sálvia, hortelã), sal, alho e vinho tinto. E eu havia pedido apenas um minutinho para desocupar a pia e ceder espaço a ele.
Acontece que ele não esperou, afinal, o sábado estava lindo - sol, calor, cerveja gelada esperando, a churrasqueira sendo preparada. Só sei que ele pegou o liquidificador, colocou todos os temperos dentro e despejou com vigor a garrafa de vinho tinto.
E com o mesmo vigor o vinho escorreu entre o copo, a caixa da lâmina e o motor do liquidificador.
Virou uma cachoeira: o vinho ensopou a toalha (branca, por sinal) que cobria a mesa, escorreu por trás da mesa (que e basculante) e inundou a cozinha.
Precisei sair da cozinha e esfregar os olhos para acreditar no que eu estava vendo. Juro, tinha vinho na lateral do fogão, na porta da geladeira, na parede, na pia.
Baco devia estar se deleitanto com tamanha farra.
Na hora meu irmão ficou, num primeiro momento com raiva e, na sequência, completamente sem graça.
Sim, eu sei que não foi de propósito. Ele até tentou limpar.
Daí, quando eu imaginei que a coisa toda estava contornada, veio o segundo round: a água do descongelamento do carneiro também foi pro chão. Na verdade fez um trilha, seguindo da pia até o cesto de lixo, aonde foi depositada a embalagem do bicho.
Ele sorriu desconcertado e disse: "nossa! tô destruindo a casa hoje".
Contando de um a um milhão, pedi gentilmente que ele fosse terminar de temperar aquela porcaria na casa do amigo dele. E ele sabiamente me obedeceu.
Bem, a essa altura éramos eu, a pia com a louça e a cozinha imunda.
Vesti minhas luvinhas de borracha, afinal tinha feito as unhas, e parti para o ataque na pia.
Acontece que a cada passo que eu dava, sentia que meus pés grudavam no chão. Daí resolvi lavar a cozinha. E foi exatamente nesse momento, caros leitores, que a sorte (no caso, a minha) foi lançada.
Peguei o balde com água, coloquei um desses produtos tipo "limpeza pesada" com aroma cítrico e fui jogando a mistura por toda a cozinha. Na sequência entrei com a vassoura para iniciar o esfrega-esfrega.
Só que o vinho manchou o rejunte e eu precisei do auxílio daquele famoso alvejante com cloro. E como eu estava de chinelos, lá se foi o trabalho da pedicure.
Pensei: "sem problemas, vai... ponho um sapato fechado e ninguém vê nada".
Observação: naquele mesmo dia ia comemorar com o Zé e com meu filho o noivado, por isso também fazia questão de estar bem bonita.
Esfrega daqui, esfrega de lá, as manchas sairam do chão, mas minha blusa verde musgo não teve a mesma sorte - respingos do alvejante alvejaram a blusa - e adivinhem: "pintas" desbotadas agora faziam parte da vestimenta.
Respirei fundo, ajeitei a franja e fui buscar água limpa para enxaguar a cozinha.
Joguei a água no sentido "porta da sala para área de serviço" e o inferno (parte 8, talvez) começava alí. A água não ia para o sentido do ralo!! A água fugia para a sala, por baixo da geladeira, por baixo da porta da entrada de serviço, menos para o maldito ralo!
A essa altura jurei esfolar o Fábio. E o Lucca, prevenido que só, tratou de ficar jogando videogame no quarto.
Bem, não me restava outra alternativa a não ser puxar a água com o rodo. E eu repeti o processo umas dez vezes, sem exagero.
Quando consegui colocar toda a água na área de serviço, outra desgraça: a água represava nos cantos, ficando cada vez mais longe da droga do ralo!!
Nesse momento, com a blusa manchada, esmalte dos pés opaco, franja desalinhada e suando em bicas por ter arrastado geladeira, fogão, máquina de lavar roupas e puxado a água umas dez vezes da cozinha para fora, tive outro susto (se bem que podia ser um surto mesmo): a porcaria da droga do maldito ralo, além de ser mais alto do que o Everest, fica embaixo do tanque.
Como assim?, perguntarão os estimados leitores.
E eu respondo: a porcaria da droga do infeliz e maldito ralo foi colocado bem embaixo do tanque, próximo à parede e numa área mais elevada do que o resto do ambiente. Possibilidade da água escoar por alí? Zero!
Mas como sou brasileira (e viginiana) e não desisto nunca - mesmo porque desistir alí significaria deixar a cozinha e adjacências igual ao estado de Santa Catarina durante as chuvas - peguei o rodo novamente e fui, como num ballet insano, puxando a água rapidamente, de um lado para o outro, até que consegui eliminar cerca de 80% do volume (xingado cada geração de assentadores, pedreiros e engenheiros que tiveram a idéia infeliz de colocar um ralo naquele local).
Já sem forças, com o esmalde dos pés opacos, cabelo desgrenhado, blusa manchada e suando em bicas, tratei de utilizar todo o estoque de panos de chão.
Foi exatamente nesse momento que tive um insight!!
Lembrei que há um mês eu comprei um rodo que prometia ser a sensação: ao invés da borracha preta, há uma espuma grossa que absorve a água e, por meio de um sistema, puxamos uma alavanca e essa espuma é espremida até ficar sequinha e pronta para o uso.
Lá fui eu bravamente utilizar a bugiganga. Que não funcionou conforme a progaganda, é claro.
O tal sistema da alavanca não espreme o suficiente a tal espuma que, por sua vez, fica encharcada, fazendo com que eu tivesse que apertar bem até sair toda a água.
Fora de brincadeira, mas entre entre o desastre e a limpeza total gastei quase três horas. Isso não é nada se comparado ao que gastei no salão. Em termos financeiros, é óbvio.
Fui diretamente da cozinha para o banheiro e quando me olhei no espelho, quis morrer. Aliás, nem vou descrever aqui o que vi para não sofrer de novo.
Me senti protagonista do filme Desventuras em Série.
Só sei que tomei banho, lavei meus cabelos (que horas atrás tinham uma escova linda), me arrumei como pude, coloquei um tênis no pé e fui, juntamente com o Lucca, encontrar o Zé.
Para meu espanto levei mais de uma hora para percorrer uma distância que faria em 25 minutos.
Cheguei lá acabada, de mau humor, azeda mesmo.
E ele teve a audácia de perguntar o que havia acontecido, por quê eu estava vestida daquele jeito e se eu tinha mesmo que ficar com cara de mau humor.
Só sei que precisei me conter e contar novamente até um milhão. Caso contrário o noivado certamente iria ralo abaixo e dessa vez, com facilidade.
2 comentários:
Ahahhahahah, adorei o texto Déa !
Ninguém sabe o que vc passou nesse dia, só você !
Realmente acontecem "imprevistos bem desagradáveis"
E pior que foi algo bem inverso, ao mesmo tempo q estava feliz com seu noivado, isso tudo aconteceu e te deixou com um baita mau humor.
Realmente amiga, seria cômico se não fosse trágico !
E adorei a frase referente ao Fabinho.....
"E ele sabiamente me obedeceu."
KKKKKKK
Bjs
Di
Menina, que loucura!!! Sei bem como é isso... tem dias que passo por cada uma... Amiga, o importante é que vocês estão bem e logo mais, muito brve, terão uma linda familia. bjoss
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