quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Delícia!


Ela finalmente encontrara alguém.


Ok, não era exatamente o que ela sonhava, mas era alguém que conseguiu estremecer suas estruturas.


Ele era chef de cozinha, dono de um pequeno bistrô, e ela, uma artista plástica cheia de sensibilidade e que, pela primeira vez, estava experimentando o gosto do negócio próprio.
Uma amiga havia indicado o restaurante a ela e sugerido um prato específico. E ela foi, despretensiosamente, provar o prato naquele mesmo dia.


Coisa simples, mas muito bem feita, pensou enquanto degustava a iguaria. O ambiente também era simples, porém, sem ser simplório. A rusticidade chegava a ser chique e, ao mesmo tempo, conferia um toque aconchegante àquele espaço. "Uma delícia", assim definia para os amigos.


Gostou dali e passou a freqüentar sempre que sentia necessidade de ser acolhida. A comida, o serviço e o ambiente bastavam. Acontece que a curiosidade foi chegando e ela queria saber quem era o dono daquilo tudo porque, de certa forma, já estava se apaixonando pelo lugar.


Até que um dia eles se conheceram, conversaram rapidamente e ela indicou seu endereço eletrônico para que ele conhecesse seu trabalho. Ele gostou do que viu.


A partir daquele dia passaram a se corresponder por email – ela elogiando os pratos e suas criações e ele comentando como era realmente bom o trabalho dela.


Acontece que começou a sentir uma coisa estranha, uma confusão qualquer, mas, acima de tudo, uma vontade louca de estar com ele todos os dias. Via nele uma espécie de personagem fatal, desses que qualquer mulher cairia na hora. E ela caiu.


Ela não sabia quase nada dele: supunha que não tivesse compromisso com ninguém, afinal ele nunca comentara, sabia ser um amante de artes, música, bons vinhos, além, é claro, de ser um excelente chef de cozinha.


Mas o pior de tudo é que, por mais que ela se esforçasse para tentar uma aproximação maior, nunca sentia firmeza naquele terreno. Não sabia como pisar, como chegar ou encantar o moço. E outra: ele sequer fazia o tipo dela!! Mas como nas coisas do coração ninguém manda, nem explica, ela continuou na espera de ser notada. E sonhava acordada com isso.


Ele, por sua vez, apenas continuava elogiando seus trabalhos e isso passou a ser sinônimo de ansiedade para ela. A cada novidade que colocava na web, vivia uma espera alucinada por um email, um retorno, uma gentileza, uma delicadeza. E isso, quando vinha, causava nela uma onda de mil sentimentos – um mix de tesão, recompensa, reconhecimento, desejo. Cada elogio era quase um orgasmo, guardadas as devidas proporções, é claro.


É... ela precisava ser desejada. Precisava ser tomada, ser pega, ser engolida por ele.


Por várias vezes, à noite, antes de dormir, se tocava pensando nele e ia à loucura. Imaginava seus beijos, seus carinhos, a força de suas mãos, o toque em seus cabelos. Pensava em como seria ele descobrindo seu corpo, percorrendo com sua boca todas as suas curvas. Também pensava em como seria bom dar a ele o mesmo e daí a imaginação ia longe. Boas eram as noites em que se tinha um elogio para acompanhar suas fantasias.


E enquanto isso não se tornava realidade, ela seguiu aprimorando seu trabalho, a espera de um dia, quem sabe, seus orgasmos deixarem de ser virtuais e ela poder, de fato, dar o melhor a ele, que merecia tanto.

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