terça-feira, 28 de outubro de 2008

Não ouço, não vejo, não falo


Quem lembra daquela mítica figura dos três macaquinhos sentados: um tampando os ouvidos, o outro os olhos e o último, a boca? Eles fazem parte da tradição japonesa e ornamentam a entrada de um templo sagrado do século XVII, na cidade de Nikko. Eles são Mizaru, é o que cobre os olhos, Kikazaro, o que tapa os ouvidos e Iwazaru, o que tampa a boca. Além disso, representam o provérbio: não veja o mal, não ouça o mal e não fale o mal.

Porém, em dias atuais, também pode ser traduzida como "não vejo, não ouço e não falo" - na primeira pessoa mesmo - podendo ser aplicada para tudo, principalmente nos relacionamentos. Afetivos, é claro.

O fato é que tenho percebido um certo movimento "autista" por parte de algumas pessoas e até mesmo de casais. Essa turma passou a viver num universo paralelo, num Second Life, sei lá, se recusando a encarar a realidade. É a tal cegueira das circunstâncias, que já mencionei aqui outras tantas vezes. É a mesma coisa.

O que me incomoda nisso tudo é que responsabilidades estão sendo deixadas de lado: ninguém ouve ninguém, não há diálogo e, por fim, ninguém mais se enxerga. Depois reclamam de seus parceiros, reclamam de não ter ninguém pra dividir a vida, a chatice dos dias corridos ou o colorido de um alvorecer.

Na cabeça dessas pessoas o que importa é o agora, o "meu": meu trabalho, minha vontade, minhas necessidades, minha vida. Meu mundo. Aliás, o mantra é "eu e meu mundo". Egoísmo puro. Bobagem.

O duro é que amanhã ou depois essas pessoas talvez percebam o tempo que perderam girando em torno de seu próprio umbigo. Vai faltar história, memória ou qualquer coisa de valor pra contar, ou para ter pra si próprio. Não existirão lembranças de porres com amigos ou conversas lamuriosas por causa de uma moça, nem um papo que tenha marcado, que tenha feito mudar o caminho ou rever conceitos.

Ou talvez nunca mudem e vivam achando que seu mundinho é perfeito (ou impenetrável, vai saber) e que os outros gastam tempo demais com os outros. Aliás, essa é a chave! Falta disposição para ter preocupações alheias.

Por causa da máxima "cada um com seus problemas" estamos ficando distantes uns dos outros. Aos poucos, as pessoas estão perdendo o timming do diálogo, o jeito de ouvir e a graça do olhar.

Uma pena... Porque eu, dentro do meu mundo (que é vasto e tem espaço pra todos), continuo com bons e velhos hábitos:


  • de dar bom dia, desejando que seja realmente bom.

  • de ouvir quando alguém fala comigo e dar atenção a isso.

  • de ver o mundo com olhos alegres e o coração carregado de esperança.

Eu ouço, eu vejo e eu falo!!


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Beijo a todos que têm visitado meu espaço e obrigada pelos comentários e elogios!!





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