quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Não vem ao caso


Acordou se sentindo estranha.

Tinha uma ansiedade, uma inquietação estranha.

Por mais que fosse elétrica, ou ligada nos 220 volts, como seus amigos falavam, ela estava se achando estranha.

Foi pro chuveiro e providenciou uma ducha fria. Mas se demorou por lá. A esponja cheia de espuma trouxe uma sensação estranha, um arrepio. "Deve ser a água fria", pensou. Tocar-se foi um ato tenso alí - mesmo que fosse apenas para o dever do banho.

Colocou um vestido, um sapato que combinava com a bolsa, fez uma maquiagem rápida e foi trabalhar.

Passou o dia todo com aquele arrepio percorrendo seu corpo.

Começou a ficar intrigada e, claro, a resposta veio rapidamente. Havia terminado um relacionamento de longa data e há muito estava sozinha. Tinha se esquecido de como eram certas sensações, necessidades. Aquilo era seu corpo e sua alma clamando por uma série de "pecados", algumas luxúrias e certas aventuras.

O dia passou voando e ela saiu com suas amigas. Era sexta-feira, a noite estava bonita, calor da primavera. Alguns choppinhos e ela ficou mais solta, sorridente. O álcool libertava sua alma naquele instante e ela virou a cabeça e viu alguém que não via há muito tempo.

Olhares se cruzaram, sorrisos, acenos e dois minutos depois estavam se abraçando, dizendo "ah! quanto tempo!", "você sumiu, não ligou mais", "não... foi você que começou a namorar". Sorriram calados e o arrepio lhe percorreu novamente o corpo. Dessa vez com mais intensidade.

Meia hora depois despediu-se das amigas e passou na mesa do moço para dar boa noite. Dez minutos depois ele estava no carro dela.

Olhos nos olhos, beijo de tirar o fôlego. Quase se engoliram ali. O arrepio insistindo e aumentando cada vez mais. Foram para a casa dela e o elevador quase presencia o ato.

Entraram se agarrando, se beijando, como se aquela fosse a última noite, a última vez.

Roupas pelo corredor, beijos por todo o corpo. A voz dele ao pé do ouvido lhe causava calafrios, a barba na nuca fazia com que ela se contorcesse toda como uma ginasta e, ao mesmo tempo relaxasse e se entregasse.

A luz estava acesa e ele pode redescobrir todos os caminhos dela - pernas, coxas, virilha. Subiu pela barriga e parou para ouvir o coração acelerado, batendo num ritmo de quero mais, ao mesmo tempo em que ele lhe acariciava o seio. Depois ele ainda a tomou de várias formas, com várias intensidades.

E ela teve mais. Muito mais. Calafrios, arrepios, gozo e gargalhadas. Ria de si mesma, ria de prazer. Por que mesmo ela havia se fechado? Naquele momento nem se lembrava mais. Isso também não vinha ao caso. O que importava ali era saciar suas necessidades.

Ao término da aventura, se despediram e ele pediu "me liga amanhã". Ela disse que sim, claro, iria ligar, deu o último beijo e foi para o mesmo chuveiro da manhã. Enquanto a esponja apontava a sensilibilidade daquela pele que havia sido tocada há minutos atrás, lembrou-se de que não havia anotado o telefone dele. Não se importou. Aquilo, agora, não vinha mais ao caso.