Hoje vou falar de futebol. Me deu vontade principalmente porque, depois das últimas rodadas, alguns fatos vieram à tona para explicitar quem é quem nesse ambiente (hostil).
Não é segredo para ninguém o quanto gosto deste esporte. Assim como não é segredo que meu coração é corinthiano.
Porém, sei diferenciar as coisas e consigo apreciar boas partidas, independente de quem sejam os protagonistas.
Aprendi a gostar de futebol com meu pai. Era eu quem ficava com ele assistando as partidas - principalmente aquelas de quarta-feira. Com isso passei a conhecer as regras, os jogadores, o nome das jogadas.
Muita gente acha graça quando falo que gosto de futebol. Os homens (em sua maioria) pensam que sei os nomes dos ídolos e dos mocinhos bonitinhos. E olhe lá...
Já as mulheres se dividem em: as que acompanham por causa do marido (namorado, caso, ficante, pai, irmão), as que simplesmente não toleram, e as que adoram. Como eu!
Por isso estou usando meu espaço para contrapor alguns fatos que me deixaram realmente indignada. A começar pela pergunta: a moral finalmente chegou ao futebol?
Pelo visto, em partes, já que um advogado que assistia a primeira partida entre São Paulo e Corinthians se sentiu profundamente ofendido com o gesto (ok, concordo, obsceno) do jogador alvinegro Cristian. Após o episódio algumas autoridades afirmaram que o volante estava incitando a violência entre as torcidas e ele corre o risco real de ficar afastado por até dez jogos (incluindo-se aí a decisão do Campeonato Paulista).
Ora, ora, ora, meus caros leitores, se não me falha a memória, alguns outros jogadores (tanto da "safra nova", como os da antiga) tiveram atitudes idênticas e, pasmem! Ninguém foi, sequer, citado.
Também não me venham com picuinhas porque sou torcedora do Corinthians.
Honestamente, se tinham coisas ali para serem julgadas, o gesto infeliz do Cristian não era uma delas. Confesso que fiquei até assustada com a falta dura de Ronaldo em cima de André Dias e pensei que o nosso ídolo fosse sofrer alguma punição. Mas não!! A suspresa chegou por meio de alguém que se sentiu atingido moralmente pelo desabafo gestual de alguém que sai vitorioso de uma grande pressão. Afinal, o objetivo alí era claro: vencer a temida equipe de Muricy Ramalho e dar a volta por cima.
Para não dizerem que estou sendo imparcial, vamos a outro exemplo de falsa moral.
Segunda partida das semi-finais do Campeonato Paulista - Palmeiras X Santos - com a equipe do técnico Wagner Mancini levando vantagem. Jogo tenso, o Palmeiras parecia anestesiado se não fosse a garra de um novo ídolo do Parque Antártica: Diego Souza.
O moço, que foi comprado a peso de ouro, levou um bom tempo (muito tempo, diriam os rabugentos de plantão) pra se firmar no elenco. Mas, ao contrário de outros tantos jogadores, fez o que todos aqueles que horam suas chuteiras deveriam fazer: não só gols, mas sim, dar o melhor de si pela profissão que escolheu e, naturalmente, pelo clube que o acolheu.
Diego corre sem parar em todas as partidas, assiste seus companheiros com passes precisos e, quando é assistido, marca golaços. Só tem um defeito: seu coração anda batendo dentro da sua chuteira. Por isso faz besteiras. Besteiras dignas de um moleque apaixonado. Daí, obviamente, as coisas desandam.
E foi exatamente isso o que aconteceu no último sábado. Estádio lotado, a torcida gritando seu nome, reconhecendo seu valor (embora seu estilo esteja a centenas de quilômetros distante da elegância de Tostão, Rivelino, Garrincha e tantos outros) a cada bola ganha, a cada dividida em que levava a melhor, a cada arrancada.
Até que, em pleno sábado, o Domingos levou a melhor. Incitado (ou não) pelo próprio treinador, entrou para marcar o volante palmeirense e o resto, todo o País já sabe: ouve uma discussão (em que, certamente, o nome do gesto feito por Cristian foi dito, com todas as letras), o juiz, para não perder a autoridade (e também não demonstrar sua absoluta falta de atenção na jogada) expulsou o dois e Diego, indignado com a atitude do outro jogador, que simulou uma agressão, voltou ao campo e aí sim agrediu Domingos com uma rasteira.
Ok, essa não é a atitude de um jogador profissional. Não é certo, não é legal, não é bacana. Ele reconheceu que errou em plena entrevista coletiva após o jogo. E chorou, convicto de que fez o que não era lá muito certo. E foi comparado a umdos maiores ídolos do clube: Edmundo, o Animal.
Mas daí vem a tal história de falsa moral.
Opa! Pausa na transmissão.
Domingos trocou olhares cúmplices com seu treinador logo após a lambança. Olhares dignos de entrega, de acerto, de aprovação. Também fez um gesto: ergueu o polegar e ostentou um risinho de canto de boca. Sublime felicidade. Sublime covardia. Alguém se sentiu ofendido pelo gesto? Alguém percebeu que a cena, como um todo, incita a violência?
O jogador palmeirense poderá ficar até três anos sem jogar. O santista e seu técnico nada sofrerão. Bela moral, essa, hein?
Mas eu, que assistia a partida, me senti ofendida com tal atitude. Será que devo entrar com uma ação contra a equipe da baixada santista? Será que o Rei Pelé não sentiu uma pontinha de vergonha pela estratégia adotada?
Não sei... Preferia que as diferenças fossem resolvidas com passes mágicos, jogadas espetaculares, gols de letra, gols de falta. Preferia ver a torcida se sentindo ofendida pela ausência disso tudo.
Hoje em dia quem resolve as diferenças são os advogados, os empresários e, claro, os dinossauros que comandam o esporte.
Futebol, aos meus olhos de torcedora, é jogo de gestos, de palavras, de olhares, de catimba. É jogo de contato, quase como uma dança moderna, de ritmos fortes. É espaço pra brotar algo meio de bicho, meio de gênio mesmo. É materninade de ídolos - tortos ou mocinhos - como Edmundo, Evair, Romário, Kaká, Renato Gaúcho, Rogério Ceni, Casagrande, Sócrates e Raí, entre tantos outros.
Futebol serve para que a nossa "pátria de chuteiras" prenda a respiração a cada lance e sonhe com a Taça de Campeão para seu clube. Antes, futebol começava com o apito do juiz avisando o início e, depois, o fim da partida. Hoje, é na batida do martelo de um juiz, só que dessa vez dentro de um tribunal.
Um comentário:
O esporte seja qual ele for, sempre tem particularidade. Figuras cômicas, irritantes e sem nenhuma noção!
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