quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Atrás do espelho


Ela já não sabia mais o que fazer para ser notada.

Na verdade, ela tentou de tudo: fez poesia, "cantou" o moço, ofereceu-lhe seus sorrisos mais largos, mais sinceros, mais gostosos.

Nada adiantou.

Embora ele fosse sempre muito cordial, nunca correspondia aos anseios dela.

Na verdade, ela descobriu que ele estava apaixonado por outra pessoa. Por isso, ela se afastou.

E continuou acompanhando o moço, dia após dia, de longe.

Mas, ao contrário de seguir feliz, ele passou a ter dias tristes, escuros, pesados.

Tinha a impressão de que ele sofria por aquela outra paixão que, por sua vez, não correspondia aos desejos dele.

E ela, de tão longe que estava, nada podia fazer. E aquilo lhe doía na alma porque se sentia como se estivesse por trás do espelho dele: por mais que olhasse em sua direção, ele nunca a enxergaria.

Até que um dia resolveu tomar uma atitude. Deu um jeito de aparecer em seu caminho, na saída de seu trabalho.

Para isso, foi visitar um cliente naquela região. E foi muito bem vestida, arrumada e decidida a colocar um fim naquela falta de visão do moço.

E assim o fez.

Interpelou o moço em plena calçada:

- Olá! Que coincidência!

- É... E você? O que faz por aqui?

- Vim resolver um assunto muito importante.

- Imagino que seja importante mesmo, afinal, você está muito bonita.

Ao ouvir a frase, ela se encheu de coragem e teve uma idéia:

- É realmente importante! Por isso mesmo já vou indo.

- Já?

- Sim.

Nisso ele a abraçou e daí não viu mais nada porque ela simplesmente o beijou. Segurou seu rosto e beijou com vontade, com tesão, com tudo o que havia guardado há tanto tempo.

Daí virou as costas depois do beijo e foi embora porque senão corria o risco de querer se entregar a ele no meio da rua.

Saiu dali feliz e entrou no carro com o coração aos solavancos. A partir daquele momento ela passava a existir. Tinha saído de trás do espelho.

Quanto a ele? Ela não sabia dizer porque ele havia ficado parado, sem entender nada, sem pronunciar uma palavra sequer.

Não precisava. Afinal, ela tinha conseguido colocar um pingo de cor nos dias cinzentos daquele moço.

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