quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O bolo.


Consegui arrancar algum sorriso do Lucca.

Foi na hora da foto, durante o parabéns.

A vela teimava em não ficar acesa e eu fazia palhaçadas em torno disso.

Na hora do clique ele estava rindo.

E continuou assim, até a hora de dormir.

Ganhei meu dia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Uma razão apenas.


Hoje, 23 de fevereiro, meu filho completa nove anos.

Isso significa que há exatos nove anos eu nascia junto com aquele pequenino bebê. Porque toda vez que nasce uma criança, também nasce uma mãe. No meu caso penso que foi muito mais do que isso: nasceu alí uma pessoa melhor, nasceu ali uma mulher.

Então, portanto, hoje também comemoro esses lindos anos de felicidade materna.

Nossa... me lembro como se tivesse acontecido ontem.

Lembro das sensações, da dor, dos cheiros.

Lembro também de uma certa tristeza. E essa eu nunca comentei com absolutamente ninguém.

Eu conheci o pai do Lucca num primeiro de abril. Corria o ano de 1999 e o feriado de Páscoa foi comemorado naquela data.

Eu estava sozinha há uns meses, desde que havia terminado um noivado (às vesperas de um casamento).

Algo me chamou a atenção naquele moço, mas eu não sei o que dizer exatamente o que foi. Ele não era necessariamente bonito, mas tinha um certo charme.

A coisa engatou aqui em São Paulo, depois do feriado. Tanto é que ele passou a frequentar minha casa, com o consentimento dos meus pais (que viam nesse relacionamento apenas uma aventura).

No dia 15 de junho daquele mesmo ano eu engravidei. Se foi absoluta falta de sorte, de atenção ou de cuidados, isso não vem ao caso. O fato é que eu estava grávida de alguém que eu não amava (e que certamente também não me amava), que tinha uma condição financeira muito aquém da minha, mas que prometia ao quatro ventos, me fazer feliz e ser um ótimo pai.

É mais que óbvio que isso não aconteceu, em nenhum momento sequer.

Não quis casar e talvez essa tenha sido a escolha mais sensata da minha vida. Preferi "depurar" meus pecados junto da minha família, na casa dos meus pais.

Tive uma gravidez de risco e tudo o que não precisava acontecer, aconteceu: desde cálculo renal aos seis meses de gestação, infecções, sangramentos constantes, algumas internações para que eu ficasse em "observação".

No entanto, o que mais doia mesmo era a carga emocional. Havia uma família inteira me recriminando, como se eu tivesse roubado e matado com requintes de crueldade. Ninguém, em nenhum momento, teve a ousadia de me perguntar como eu me sentia. Alí, e para meus familiares, só havia espaço para cobranças e ódio. Não tive um apoio emocional de lado algum.

Ok, concordo que nenhum pai ou mãe quer isso para uma filha. Eu tinha 24 anos quando engravidei, porém, vivia como se tivesse 18. Estava recém-formada em jornalismo, e acabara de ingressar em publicidade. Não trabalhava, só fazia uns freelancers.

Para ajudar, o pai do Lucca passou a me deixar sozinha. Viajava todos os finais de semana e sempre com diferentes companhias femininas. Na virada do ano de me deixou sozinha na praia, me negou comprar um doce, deixou que seus amigos me hostilizassem por pedir a ele que ficasse comigo.

Janeiro passou e precisamos comprar um berço, afinal, o bebê ia nascer em março. Ele comprou um modelo usado, deu umas duas demãos de verniz e o trouxe o móvel aqui para casa. Um dia antes ele comprou uma prancha de surf novinha em folha, que custava três vezes mais do que o berço.

Quando ele chegou aqui, viu o quarto inteirinho pintado de azul, todo arrumadinho, com enfeites e tudo mais o que um bebê podia precisar. Ele perguntou quem tinha feito tudo aquilo.

Tinha sido eu.

Eu mesma tirei o papel de parede do meu quarto, limpei as paredes, misturei as tintas e pintei todo o quarto. Mesmo com aquele barrigão todo, me senti feliz por estar fazendo algo para meu filho.

Bem, voltando ao assunto, quando eu vi o berço tive um ataque de ira, literalmente. Discuti feio com o pai do Lucca, atirava os parafusos nele, berrava impropérios. Ele ainda tentou se passar por ofendido, por magoado e disse que eu não merecia o esforço dele. Não me importei e vomitei tudo o que estava entalado há meses.

Ele foi embora e eu fiquei sozinha.

Daí começaram as contrações. Eu estava na 36a semana de gestação e creditei as dores e as contrações à descarga emocional.

Quando liguei para a médica, ela pediu para que eu tentasse aguentar até o amanhecer e que fosse monitorando as contrações.

Cheguei no hospital às 5h e fui direto para a preparação para o parto. Minha pressão estava altíssima, não havia um dedo de dilatação e as contrações estavam cada vez mais fortes. Conclusão: não pude ter parto normal. Isso me deixou chateada.

Fui conduzida para uma cesareana e na sala de pré-parto (aonde pais e mães ficam esperando o OK do médico para o procedimento) me vi sozinha, muito sozinha. A solidão só não me matou naquele instante porque havia meu filho. Essa foi a única razão, esse tempo todo, para que eu continuasse em frente. Mesmo sozinha.

Todas aquelas mulheres ali, com seus maridos e eu sozinha. Quando perguntavam sobre o pai do bebê eu dizia que ele não tinha coragem, que estava lá fora, emocionado. E eu nem sabia se ele, de fato, estava lá.

Fiz uma oração antes, pedi a benção para ser uma boa mãe, para que eu nunca estivesse longe do meu filho. No momento em que eu ouvi seu chorinho pela primeira vez, morri alí e nasci outra, melhor, invencível, forte. Cheirei meu filho inteiro para reconhecer minha cria, enquanto agradecia a Deus o melhor presente da minha vida

O Lucca nasceu às 8h48 do dia 23 de fevereiro de 2000, com 48cm, 3,120kg, aos oito meses de gestação. Doze horas depois da discussão acerca do berço.

Quando fui para o quarto, havia mais de10 pessoas lá me esperando, entre familiares e amigos. E eis que a porta abre e qual não foi a minha surpresa ao ver meu filho nos braços do seu pai. Logo o tomei para mim e pdi para que todos saissem dalí. Precisava ficar a sós com meu grande amor.

Até a enfermeira eu expulsei do quarto.

Cantei uma canção em seu ouvido e disse a ele o quanto eu havia esperado por aquele momento e como eu estava feliz por ter em meus braços meu filho tão querido.

Os anos se passaram e, de fato, infelizmente o pai do Lucca não foi legal e presente.

Faltou em muitos momentos, se recusou a dar o mínimo necessário. Negou presença, negou atenção. Tem negado até o material ultimamente por não dispor nem pra ele, segundo conta.

Hoje, quando meu filho está comemorando seus nove anos, dei presente, vou dar uma festinha, fiz mil agrados. Ele recebeu muitas ligações, recadinhos queridos no orkut.

Mas faltou algo: o pai dele não ligou. E ele sentiu por isso. Quis ficar sozinho o dia todo, não saiu, não foi brincar. Ele está melancólico.

O pai está na praia curtindo o Carnaval e, segundo a avó, que deu os parabéns para o neto, ele não tem créditos no celular para ligar. Mas teve dinheiro para pagar o pedágio, respondi.

Hoje posso dar tudo ao meu filho - desde o material até o amor maior. Só não posso fazê-lo se sentir completo por uma razão apenas: não há um pai neste dia.

E esse é motivo da minha tristeza hoje. Não é um marido que me falta, mas sim, a divisão dessa doce (e árdua) tarefa que é cuidar de um filho.
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Lucca, a mamãe te ama mooooooito (do jeito que você gosta que eu escreva). Tenho muito orgulho de ser sua mãe. Obrigada por ser meu filhinho. Obrigada por ter me escolhido, lá do céu (como você costuma contar), para eu ser sua mãe.
Feliz Aniversário!!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Audrey do Lucca.


Segunda-feira, dia 23, é aniversário do Lucca. Ele fará nove anos.

Como todo ano, ele fica morto de ansiedade para ganhar presentes e comemorar.

Nisso somos iguais: adoramos fazer aniversário!

Porém, para aplacar um pouquinho esse misto de angústia e euforia que precede seu aniversário, dou pequenas lembranças como livros, DVD´s e carrinhos colecionáveis antes do presente, propriamente dito.

E esse ano não poderia ser diferente.

Ou melhor foi completamente diferente.

Na última terça-feira, após minha consulta com a terapeuta (em que ele estava presente), fomos andar nas redondezas.

Primeiro fomos ao supermercado para comprar umas guloseimas para o lanche escolar. Quando acabamos, saímos por outra porta, atravessamos a rua e nos deparamos com uma loja de paisagismo e jardinagem.

Entramos e ficamos admirando um bonsai de romã, com frutinhas reluzentes. O preço era astronômico e desistimos da idéia de levá-lo. Mas quando já estávamos saindo, apareceu um senhor oriental (desconfio ser chinês) e disse sorrindo algo que não entendemos.

Ele fez um sinal para que esperássemos e pegou um vasinho.

Qual não foi a nossa suspresa ao ver, pela primeira vez, ao vivo e a cores, uma planta carnívora.

Sorrimos junto com aquele tão simpático senhor, que nos mostrava a plantinha, fazendo demonstrações de como ela fecha suas (?) pétalas.

Nem preciso dizer que ficamos encantados e, claro, compramos o "mimo".

Depois de pagar e ouvir quais são os cuidados básicos para manter a plantinha saudável, fomos embora.

A cena era assim: eu e Lucca, saindo da rua João Cachoeira e entrando na rua Leopoldo Couto, e ele com o vaso nas mãos, falando que aquele era o melhor presente de aniversário, que ele sempre quis uma mas pensava que era impossível.

Ele olhava para o vaso e ria! Ria aquela risada gostosa de criança feliz, satisfeita.

Chegamos nos estacionamento para buscar o carro e ele mostrava para todos os manobristas, não parava um minuto.

Fomos embora e ele lá, segurando o vaso.

Antes de chegar em casa, passamos na casa da minha avó paterna, para cumprimentá-la pelo seu aniversário. E a planta junto.

Ontem fiquei matutando qual seria o melhor lugar para ela ficar, aonde poderia aparecer alguns insetos, se tinha sol, se tinha vento.

Até que eu vi uma minúscula larvinha andando em torno do vaso. Na hora pensei em oferecer o petisco à plantinha.

Porém, desisti da idéia.

Não tive coragem de mudar o curso da natureza das coisas: uma hora um inseto chega lá e vira almoço da plantinha.

Mas também, qualquer hora, eu me encho de coragem e mudo tudo. Até minha natureza, se for preciso.



OBS: o Lucca quis batizar a planta de Orion. Eu, em compesação, achava que Audrey* ficaria melhor.


*Para quem não se lembra, Audrey é a planta carnívora do filme Pequena Loja de Horrores.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Polvo não. Ostra!


Mesmo no meio de tanto barulho, sempre busquei o silêncio.

Não um canto silencioso, mas um cômodo quieto dentro de mim.

Sempre fui assim.

Todas as vezes que tinha um problema não ficava alardeando aos quatro ventos. Pelo contrário: ria para os outros e chorava para mim.

Sempre que precisava me decidir por algo, por alguém ou por alguma coisa, me refugiava em mim mesma. E sempre fazia a escolha errada. Diziam que eu pensava muito.
Na verdade, me acostumei a ter que pensar sozinha, agir sozinha, resolver sozinha, viver sozinha. Mesmo que ladeada de muita gente.
Uma década se passou num estalar de dedos e eu continuei só, me escondendo dentro de mim mesma.
E todas as vezes, nesses últimos anos, que eu precisei de alguém além de mim, não te achei. Você estava (e está) sempre indisponível.
É sempre o sinal de ocupado ou o longo tocar até cair a linha.
E eu continuo aqui, comigo mesma, sozinha.
Hoje me procurei e qual não foi a minha surpresa ao ver que eu também já não estava mais lá.
Alguém havia me puxado para fora e, agora, eu via a vida.
Sozinha, como sempre.

Hoje também me disseram que eu pareço um polvo, com minhas ventosas grudadas em paredes e chão. Fui pra casa pensando nisso e resolvi discordar (dessa pessoa que eu tanto adoro).
Não sou um polvo.
Talvez hoje eu seja uma ostra grudada numa pedra ou num coral qualquer.
Posso não sair do lugar, mas escondo pérolas que um dia ainda serão descobertas e valorizadas.

Porque não cabe o que tem de bom dentro de mim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ruínas.

Ruínas

Se é sempre Outono o rir das Primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
E deixa sobre as ruínas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!
Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais alto do que as águias pelo ar!
Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… Deixa-os tombar.


Florbela Espanca (Livro de Mágoas)


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Porque não cabe o que tem de bom dentro de mim!

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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tudo novo. De novo.


Novamente a vida está me sorrindo com possibilidades infinitas.

Tudo novo. De novo.

Cabe a mim nesse momento saber escolher o caminho certo.

Tarefa difícil, eu bem sei. Mas necessária.

Preciso crescer, preciso voar um pouco mais alto. Nem que para isso seja preciso descer próximo às árvores, tomar fôlego e subir de novo.

Durante um tempo vou planar como as gaivotas.

Talvez viva assim, porém, ao contrário de ter apenas peixe e mar, eu tenho outras possibilidades.

E creio, sinceramente, que a vida está me dando agora uma bela oportunidade de assumir as rédeas e seguir um novo caminho.

Como tudo que é novo assusta, posso dizer que estou um pouquinho insegura.

Mas tenho uma certeza tão estranha dentro de mim, de que tudo vai dar certo, que ainda não tive medo. E acho que não vou ter porque alcancei a tal da maturidade nesses últimos tempos (ou, pelo menos, parte dela).

Agora é hora de ter muito foco, cabeça no lugar e coração tranquilo.

Um passo de cada vez, um dia de cada vez.

Assim, o que tiver de bom me esperando lá na frente será para meu merecimento e recompensa por ter trilhado essa nova estrada.

Será para acalentar os sonhos que há muito venho perseguindo. Será para concretizar planos.

Será para ser feliz.

Porque não cabe o que tem de bom dentro de mim!!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Seu Pensamento.

Seu Pensamento
(Adriana Calcanhoto)

A uma hora dessas
por onde estará seu pensamento
Terá os pés na terra
ou vento no cabelo?

A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?

Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?

A uma hora dessas
por onde vagará seu pensamento
Terá os pés na areia
em pleno apartamento?

A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?

Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Muito mais do que aquilo.


Há dias ele vinha insistindo para vê-la, e ela, sempre tão solícita, dava sugestões de datas, horários e locais.

Mas acontece que o moço trabalhava muito. Principalmente fora da cidade. Nunca tinha tempo suficiente para encontrá-la. E com isso os dias foram passando.

Mas ele não desistia e ligava quase todos os dias para atentá-la, seduzi-la. E ela ficava lá, sozinha, devaneando como seria bom.

Depois de um tempo, ela já estava convencida que era namorada dele.

Resolveu que não ficaria com mais ninguém, fecharia as portas para oportunidades e esperaria o momento certo para tê-lo, finalmente, em seus braços.

Acontece que, por mais que seu coração tivesse dono, seu corpo dava sinais de vida. E com o tempo, isso foi aumentando.

Pra ajudar era verão: saias e decotes evidenciavam partes que estavam guardadas para um certo moço. E ela era bonita. Não tinha aquela beleza vulgar, nem se vestia como tal, mas as roupas acusavam um corpo "à brasileira". E isso chamava a atenção. Principalmente de um certo rapaz que assoviava todos os dias quando ela passava, a caminho de seu trabalho.

No começo isso a deixava enfurecida. Sujeitinho safado, pensava enquanto sua memória puxava pelas coisas gostosas que ouvira do dia anterior, durante o telefonema de seu amado.

Ah! esse moço que ela tanto esperava realmente fazia seus pés sairem do chão, a cabeça dar voltas. Em noites mais inspiradas, ele promovia horas de volúpia ao telefone. Era avassalador para ela, que aprendeu, entre outras coisas, a se entregar ao prazer solitário.

E para seu desespero, no dia seguinte ainda tinha aquele outro moço, tão inconveniente.

Meses se passaram. Exatamente oito meses e ela esteve com seu amado apenas cinco ou seis vezes, sendo que nunca chegaram às vias de fato.

Até que um dia ele a pediu em casamento. Disse que estava voltando de vez pra cidade e que iriam jantar juntos. Pediu para que ela escolhesse o restaurante e marcasse o horário.

O dia chegou e quase se arrastou. Teve frio, calafrio, dor de barriga, ficou elétrica, ansiosa, mas finalmente chegara a hora.

Foi para o local combinado - um restaurante charmoso pertinho de seu escritório - e no meio do caminho encontrou o jovem que assoviava para ela. Ele a abordou e ela entrou em pânico!

Já pensou se seu amado passasse por alí e visse aqui? O noivado certamente iria por água abaixo!

Mas, ao contrário do que esperava, não ouviu nenhum galanteio barato. O moço foi educado e muito claro. Disse que tinha verdadeira admiração por ela, que não só a achava bonita (por isso os assovios), mas como também via nela uma aura de lealdade, fiedelidade. Porém, como nunca tinha visto com ninguém, deduziu que era solteira, sozinha. E isso o instigava.

Ela se desvencilhou dele, sem ao menos perguntor o nome do moço, dizendo que tinha um compromisso e saiu correndo dalí.

Chegou ao restaurante e pediu uma água. Depois outra e daí um suco de maracujá. Ele estava atrasado e ela, nervosa.

As horas passaram e ela insistia no telefone celular, que só chamava.

Pediu a conta e saiu dali triste, cabisbaixa.

Chamou um táxi, acenando para uma dos carros que estava no ponto em frente ao restaurante e, em meio a lágrimas entrou no carro e nem percebeu que o motorista lhe estendia um lenço.

Soluçando pediu que a levasse para casa. Durante o caminho, que parecia muito mais longo do que o habitual, foi despejando alí toda sua raiva, sua frustração, sua indignação. E a cada lencinho estendido, assoava o nariz e continuava a narrar sua saga.

Até que enxugou os olhos e pode perceber, pelo espelho retrovisor, que o motorista era o tal moço que assoviava para ela.

Num primeiro momento quis morrer de tanta vergonha. Mas depois teve uma idéia: pediu o celular dele e ligou, assim o amado não reconheceria o número e ela poderia tirar satisfações.

Aquela altura dos acontecimentos ela já não se surpreenderia com mais nada. Muito menos com suas atitudes.

E assim o fez: pediu o celular e quando ainda dava sinal de chamada, o motorista tirou o aparelho de suas mãos, ligou o viva-voz e, ao perceber que o outro havia atendido, improvisou um sotaque caipira e disparou:

- Ô cara, cadê você? Que balhureira é essa?, perguntou ao ouvir sons de risadas e música.

E eis que o outro respondeu, com voz já embriagada:

- Tô na despedida de solteiro do João. Vem pra cá você também.

A ligação caiu nesse momento.

Silêncio dentro do carro por alguns minutos até que ele pergunta:

- Pra onde, moça?

- Pra casa... pra sua casa. Agora!, ordenou se recompondo no banco traseiro. E emendou:

- Preciso de muito mais do que aquilo.

Ela acordou no dia seguinte numa cama que não era a sua. Mas com o gosto, o gozo e a certeza de que ela precisava, também, muito mais do que tudo aquilo. Outra vez.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rumo Novo.


6h em ponto o despertador do celular toca.

Olho pela janela que ficou aberta durante toda a noite e constato que ainda não amanheceu.

O galo da casa ao lado (sim!! tenho uma vizinha que tem um galo e algumas galinhas!!) canta com todo o seu vigor. O dia está começando.

Até aí, muita gente diria que isso é normal (tirando o galo, é claro). Mas o fato é que hoje foi o primeiro dia de aula do Lucca, que passou a freqüentar o período da manhã.

Acho que acabei ficando mais ansiosa do que ele: não dormi quase nada com medo de perder o horário, pensando nas "novidades" que ele trará mais tarde. Pensei na reação dele diante de novos colegas, novos professores.

Fase nova, rumo novo e ele calmo, enfrentando tantas mudanças.

Pulou da cama na hora em que eu o chamei (coisa rara), lavou o rosto e foi tomar café comigo.

Como um executivo que comanda um departamento, ordenou pelo pão quente, manteiga, leite com ovomaltine e uns biscoitinhos com nutella. Dispôs tudo sobre a mesa, a seu gosto. Depois orquestrou a lancheira: suco de caju, biscoitos recheados de limão (urgh) e biscoitos salgados.

Fez tudo isso como se já fizesse parte da sua rotina há anos.

Comeu tranquilamente, escovou os dentes e se arrumou com tanto esmero que até me espantei, afinal, ele não é dado a tantos detalhes.

Voltou ao banheiro, borrifou um pouquinho de perfume, passou gel no cabelo e fez aquele penteado todo espetado para cima.

Quando finalmente estava pronto, perguntei o por quê de tanta arrumação. Eis que a resposta veio:

"Ué, se hoje começa uma fase nova na minha vida, quero estar bem bonito e feliz. É assim que a gente tem que ser: feliz", explicou meu filho.

Entramos no elevador, sorrimos um pro outro e nos abraçamos bem forte.

É assim que a vida tem que ser: feliz!!


Bom dia e boa semana a todos!!