domingo, 26 de abril de 2009

A minha melhor virtude.


A minha melhor virtude certamente não é paciência.

E isso é claro para mim. É assumido também.

Não adianta: por mais que eu me esforce, não consigo disfarçar. E olha que para a minha paciência chegar ao fim, a pessoa/o fato tem que percorrer uns três quilômetros ainda.

Mas não dá mesmo.

Quando o fim da linha se anuncia, perco a compostura, a educação, e até mesmo a delicadeza.

Ontem tive um exemplo claro disso.

Estava num shopping, procurando uma vaga para estacionar e, entra numa rua, sai em outra e eis que fui obrigada a fazer uma conversão à esquerda. Não havia placa nenhuma. Apenas uma sinalização em amarelo, mal pintada, no chão. Era contramão. E eu não vi. Juro.

A bendita rua era estreita e uma pick up quis seguir seu caminho correto. E eu, cega, impliquei com o outro motorista. Encalacramos, entalamos, porém, sem se tocar.

E como ainda não tinha percebido que eu estava errada, parti pro ataque. O outro me chamou de "mulherzinha estressada", "louca", "olha a sinalização de contramão".

Nesse momento o Zé deu um grito comigo: "pára com isso, Andréa. Por favor! Olha o que você está fazendo!". O grito do Zé foi um chacoalhão.

Quando dei por mim e vi o que tinha acabado de fazer, quis morrer de tanta vergonha. Se pudesse me esconder dentro do porta-luvas, teria feito.

Depois de desentalar (precisei fechar o meu retrovisor para ele passar), estacionei meu carro e desci tremendo.

Levantei o olhar e vi o outro motorista passando a pé, apressado, em direção à entrada para as lojas. Gritei "moço, por favor, me desculpe. Eu errei mesmo. Não vi a sinalização. Me desculpe". Ele olhou pra mim, deu um sorriso cínico, sussurou um "deixa pra lá" e seguiu adiante.

Não conseguia parar de tremer. Não conseguia parar de pensar no que eu tinha feito.

Aquilo é o retrato fiel do que eu estou me tornando.

Não é desculpa, mas tenho andado no meu limite, se é que eu conheço o que é isso... Mas sinto que estou bem perto dele.

Há dias já não consigo esperar o sinal abrir, o download terminar, o carro esquentar pra eu sair com ele, o Lucca fazer sua lição ou terminar sua refeição.

É um telefone com tom de ocupado ou uma insistente caixa postal, é o tal do aparelho celular que não chega na loja, o contador que não resolve um problema qualquer, minha avó me monitorando dia e noite porque agora moro sozinha, meu irmão que não lavou a louça ou não desabotoou a camisa para eu lavar.

A vida anda me provocando? O universo está conspirando contra?

Não sei.

Talvez isso já acontecesse há anos e eu, envolvida com tantas outras coisas, não me importava. Talvez eu não esteja sabendo lidar com tanta mudança. Talvez esteja me faltando hoje um norte, um rumo, uma palavra.

Ter entrado na contramão ontem e não ter percebido está se tornando usual, comum, na minha vida ultimamente.

Não quero mais isso pra mim. Preciso me recuperar e ser novamente o que sempre fui.

Ontem, depois do ocorrido, eu me senti uma idiota, insistindo em seguir pela via contrária.

Ontem eu encontrei alguém que não quis aceitar meu ataque. Ainda bem... Porque se fosse o contrário, provavelmente eu não estaria aqui para contar essa história.

A minha melhor virtude hoje não é a paciência, mas a resiliência.

Ainda vou resgatar minha calma e minha serenidade.

Só não sei ainda aonde vou enfiar a tal da minha ansiedade.

Um comentário:

Débora disse...

Sabe Déa, eu acho que não existe no mundo uma só pessoa que não tenha passado por um momento assim como esse que vc relatou.
Eu, por exemplo, passei por inúmeros. Algumas vezes saímos do nosso centro, perdemos a direção e até mesmo a noção. Mas, esses momentos são extremamente ricos porque é ai que percebemos que precisamos voltar. E começa um processo de “o que eu quero pra mim e o que eu não quero?”, “o que vou precisar mudar e por quê?”, “qual foi a escolha errada que me trouxe até aqui?”, então como numa faxina mudamos algumas coisas de lugar e jogamos outras tantas fora. O primeiro passo foi dado. Aproveite este contato com vc mesma. Saudades. Bjs.