Peço licença aqui para, mais uma vez, usar as palavras do escritor gaúcho Fabrício Carpinejar.
Ele não me conhece e eu também nunca o vi. Mas parece que ele, lá de longe, lê meus sentimentos e sente minha alma. E o que ele escreve me descreve perfeitamente, me desnuda, faz cair minhas máscaras.
Ontem ele postou o texto "Partilha dentro de mim" e hoje eu fiquei assim, sem palavras. Por isso posto aqui a parte que mais de me tocou.
Quem quiser ler o todo, o link é: http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/
"... Na separação, o difícil não é partilhar os móveis, os quadros, a prataria, as fotografias, os cds. Isso se mantém ou se abandona. No inventário do amor, a dor é dividir as lembranças. Sofro de insônia constante por não desembaralhar os pesadelos. Desisti de entender seus significados.
Dilacerada é a partilha dentro de mim, ainda mais quando não se viveu um minuto isolado. Uma viuvez em vida enlouquece.
Vou entrando nos quartos mais recônditos e limpando a memória secreta do olfato. Tirando o pó, espanando cenas incrivelmente intensas, que não reconhecia antes porque coloquei no modo offline do passado. Duvido que minha ex-mulher também consiga dizer que a experiência é dela ou minha. Não dá para apontar e distribuir a matéria nervosa da recordação com justiça. Como carregar aquela viagem da Serra e ceder o veraneio em Fortaleza? Como oferecer a tensão da primeira incompreensão e trazer o alívio dos braços se encostando na mesa?
São dos dois, indivisíveis, como um filho que desperta disposto e objetivo do meu jeito e adormece dengoso com o temperamento dela.
As fotografias que não foram feitas não podem ser rasgadas. Despedir-se é aceitar que o vento na janela lava o rosto, não o apaga."
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