segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Da falta que me faz.


Sou otimista por natureza.
Sempre acredito que o melhor vai acontecer - uma hora ou outra - e que os obstáculos são os temperos que deixam as vitórias mais saborosas.
Sempre acordo pensando que o hoje vai ser melhor que ontem e, assim, sucessivamente.
Mas tem uns dias que não dá pra carregar o sorriso na cara o tempo todo, como também não dá pra apagar eventuais problemas ou aparentes faltas de soluções que venham ao meu encontro.
Nesses dias e nessas horas sinto falta de algo.
Algo que teoricamente tenho, mas que não funciona (se é que funcionou algum dia).
O que preciso não está - infelizmente - na minha maravilhosa amizade com as meninas do bloge (De Salto Alto e Batom), nem no colo dos outros amigos, não está no olhar do Lucca, nem no amor do Zé, que um dia eu tive. Não encontro o que preciso no melhor vinho, na melhor viagem, no prato que mais aprecio. Coisas materiais, nessas horas, não têm peso, valor, nem importância.
Nesses momentos me falta algo intangível, mas totalmente real.
A maioria das pessoas tem e sabe como é bom.
Pra ser sincera, acho que nunca tive...
Por isso, tem dias que vivo como que em suspensão: me faltou aquele ar no momento crucial e, a partir dali (que eu não faço idéia quando foi exatamente), nada andou. Se é que houve um antes, se é que houve história antes.
Me faltou um olhar de compaixão, um suspiro pela vitória ou pela derrota, me faltou foi uma boa conversa, ou um papo sincero. Me faltou igualdade, amor, liberdade para que eu tivesse confiança de seguir em frente e voltar. Me faltou um abraço a cada volta.
Me faltou aquele sorriso de satisfação, daqueles que a gente solta quando a "obra-prima" supera seu criador.
Sobrou foi a falta de proximidade, de identidade, de amizade. Sobrou foi a competição, o prazer em subjugar. Sobrou frieza, pouco caso, desconsideração. Sobraram apontamentos para meus erros - elementares ou não - e sobram penas duras até hoje pelas minhas escolhas. E olha que eu só quero ser feliz.
Me doeu cada não displicente, e me dói ainda hoje. Principalmente quando o não vem no plural e atinge não só a mim, mas meu filho também.
Me dói ter que chamar alguém por um rótulo que não me diz nada, e o qual me tornei sem ter experiências ou exemplos bons. É como se faltassem tábuas para completar uma ponte, e fazer, assim, o caminho se tornar mais seguro e certo.
Hoje eu sou a mãe do Lucca. E sou, sim, de boca cheia, repleta de orgulho por ser mãe e não uma geladeira ou uma Esfinge. E sou tudo aquilo que não foram para mim.
Já, dos outros, eu não posso dizer o mesmo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

No Limite.


Estava desde quinta-feira sem ver tevê.
Fiquei ocupada com uma série de coisas e deixei os programas para depois. Nem Fantástico, nem Domingo Espetacular, nem MTV. Nada.
Pois hoje parei para ver os jornalísticos da hora do almoço e daí resolvi mudar completamente o tema do meu texto. Eu ia falar sobre o progresso da minha dieta, mas depois de ver tantos absurdos, precisei escrever algumas coisas.
Diante de notícias tão assustadoras, cheguei à conclusão que isso sim é viver no limite. E eu não estou me referindo ao programinha global, com obstáculos de mentira. Estou falando de vida real.
Por isso, resolvi listar algumas coisas que me deixaram passada - seja pela falta de educação, pela ausência de gentileza ou de noção mesmo. Aliás, não me calquei só nas notícias de hoje, mas também nas experiências diárias no trânsito e com gente de todo o tipo e em todos os lugares.
Vamos aos fatos:
- briga na saída de um hipermercado paulistano porque a catraca do estacionamento não abriu, um motorista não quis esperar e acabou batendo no primeiro carro, que aguardava a abertura da cancela. O motorista prejudicado foi anotar a placa do outro carro e daí, sem a menor cerimônia, o causador da batida passou - literalmente - por cima do rapaz, que ainda foi arrastado por cerca de 100 metros, enquanto o outro fugia alucinadamente.
- madrugada carioca e em plena avenida Brasil dois cavalos andavam pela pista da esquerda. Um motorista não consegue para a tempo e atropela um dos animais que, depois de ser lançado longe, morre na hora. O motorista sofreu ferimentos leves, e não corre risco de morrer. De quem era o cavalo, ninguém sabe.
- no Nordeste a mesma situação: um animal no meio na pista e duas pessoas numa moto morrem porque não puderam desviar do bicho. O dono desse cavalo também sumiu.
- nos Estados Unidos um homem (uma dessas celebridades de reality show) mata a esposa, pica o corpo em pedacinhos, vai para um hotel no Canadá com uma garota de programa e, aparentemente, se mata. A identidade da esposa só foi descoberta graças ao número de série da prótese de silicone que ela tinha.
- a prefeitura de São Paulo ordena a desocupação de uma favela na zona sul da cidade. A polícia chega com dos oficiais de justiça e confusão inicia com um incêndio, tumulto, corre-corre. O resultado é gente ferida na pele e no orgulho. A prefeitura oferece vagas em albergues para quem não tiver para onde ir. Como ninguém aceita (é claro!), o órgão resolve emitir passagens de volta para aqueles que quiserem voltar para suas origens. A saída mais fácil para uma limpeza ética: mandar de volta quem constrói a cidade.
- hoje não falaram de política ou, mais precisamente, do Senado. Acho que devem estar submetendo os publicitários do governo à criação de uma campanha pela mudança de nome do Conselho de Ética. Para mim, devia se chamar "Conselho de Estética": só com muito óleo de peroba na cara mesmo para enfrentar uma situação dessas.
- ainda em São Paulo, o governo do Estado deu início às obras de alargamento das marginais Tietê e Pinheiros. O que provavelmente será um benefício para a população (muito questionado por ambientalistas e urbanistas - e também por mim), tornou-se um inferno hoje em dia para quem precisa se deslocar. No sábado a noite, por volta das 20h30, levei cerca de 40 minutos para percorrer entre a ponte Atílio Fontana e o Cebolão. É que as tais obras ocupavam três, das quatros pistas, e só passava um carro por vez.
- também nas marginais há uma pista de recuo para quem muda da faixa expressa para a local. Mais precisamente, depois da Ponte do Limão, há um exemplo clássico: os mais apressadinhos ocupam a pista de recuo e, quando esta acaba, tentam invadir a pista da esquerda. E o trânsito pára.
- lá em Osasco um segurança do Carrefour agrediu um homem negro no estacionamento apenas por considerar que ele poderia roubar algum carro - por ser negro, é óbvio. O homem, que foi duramente agredido, estava em seu carro, com sua filha de dois anos de idade dormindo no banco traseiro, enquanto aguardava a esposa e o outro filho que faziam comprar no supermercado. O segurança foi afastado e a gerência daquela loja, demitida. Ah! O homem terá que passar por algumas cirurgias porque seu maxilar foi quebrado.
- por fim, sábado eu fui almoçar num restaurante em que se vendem grelhados. Por ser de sistema self-service, e depois de me servir de saladas e legumes (olha a dieta aí gente!), me dirigi até a balança e pedi um pedaço de peito de frango. O atendente foi ríspido: "aqui a gente só vende o peito inteiro. Vai querer ou não?" Respondi que queria apenas um pedaço e ele retrucou: "olha, se você quer comer pouco, pega uma coxa." Fiquei sem saber o que dizer, apenas disse um "não gosto de coxa", virei as costas, fui para a mesa e relatei o fato para a pessoa que me acompanhava. Indignados, ambos chegamos à conclusão que deveríamos chamar o gerente. E qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que o gerente era, na verdade, o tal atendente da balança. Pedimos a conta e fomos embora.
E eu que achava que TPM era coisa de mulher e que durava uma semana, resolvi mudar de opinião diante de tantos absurdos. Penso ainda que as pessoas estão perdendo a mão a cada atitude, e que o outro... bem, o outro nada mais é do que o outro. E dane-se!
Mas eu ainda creio que gentileza gera gentileza.
E, mesmo desconfiando que a atitude seja cafona, também me preocupo com o próximo, desejo bom dia ao porteiro, dou a passagem no trânsito. E dou às costas para gente boçal, como o gerente do restaurante.
E como diz o Beto Castro, um grande amigo meu (e blogueiro como nós), não posso mudar o mundo, mas sei que posso (e devo) cuidar do meu quintal.

Ah! a minha dieta vai muito bem, obrigada!! Depois escrevo contando as minhas desventuras em série...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A inveja mata (ou quase isso).


Ontem riscaram meu carro. Toda a lateral do motorista (lado esquerdo), com um único risco, no sentido da traseira ao capô, foi danificado.
O risco é fundo, tirou tinta, portanto, só mandando pintar toda a extensão do dano. O custo vai ser alto, certamente.
E, para eu não me sentir tão mal, percebi que os carros que estavam estacionados antes e depois do meu também foram riscados. Bem, pelo menos não devo ser sido a única ter um chilique no meio da rua.
Primeiro vem a sensação de ódio, ira. Dá vontade de matar o primeiro infeliz que passar. A máxima "a inveja mata" seria empregada diretamente naquele que nutriu a inveja...
Depois vem a sensação de impotência, já que a marmota do porteiro não viu nada de importante, ou denunciador. A culpa, certamente, é minha, já que estacionei o carro na rua, ficando sujeita à toda sorte (ou, no meu caso, azar).
A verdade é que essa não é a primeira vez que me sinto assim, lesada. Meses após pegar esse carro, que saiu lindão e zerinho da concessionária, um moleque bateu no paralamas traseiro. E fugiu.
Acontece que eu descobri quem era o responsável e fui atrás. O infeliz em questão é filho de um cidadão que promove jogo do bicho e máquinas de bingo, e me passou alguns números de telefones que, claro, nunca funcionavam. Tentei por uns três meses e depois desisti.
Parece que a impunidade é premissa para a "liberdade" de atos irresponsáveis.
No caso do risco de ontem, credito também a inveja.
Por que, afinal, alguém risca quatro carros novos, estacionados numa rua tranquila, em plena tarde de domingo? Maldade, sensação de impunidade ou inveja?
Para mim é tudo isso junto, porém, com a inveja motivando a ação (já que eu não tenho capacidade de me matar para trabalhar e comprar um carro novo, vou estragar o carro dos outros e achar que sou o máximo por ter feito isso - "toma aí, seus playboys").
Mas tem também outras modalidades de inveja.
Eu mesma trabalhei numa agência cuja proprietária queria ter tudo os que suas funcionárias tinham, desde bijouterias, roupas, sapatos, acessórios, uma flor na mesa ou até mesmo um passeio, ou uma experiência qualquer (como um jantar ou uma viagem).
Como ela nunca conseguia que as pessoas dessem à ela os "mimos", procurava saber aonde ficava a loja, restaurante, passeio, e copiava - sem o menor pudor - a idéia anterior e alheia.
Certa vez ela encanou num anel que eu comprei (e, claro, ela comprou igual, já que estava comigo no momento da aquisição). Ela perdeu o dela e queria a todo custo comprar o meu.
Mas o cúmulo mesmo foi um casaco, do tipo trench coat acinturado, de tecido acetinado, que uma das meninas do atendimento ganhou de presente do pai. Era realmente lindo, e custava uma fortuna. No corpo da moça (vale dizer aqui um corpão "lipado e siliconado") ficava perfeito. E a chefona foi lá, às escondidas, e comprou um igualzinho, e foi com ele num evento que, claro, estava a outra moça também com o casaco.
Foi um susto. A menina ficou completamente desconcertada, mas depois caiu na risada porque o caimento da peça na tal diretora ficou, digamos, estranho, já que a mesma pesava cerca de 90 quilos, tendo a minha altura (1,58m). Todo mundo no evento percebeu que alguém copiou alguém e sendo, no mínimo, pouco inteligente, sacou quem foi a invejosa.
Lembro também de uma outra "amiga" (da onça) que tinha fixação por namorado alheio. A moça precisava que todos os homens, de todos os ambientes que frequentava, olhassem para ela. E, a partir do momento que era o centro das atenções, fazia um jogo de sedução explícito, não importando se os homens eram casados ou comprometidos. Para se ter uma idéia, ela cumprimentava o sexo oposto apertando seus (fartos) seios contra o peito do outro, como num abraço beeem apertado. Nem o Zé escapou das investidas.
Mas de todas as modalidades de inveja, a que considero pior é aquela entre família.
Acho mesmo que a vibração negativa emanada por um parente seja mais forte do que qualquer uma outra. Ou vão dizer aqui que nunca tiveram um "atraso" ou reversão em seus negócios depois de mencionar o fato para alguma tia, primo, etc?
É batata!
Bastou abrir a boca e pronto: tudo desanda.
E como diria José Simão, só com muito colírio diet pra aliviar tanto olho gordo!! Porque eu sinceramente não acredito na tal inveja branca, e por isso, parei de contar sobre minha vida para muita gente por aí.

domingo, 16 de agosto de 2009

Mal assombrado.


Dia lindo lá fora, em pleno domingo. E eu aqui em casa, olhando o horizonte de longe.

Faz sol lá fora e eu morro de frio aqui dentro. Não há cobertor que chegue ou malha de lã que me aqueça.

O inverno se instalou dentro de mim. São montanhas de neve eterna, grossas camadas de gelo. Só assim para esconder o que ainda vive em mim.

Apesar do movimento da rua, do dia feliz lá fora, dos pequenos prazeres, não me sobrou vontade de estar no meio disso tudo.

Vivo dias de zumbi:á não durmo o que preciso, nem como o que gosto, nem sonho mais meus sonhos. O tal seguir em frente já não existe mais - acabou como uma bolha de sabão. E eu fiquei em suspensão nesse universo paralelo de dor.

Vivo dias automáticos, dando tilt a cada nova bofetada da vida.

Minhas músicas não são mais pra mim, assim como meus autores também já não o são. Minhas plantas na varanda estão lá, os vasos da minha sala estão vazios. Há uma fina camada de poeira nos móveis. Só há eco, solidão, pó.

Aqui já não vive mais ninguém.

E, pelo que posso prever, esse espaço nunca mais será habitado.

sábado, 15 de agosto de 2009

Sem palavras ainda.


É engraçado, mas pensei que com o passar dos dias você fosse sumindo de dentro de mim, assim como eu também pensei que saberia lidar com o vazio, com o novo.

Não está dando certo.

Eu passo o dia todo ocupada, trabalhando, cuidando das minhas coisas, do meu filho, da minha vida. Mas quando a noite cai, a verdade vem junto: já não tenho mais você.

Também não tenho tido sono. E isso está refletindo no meu rendimento diário.

Não consigo explicar para mim mesma ainda. Não tenho palavras.

Daí hoje, percebendo que todas essas coisas têm me feito muito mal, resolvi mandar a última mensagem, desejando que suas escolhas te façam feliz, e dizendo que lhe sou muito grata por tudo o que você fez por mim.

É. Eu reconheço que você foi fundamental para meu crescimento, ao contrário do que você imagina.

Você esteve ao meu lado quando toda a minha família te dizia para não ficar porque "eu não valia grande coisa", apenas por ser mãe solteira.

Você abriu os braços para meu filho, que te tratou como pai, durante todos esses anos.

Você me defendeu de um louco, psicopata, que me perseguia. Você me salvou dele.

Daí, com o passar dos anos, você me mostrou, por meio da Leda, que a vida real é cruel, mas que também pode ter momentos inspiradores, tais quais aqueles em que ríamos juntos, andávamos de mãos dadas tagarelando sempre, ou simplesmente antes de dormir, quando você cheirava meus cabelos dizendo que não esquecia meu cheiro.

Nosso silêncio lá na varanda também dizia muito, e eu achava que iríamos ficar velhinhos, juntos, sentados e de mãos dadas. Você ria de mim e consentia com sua cabeça.

Esses últimos anos foram, sem dúvidas, os melhores anos. Tive a melhor companhia, os melhores exemplos, o melhor sexo, os melhores dias, as tardes mais longas, as conversas mais densas. Compartilhamos medos, sonhos, vontades e descobertas.

Tive um porto-seguro, um amigo incrível.

Conheci o que era amor de verdade, e descobri que dar amor é algo intrínseco em mim (principalmente porque esse amor é direcionado a você).

Nesse tempo todo aprendi a ser uma pessoa melhor, fiquei mais madura, consegui dicernir o que era bom pra mim e o que os outros acham que poderia ser. Também fiquei mais forte, e passei a assumir minhas escolhas com segurança. E você é responsável direto por isso.

E por mais que as nossas diferenças e divergências tenham se sobressaído tantas vezes, ainda assim, valeu a pena.

E eu queria que você soubesse disso.

Porque as coisas difíceis, as discussões, as guerras, as ofensas, as mágoas também tiveram seu peso, e talvez tenham contribuído para que o fim se aproximasse, assim, tão rápido. E era tudo besteira, como você dizia.

Mas o que eu queria mesmo era que você soubesse que eu ainda te amo e que sinto muito por isso. Ninguém - nem mesmo eu - consegue apagar tantas coisas em tão pouco tempo. Acho mesmo que só você teve esse dom.

E como eu te disse antes, numa outra e recente oportunidade, talvez um dia esse amor morra. Sei lá.

O que sei mesmo é que quero que você se encontre em meio às suas escolhas e seja feliz. Porque eu tentei. Eu juro que eu tentei te fazer feliz.


PS: ainda acredito que eu esteja perdida no meio de suas tantas escolhas, e que um dia você ainda vai me redescobrir.



segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pra me calar.


Acabei de ler isso:


O silêncio, aprendo, pode construir. É modo
denso/tenso
— de coexistir
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.
(Affonso Romano de Sant'Anna)


Foi um tapa.

Um tapa de mão aberta, bem no meio da minha cara.

Como não tinha pensado nisso antes, meu Deus?

Me calei diante de tamanha verdade, e me arrependi de tantas bobagens ditas ainda há pouco.

Sou passional, sou extremista, sou fleumática, sou intensa, sou mulher.

E passei por idiota. E fui prolixa e ridícula.

Mas o fato é que por mais que eu me esforce, as coisas não saem de dentro de mim!

Meu peito é um estufado de sentimentos - ora bons, ora tristes, ora perversos. Minha cabeça é uma babilônia de pensamentos, de memórias, de cobranças, que saltam a minha boca e me fazem proferir o impossível, o impensável.

Sujo, assim, com minhas palavras, seu nome, nossa história.

Digo coisas que não são minhas, e te ofereço um sentimento que não é meu. E nunca foi, nem nunca será.

Atiro em meu pé e saio correndo.

Fujo para a estrada sem saída do arrependimento.

E olho, através do espelho retrovisor da vida, que te ainda te trago comigo, sentado no banco de trás das minhas lembranças.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia das Pães.


Bem, para quem ainda não sabe, sou mãe-solteira do Lucca, um moleque lindo, que tem nove anos e meio.
Durante muito tempo esse título me incomodou bastante, afinal, era o atestado de que alguém não quis nem a mim, nem ao meu filho. Também, durante muito tempo, eu carreguei essa missão como um ranso, como uma forma negativa comigo mesma, porém nunca com o Lucca!.
Mas com o passar dos anos, fui percebendo que ser "pãe" (pai e mãe ao mesmo tempo) era muito mais o que um fardo: era a maior responsabilidade que alguém pode ter. Daí comecei a encarar essa tarefa com mais amor ainda.
Que a mãe tem muito mais influência na vida dos filhos, isso ninguém contesta. Que a presença masculina do pai é fundamental, idem. Mas de que adianta tudo isso se os valores que passamos não condizem com aquilo que somos?
Hoje em dia tenho percebido pais que preferem que seus filhos sejam maquiavélicos e competitivos para se sobressairem entre os outros. E os valores como o bom caráter e a honestidade desceram ladeira abaixo.
Essas pessoas usam suas crianças para satisfazerem seus próprios egos, para suportar frustrações, limitações, para realizar sonhos. E daí que a criança acaba se tornando a sombra da escuridão de seus pais. Depois, mais tarde, um adulto ambicioso e talvez um ser humano desprovido de emoções verdadeiras.
Tanto que não existe frase mais verdadeira do que a "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". É a Raposa falando sobre a verdade, no livro o Pequeno Príncipe.
Por isso nunca escondi nada do Lucca. Sempre procuro explicar de uma maneira que ele, no alto de seus nove anos, entenda. Por pior que seja a situação, ele está sempre por dentro.
Não quero um filho alienado.
Quero alguém que entenda que ser pai-e-mãe nem sempre (ou quase nunca) é fácil. É não ter respostas na ponta da língua sobre a anatomia masculina diante de perguntas como "por que meu pipi cresce toda manhã?". Ou então, ser surpreendida com um "mãe, você tá com aquelas dorzinhas de barriga de mulher?", se referindo à TPM, diante de um choro meu ou de um momento de ira.
Sim. O Lucca já aprendeu a ler os sinais.
Talvez porque eu converse muito com ele, às vezes me deparo com uma criança que argumenta diante de nãos ou diante de alguma solicitação que não lhe agrade. Ele esgota as possibilidades com fatos, argumentos, motivos. Não faz manha, nem malcriação. Expõe aquilo que pensa. Ele reforça sua vontade com discursos seguros e coerentes.
E eu me assusto porque vejo que ele se distancia quilômetros de seus coleguinhas com essas atitudes. Mas não deixa de ser uma criança que adora brincar, adora os desenhos da tevê, que empina pipa, anda bicicleta, de skate, cai e se rala todo, volta chorando e que, como num passe de mágica, depois de um beijo e de um afago, esquece tudo e volta para a brincadeira.
Mas o Lucca é especial. Talvez porque tenha sido criado no meio de adultos ou porque tem uma "pãe" maluca, que quer vê-lo crescer como um cara legal, honesto, ele procura sempre saber de tudo, mesmo que a conversa seja de "gente grande".
Lembro bem do dia que eu tatuei seu nome no meu pulso esquerdo e cheguei para buscá-lo no futebol e ele teve uma explosão de alegria, largando o jogo e correndo para me abraçar. Afinal, ele achava que seria o único aluno da escola que teria uma mãe tatuada com o nome do filho. E todo mundo na escola ficou sabendo da tatuagem.
Meu filho sabe o que foi (ou ainda é) a tal crise financeira mundial porque ao ouvir uma notícia no rádio, às 6h40, no caminho pra escola me perguntou sobre o assunto. E eu tive que rebolar pra ser o mais clara possível. Ao fim da explicação, veio a observação: "então foi por isso que você perdeu o emprego?". Respondi que foi indiretamente por conta disso, mas que tinha a ver.
Na hora do almoço, ao chegar em casa, ele pegou seu cofrinho, lotado de moedas, colocou sobre a mesa e veio com mais uma pérola: "pra te ajudar a manter a casa e comprar comida".
E eu desabei, orgulhosa por saber que estou cativando eternamente alguém que vê em mim um exemplo de luta, de dedicação.
Outro exemplo: quando voltei derrotada do Fórum, com uma pensão alimentícia ridícula decretada por um juiz que sequer leu o processo, o Lucca me perguntou o que havia acontecido. E eu contei a verdade, que o pai dele tinha ludibriado o juiz para pagar uma pensão bem pequena. Ele, aos prantos, respondeu que não era pra eu ficar triste porque sabia que eu fazia todos os dias o meu melhor, que dava tudo pra ele, que deixava de comprar pra mim pra dar pra ele, e que ele tinha orgulho de ter uma mãe como eu.
Neste dia ouvi a coisa mais linda do mundo, que fez com que eu passasse a me orgulhar muito de ser mãe-solteira, de ser, assim, guerreira, leoa - sem falsa modéstia.
Porque educar um filho é mais do que uma obrigação: é um ato de amor para uma criança que vai ser a concretização do futuro. E se eu quero um mundo melhor, que seja através dos valores que estou passando ao Lucca - seja nas nossas intermináveis conversas debaixo do edredon, antes de dormir, seja quando estamos brincando, seja diante de um gesto, em silêncio.
Por isso, hoje deixo aqui os parabéns pelo Dia dos Pais à todas as mães que, assim como eu, têm essa missão maravilhosa de formar pessoas sem o apoio de um pai.
Meninas, nós somos "PÃES" M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A-S!!!!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Life must go on.


Passada a primeira semana, o seguir em frente está parecendo menos penoso.

Já consigo respirar, viver, sorrir normalmente, assim como ter alguns pequenos prazeres, que foram resgatados.

Nesses dias revi amigos, conheci gente legal, gente interessante, alguns trabalhos apareceram, algumas festas também.

Os meus momentos de solidão foram comigo mesma - ora no trânsito, ora em casa, já que o Lucca está de férias na casa da minha mãe - mas já não tinham aquele peso do abandono.

Agora sou eu e pronto!

As lembranças ainda povoam os pensamentos, mas também já estão saindo do coração. Talvez um dia esse amor acabe. Ou não.

Mas creio que a melhor coisa que eu tenha feito foi guardar tudo e tirar do meu alcance pertences que poderiam desviar meu foco.

E o foco, a partir de então, sou eu e pronto!

Com tantas "novidades" e diante de possibilidades infinitas já consegui até emagrecer - sem esforço, sem fome, sem ficar doente.

Credito isso a minha melhor qualidade, a resiliência.

Nesses últimos dias ouvi, sozinha, a minha mais sonora gargalhada ao constatar que sou muito atrapalhada (bati a cabeça no móvel do microondas ao tentar "salvar" um copo que caiu do escorredor de louça), ouvi minha respiração mais calma; da minha varanda vi um luar lindo, iluminando uma noite fria, e ouvi o grilo cantando (?) no terreno ao lado do prédio.

Ouvi muitos conselhos, impressões, pitacos. E resolvi seguir meu coração.

Também chorei algumas poucas vezes, afinal, sou humana! Mas o choro foi muito mais de saudades de um tempo que já passou do que de dor.

Vi, pelas janelas da minha alma, que apesar de tudo parecer destruído, a vida dá sempre um jeito para que o "seguir em frente" aconteça sem que percebamos.

E olha: já se passaram onze dias!