quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre os que vem e os que vão.

Terça-feira minha mãe chegou de uma longa viagem.
Pela primeira vez em sua vida, ela ficou trinta e um dias fora de casa.
Também, pela primeira vez, ela fez uma viagem internacional.
Assim como, pela primeira vez lagrou todo mundo sozinho, seguiu sozinha e foi feliz, sozinha também. Com isso percebeu, pela primeira vez, que o mundo anda sem ela e que ela pode (e deve) andar pelo mundo.
Durante esses dias em que esteve fora, minha mãe conheceu várias cidades em Portugal e Itália, e ainda deu tempo de ir até Londres. Uma experiência incrível pra ela.
Posso afirmar que pra mim também foi.
Pela primeira vez na vida me vi realmente sozinha. E isso não me abalou, mas sim, abriu novos horizontes diante dos meu olhos.
Já disse aqui uma série de vezes o quanto não me dava bem com a minha mãe. Olhava pra ela e via a figura da Esfinge. Era isso que ela representava pra mim - um grande, frio e amedrontador símbolo. Costumava dizer que uma geladeira tinha mais emoções do que minha mãe.
Acontece que esse mês longe fez muito bem pra nós duas. Aliás, a própria mudança já estava fazendo bem.
Eu senti saudades dela, por incrível que pareça... e disse isso algumas vezes, durante os telefonemas e as conversas no msn.
No último dia de sua viagem, enquanto acertávamos as questões de vôo, chegada aqui no Brasil, etc e tal, já que os horários haviam sido antecipados, soltei um "vem com Deus... eu te amo".
E ela riu. Riu e chorou.
Desliguei o telefone e cai um choro só. Estava realmente com saudades da minha mãe.
E olha que passei incólume (e órfã em pleno dias das mães) no domingo.
Pra fazer surpresa, fui até a casa dela e preparei um jantarzinho bem básico: arroz, feijão, lagarto recheado, salada de alface. Também comprei uma torta mousse de chocolate e flores, muitas flores em tons de roxo, rosa, lilás.
Quando ela entrou nos abraçamos muito mesmo, choramos e rimos. "Ai que saudades", falamos juntas, ao mesmo tempo.
Foi muito bom aquilo tudo.
Daí ontem, ainda pela manhã (e na ressaca da volta da minha mãe), recebo uma ligação do Zé dizendo que a Leda estava sendo internada. Meu coração partiu ali.
O fim está muito perto, pensei sozinha.
Tentei passar o dia me distraindo com outras coisas, fui novamente até a casa da minha mãe, mas o Zé chamou de novo e aí ouvi da minha mãe um "vai que ele precisa de você muito mais do que nós", se referindo ao Lucca e a ela mesma.
Saí de lá e fui direto para o hospital.
Confesso que nunca chorei tanto como fiz durante o trajeto até a avenida Paulista. Aliás, precisei me controlar para sair do estacionamento e entrar no hospital.
Não sabia como lidar com a perda, tão iminente...
Fiquei lá das 17h às 22h, e durante esse período, procurei ajudar em tudo, já que ela estava semi-consciente e muito agitada.
Revesávamos para não chorar dentro do quarto.
Embora já soubéssemos que o fim chegaria, nenhum de nós estava realmente preparado para assistir tanta dor, tanto sofrimento físico
Também a abracei muito, acariciava seus cabelos, e dizia baixinho em seu ouvido orações espíritas.
Em determinado momento, agradeci em pensamento tudo o que ela havia me ensinado em termos de fé, resignação, força. Agradeci por acolher a mim e a meu filho durante todos esses anos em sua casa, por permitir que eu me relacionasse com o Zé e, finalmente, pedi para que fosse embora em paz.
Hoje sou eu quem vai dormir lá com ela. Vou cuidar e ajudar como posso, com todo o meu coração e amor.
Porque quando isso tudo acabar, e a Leda for embora de vez, terei outra missão, muito importante também.
Vou cuidar da minha mãe, que acabou de chegar para mim, sem a sua fantasia de Esfinge.
Precisei conhecer a Leda pra entender muitas coisas, e entre elas está o fato de que eu amo muito minha mãe.

"Amiga Querida, vá em paz. E mais uma vez, obrigada por tudo. Sempre!"

"Mãe, seja bem-vinda. Seu lugar está guardado dentro do meu coração há anos."

5 comentários:

Érika disse...

Lindo. Fiquie bem emocionada com o texto. Cuide bem de sua mãe... E assim como vc, tb tinha problemas com minha mãe. Até coloquei isso no blog recentemente. Hj somos muito amigas. bjos e força sempre. Fiquem com deus

Luciana Santos Tardioli disse...

Nossos amados...
tudo é possível para Deus!

Denise disse...

Querida, que texto emocionante. Dê o endereço do seu blog para sua mãe, pq ela precisa ler isso. Que linda mensagem de amor. Sobre a Leda, acredite, vc está sendo muito forte. Parabéns por ser esta mulher, Déa. Bjo

Elis Zampieri disse...

Oi Andrea. Lindo e emocionante esse texto. E o último do noivado, desculpa, mas eu ri sozinha. Me enxerguei em algumas situações parecidas, tudo bem que nenhuma no dia do noivado.
E quer mais pra esse ser um dia inesquecível???

Boa semana pra você! (sem imprevistos na cozinha) :-)

Débora disse...

Déa, mais uma vez fiquei emocionada ao ler seu texto.
Parabéns para vc e para sua mãe pela conquista!
Sobre a Leda acredito que vc esta fazendo o seu melhor, admiro sua força.
Ah... e tb vou aproveitar para te parabenizar pelo noivado.
Bjs