Veio desde a cozinha até o quarto apagando as luzes, recolhendo roupas jogadas e objetos que estavam fora do lugar. Pensou em pendurar uma placa avisando que "objetos inanimados não se movem sozinhos" para ver se surtiria algum efeito, mas estava tão cansada que teve forças apenas para escovar os dentes e deitar.
Olhou para o lado e ele dormia profundamente.
Com um gesto de aparente carinho passou as mãos nas costas dele esperando alguma reação. Nada. Tentou se encostar de leve, envolvendo o corpo dele com pernas e braços. Nada de novo.
Suspirou e foi para sua posição de sempre, virada para o lado esquerdo. Estava muito cansada, mas não tinha nem um pingo de sono. Teve frio, teve calor, teve vontade de acordá-lo. Mas não fez nada porque um pensamento acabara de invadir sua noite.
Foi tirando vagarosamente seu pijama - primeiro a calça, as meias, tirou sua blusa e assim ficou por um minuto.
Passou delicadamente a mão pelo colo, desceu até a barriga, tocou suas coxas. Se demorou em carinhos, se perdeu em detalhes.
Suspirava baixinho a cada descoberta e, com a memória a postos, ousou toques, sentiu gostos e, por fim, sufocou um gemido.
Passado o êxtase, certificou-se de que ele não havia percebido nada, vestiu-se novamente e o sono chegou logo. Dormiu como um anjo.
No dia seguinte ele acordou com alguém assobiando, cheiro de café e pão fresco na mesa. Viu a sala arrumada e, como não compreendeu a situação, pensou: "quem entende as mulheres?".
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