quinta-feira, 9 de abril de 2009

Xepa.


Já faz um mês e meio que estou morando sozinha (leia-se aqui, com o Lucca e com meu irmão).

E nesses 45 dias já deu pra sacar o que é legal, o que é chato, as rotinas (sim, já temos rotina), as manias do Fábio, as minhas manias que até bem pouco tempo eu desconhecia a existência.

Enfim, passada a fase do "oba! tô morando sozinha", vem a fase do "é... tô morando sozinha".

Ou seja, a ficha caiu. Pelo menos para mim.

O Lucca continua achando tudo uma grande farra. É que ele se acostumou a me ver pouco e ter o comando e as ordens da minha mãe. Para ele, nessa época, eu representava farra pura e nenhuma chateação.

Acontece que as coisas mudaram. Eu comando a casa. Eu decido o que vamos jantar, como vou preparar, que dia vou limpar a casa, quando vou organizar as roupas. Tracei um plano de metas dentro da nossa rotina.

Pra mim, a limpeza fica para o sábado, quando o Fábio está em casa e, teoricamente, me ajudaria com a tarefa.

Às segundas-feiras é dia de ver o que tem pra lavar, por as meias do Lucca de molho e esfregá-las depois. É também o dia de cozinhar o feijão, colocá-lo em potinhos e congelar o que não será imediatamente utilizado.

Dia sim, dia não rego minhas amadas plantinhas e lavo a varanda.

Terças são geralmente dedicas ao supermercado, porque abastecemos a dispensa semanalmente.

Sextas-feiras são da roupa para passar: divido o que é de cada um em montinhos e deixo tudo organizado para a Conceição, nossa super-ajudante semanal.

Mas meu grande prazer é a quinta-feira. Neste dia tem uma feira enorme aqui perto de casa. E eu vou religiosamente. Nem que seja pra pegar um pé de alface, na banca da japonesa, que já me conhece. Diz que sou a moça do radicchio. E hoje comentou que não me viu por lá na semana passada.

Adoro ir à feira. Adoro sentir o cheiro, ver as cores.

Fico imaginando receitas com tantas delícias. Nessas horas, até jiló parece apetitoso.

E claro, não podia deixar de comentar sobre o caldo de cana e o pastel do japonês (parece pleonasmo, mas a banca se chama Pastel do Japonês). Além de bárbaros, são obrigatórios no final de cada ida à feira.

Outra coisa legal de observar é a quantidade de senhoras da melhor idade batendo perninhas pela feira, que é bem extensa e ocupa os últimos quarteirões da avenida Engenheiro Caetano Álvares. É engraçado perceber os casais, aposentados, certamente - ele carrega a sacola ou arrasta o carrinho e ela vai dois ou três passos a frente, escolhendo o melhor de cada banca. Também pude notar como essa turma gosta de bater papo!

Hoje uma dessas "vovós" me chamou de broto:

- "Broto, faz um favorzinho? Alcança aquele maço de beterrabas pra mim?"

Imediatamente me estiquei toda e peguei as beterrabas. Ela disparou:

- "Você é nova por aqui, não é? Porque eu nunca te vi aqui na feira."

Eu respondi que era a primeira vez que ia naquele horário, das 10 horas, que costumava ir mais tarde. E ela, sem perder a vez, emendou:

- "Então, venha mais cedo sempre. Eu sempre encontro minhas amigas por aqui nesse horário e a gente troca receitas, fala dos maridos. E você tem cara de casadinha de nova. Você sabe cozinhar? Porque colocar a beterraba pra cozinhar com o feijão é ótimo!"

Agradeci dizendo que sabia cozinhar, dei o dinheiro para o feirante, peguei minhas cenouras e, já desejando Feliz Páscoa para a tão falante senhora, resolvi me apresentar a minha mais nova "amiga".

- "Feliz Páscoa pra senhora e para toda sua família. A propósito meu nome é Andréa."

Ela sorriu e estendeu a mão:

- "Prazer, querida. Eu sou a Amélia."

Mal posso esperar pela próxima quinta-feira!

3 comentários:

Elis Zampieri disse...

Que texto gostoso Andrea, me deu até vontade de fazer a feira. :-) Sucesso aí nessa nova função de dona de casa. Se quiser, podemos trocar umas receitas, eu sô boa nisso! hehehe!

Bjão pra você.

Ligiah disse...

No inicio é ruim morar sozinha... mesmo com alguém por perto tem horas que é bem solitário.

Mas também nos forçam a observar o mundo sob uma nova ótica, uma visão um pouco mais ampla ... pelos menos assim que me senti ...

Acredito que essas pequenas observações (como a da feira) concede a descoberta de pequenos prazeres, de nos sentir vivos quando o observador se torna observado.

Lilian disse...

Dea fiquei ausente por um tempo, mas estou aqui firme e forte lendo seus posts...
Cada dia que passa, vejo que vc é minha escritora favorita!!!
Parabéns!
Bjs