quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Re-construção.


O edifício tinha 34 anos.

Suas estruturas físicas levaram cerca de 16 anos para ficarem prontas. No entanto, o acabamento nunca havia sido concluído.

Também pudera. Nos últimos 10 anos o prédio passou por intervenções contínuas, que culminaram em goteiras, infiltrações, trincas, lascas e abalos em toda a estrutura.

O acabamento - a princípio, de fino revestimento - tornou-se feio, antiquado, cheio de remendos, tal uma colcha de retalhos. Ao longo dos anos muitas peças foram se soltando das paredes, expondo concreto armado, vigas de sustentação, vergalhões - sendo que a maioria já estava em processo de corrosão.

Por fora a edificação parecia inteira. Talvez porque muita gente ainda vivesse lá. Mas na verdade, o prédio era um amontoado de coisas, que pertenceram a antigos moradores, locatários de outros tempos. O proprietário já nem mais reconhecia sua propriedade, tamanho o acúmulo de bugigangas, tranqueiras e lixo.

Em cada canto que se olhasse, era possível perceber rastros da construção original, misturados com elementos de cada época vivida naquele lugar. O resultado era um mosaico de sucatas, exatamento como num ferro-velho. E pensar que tanta coisa tinha acontecido em seu interior ao longo de três décadas: logo no início, aos 9 anos da obra, um acidente quase acaba com o que seria a fachada. Porém, especialistas foram ágeis e, a princípio, apenas três janelas ficaram danificadas. Anos depois foram reconstruídas.

Depois vieram os acabamentos: pinta, corta, pendura, fura, aumenta e diminui. A fachada foi retocada muitas vezes e, posso afirmar com convicção, ainda não está concluída.

Quanto ao interior o caso foi o seguinte: como o espaço é amplo, e até mesmo confortável, muitos locatários passaram por lá. Houve um tempo que dois ou três dividiam os ambientes, porém, cada um em seu cômodo. Claro que conflitos surgiam e, quando a coisa chegava aos extremos, um acabava sendo expulso.

Também teve um outro que ficou oito meses por lá. Exatas 36 semanas se preparando para uma excitante aventura. Acontece que ele saiu antes, já que o combinado eram 40 semanas. O mais incrível foi que o proprietário não ficou bravo, nem ressentido, muito menos aplicou multa pela quebra de contrato. Ele ainda preparou um terreno ao lado de seu edifício para que o ex-morador construisse suas fundações.

Mas, daí por diante, a construção ficou desprotegida. O proprietário do edifício passava mais tempo apreciando a obra de seu vizinho - aquele que havia sido seu locatário - que não mais filtrava quem quisesse morar ali. E com isso muita gente foi se alojando. Todos os tipos, de todas as índoles, credos, idades. O resultado foi que o belo prédio virou um cortiço.

O patrimônio mais importante - e único - daquele proprietário estava degradado. A solução era expulsar quem já não mais pertencia aquele lugar e dar um novo abrigo para quem realmente cuidava de seu espaço, como se fosse seu.

E assim está sendo feito, antes que as ruínas desabem e venham ferir transeuntes, moradores e gente inocente em geral.

O prédio passará por uma reconstrução. Na verdade, terá seu interior quase que todo demolido. A estrutura que o mantém de pé será reformada e alguns afrescos de sua concepção original serão restaurados.

Enquanto isso, quem ama esse lugar assistirá de fora toda a mudança. E, assim como o proprietário, acreditam que será para muito melhor. Quem sabe, um dia, o prédio se tranforme num oásis...


Um comentário:

Luciana Santos Tardioli disse...

Sei que o resultado desta reconstrução será belíssimo. Pois a essência deste prédio jamais se perdeu!!!