Um menino lindo. É assim que eu defino o Zé.
Embora ela já esteja bem perto dos 40, enxergo esse homem como um menino. Um lindo menino grande.
Ele tem olhos de libanês, com uma expressão e profundidade incríveis. Ele não precisa abrir a boca pra falar nada: seus olhos entregam. Eu amo aqueles olhos.
Aliás, ele é todo libanês. Nariz adunco, rosto forte, alto, magro. Gosta tanto de comer, como de namorar. Preza por rituais, é sistemático, tem um amor profundo por suas coisas (mesmo que seja um porta-retrato). Isso tudo o faz parecer um menino de cinco anos, que ama cada carrinho que possui.
Ele também já fez de tudo na vida: foi vendedor, corretor, trabalhou em escritórios, fez faculdade de direito, teve lanchonete. Só não foi astronauta porque tem medo de voar. Tal qual uma criança, ele já quis ser tudo. Já sonhou ser tudo.
Também praticou muitos esportes: basquete, futebol, natação, tênis de mesa, skate. E nesse último ele era mestre. Os amigos contam de uma manobra que ele fazia descalço e que ninguém conseguia copiar. O nome da manobra eu não me lembro direito, mas sei que tem a palavra impossible no meio. Ele foi o herói de sua turma, uma espécie de mito ou superstar. Coisa de moleque mesmo.
Ele gosta de ser livre. Embora precise de um canto fixo, pra voltar todos os dias, ele tem necessidade de liberdade (como uma criança num parque).
Ele é agitado, não pára nem por um instante, faz mil coisas ao mesmo tempo e tem tempo pra tudo.
Ele é engraçado, tem um humor irônico. É estabanado, atrapalhado. Mas também é gentil, cordial com as pessoas.
O Zé ama os bichos - cachorro principalmente - e as plantas. Conversa com cada vaso, dá atenção a cada vira-latas na rua.
Às vezes, ele parece uma fortaleza. Às vezes, é pura gargalhada.
Mas hoje o Zé chorou.
Chorou de dor, de tristeza, de dúvida.
Chorou por ter a angústia de não poder fazer mais nada diante de um grande problema. Talvez o maior de sua vida. Chorou por fazer o melhor todos os dias e isso ainda ser pouco. Chorou porque talvez o fim deste problema esteja muito próximo e o "dali pra frente" seja uma grande incógnita.
Chorou como um menino que perde de vista a mãe no meio da rua por alguns instantes. Chorou por estar sozinho. Por se sentir sozinho.
Uma multidão alí não abrandaria a sua dor. Nem faria sumir sua solidão.
E eu assisti isso tudo de longe e chorei por não poder estar perto para dar algum conforto emocional a ele.
Porque um menino lindo, como ele, precisa mais do que um simples colo: precisa ouvir que vai ficar tudo bem. Porém, isso quem poderá dizer será ele mesmo. Com toda a sua força e fé de que vai, realmente, ficar tudo bem.
Um comentário:
achei lindo, lindo.
beijo
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