terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Tipo


Ela estava incomodada com o Sol em seu rosto.

Era umas dessas tardes de primavera, muito quentes, de céu muito azul. O dia estava especialmente bonito. Mas o sol batia em seus olhos e ela pouco percebia as intenções nos olhos alheios.

Ficaram conversando em plena esquina, na companhia de uma cerveja gelada, em um bar movimentado.

Ela já nem dava mais atenção àquilo que ele dizia. Já havia decorado o discurso, as desculpas, os trejeitos.

Enquanto ele falava, imaginava outra pessoa - qualquer outra pessoa - de preferência, alguém que ela não conhecesse.

Alguém que ela tivesse que desvendar mistérios, segredos, conhecer os desejos. Alguém com quem pudesse compartilhar desejos, insinuar segredos e esconder mistérios. Tudo para ser descoberta.

Pensou como seria ter sexo com essa pessoa: quente, forte, e, ao mesmo tempo romântico.

Imaginou-se casando com essa pessoa, se viu grávida do primeiro filho, projetou imagens de uma família feliz.

Era tudo o que ela queria naquele momento.

Deu uma risada por dentro e se achou ridícula diante de pensamentos tão tolos.

Queria tudo isso e estava lá com um cara que tinha sumido meses antes, deixando-a sozinha e sem nenhuma explicação.

Realmente não fazia sentido.

Até que uma frase a tirou de seus devaneios.

- Minha Linda, quer casar comigo? Mas, tipo, casar sério, ter família, filhos e um cachorro no quintal.

E ele prosseguiu:

- Esse tempo em que ficamos longe deu pra sacar justamente isso. Tipo, preciso de você, você é completa, especial.

E ela, em estado de choque, continuava muda.

- Tipo, só você consegue me esperar. Olha só. Ficou sozinha esse tempo todo.

Os olhos dela arregalaram de tanto espanto.

- Tipo, é isso que eu preciso: fidelidade.

O sol, que antes batia em seus olhos, agora estava mais baixo e ela pode ver os olhos alheios. Ele estava sendo tão sincero com ela, que só restou uma alternativa: dar uma resposta ali mesmo e imediata. E assim o fez, mas antes engoliu a cerveja de seu copo e sorriu.

- E aí? Tipo, você aceita, né?

- Lógico, respondeu ela com um largo sorriso. E emendou já pegando a bolsa:

- Tanto aceito que já vou indo ver meu vestido de noiva, agora mesmo, nesse momento!

- Mas e eu? Espera...

- E você? Olha, meu querido, você espera aí. Quem sabe um dia eu volto...

E saiu enterrando pra sempre aquele "tipo".

Um comentário:

Luciana Santos Tardioli disse...

MUITO BOM!!!!
RSRSRSRS
Linda, obrigada pelos comentários sobre meu texto
E vc, tb, cada vez melhor, bem cômica rsrsrs. Tipo, esse cara tipo não merecia essa moça bjo!!!